SIDA

A SIDA, sigla da "síndrome da imunodeficiência adquirida", é uma doença infecciosa de origem viral, actualmente muito comum, de evolução crónica e grave que, caso não seja devidamente tratada, pode provocar a morte do paciente.

Causas

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A SIDA é provocada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), agente infeccioso do qual se identificaram, até agora, dois tipos: o HIV-1, presente no mundo inteiro, e o H1V-2, que se encontra circunscrito a determinadas regiões de África.

O HIV tem o seu habitar no organismo das pessoas infectadas e está presente no sangue, sémen, secreções vaginais e leite materno. O contágio produz-se quando algum destes fluidos de uma pessoa infectada entra em contacto com outra pessoa, sendo possível distinguir, essencialmente, três tipos de transmissão.

Contágio por via sanguínea. Nestes casos, o contágio produz-se através do sangue ou produtos derivados infectados. Actualmente, a maioria dos casos de contágio por via sanguínea ocorre entre os toxicodependentes de drogas de administração intravenosa, pois têm o hábito de partilharem seringas usadas, potencialmente infectadas com o HIV. Em algumas regiões do mundo, como a Europa e a América do Norte, estes indivíduos representam uma percentagem muito elevada do total de pacientes com SIDA. No início da epidemia, no começo dos anos 80, o número de contágios através de transfusões de sangue ou produtos derivados contaminados era igualmente muito elevado. Todavia, a partir do ano de 1985, começou-se a utilizar métodos que detectam e eliminam os vírus nestes produtos, o que eliminou a possibilidade, pelo menos nos países desenvolvidos, de contágio através deste procedimento. Uma outra forma de contágio por via sanguínea possível, embora pouco frequente, são as picadas e feridas acidentais com seringas, lâminas de barbear ou outros elementos pontiagudos com restos de sangue infectado.

Contágio por via sexual. Esta forma de contágio ocorre quando, no decorrer das relações sexuais, o sangue, sémen ou secreções vaginais provenientes de um indivíduo afectado penetram no organismo de outra pessoa através de uma ferida, visível ou não, na superfície cutânea ou nas mucosas. Os tipos de relação sexual que envolvem maior risco de contágio são a penetração anal e vaginal, realizadas sem preservativo, e as práticas de sexo oral. O contágio por via sexual é responsável por uma elevada incidência de SIDA nas prostitutas e prostitutos, nos jovens adultos homossexuais ou bissexuais que têm uma vida promíscua, na transmissão do HIV-2 em África e, mais recentemente, na crescente transmissão da doença na população heterossexual, sobretudo nos adolescentes, idosos e nas mulheres.

Contágio por via mãe-filho. O contágio de mãe para filho pode ocorrer em três momentos: durante a gravidez, ao longo da qual o H IV pode atravessar a placenta (20 a 40% dos casos), durante o parto e durante a amamentação, devido ao facto de o leite da mãe infectada conter quantidades significativas de HIV.

O HIV no organismo

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Após entrarem no organismo, os vírus causadores da SIDA penetram nas células com as quais têm maior afinidade, nomeadamente células do tecido nervoso e linfócitos T4, células pertencentes ao sistema imunitário que se encontram em elevadas concentrações na linfa, sangue, sémen, secreções vaginais e leite materno, o que justifica o facto de os fluidos corporais poderem transmitir a infecção.

Dado que os vírus utilizam a energia das células para os seus próprios fins, nomeadamente para se reproduzirem, a célula infectada acaba por perder a sua funcionalidade. Para além disso, ao fim de um certo período de tempo, algumas das células infectadas acabam por rebentar, o que proporciona a passagem dos vírus para o sangue, já em maior número, de modo a infectarem outras células e iniciarem novamente o seu ciclo reprodutivo.

O principal problema do HIV consiste no facto de este atacar o organismo onde menos se pode defender, afectando as próprias células defensivas. Em suma, caso a infecção não seja diagnosticada e tratada oportunamente, o mais provável é o sistema defensivo, mais tarde ou mais cedo, começar a deteriorar-se seriamente, favorecendo o desenvolvimento das infecções e tumores oportunistas que caracterizam a SIDA.

Infecção assintomática

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Por vezes, evidencia-se um processo, poucos dias após a produção do contágio, semelhante a uma gripe, com dor de cabeça, inflamação da faringe, febre e mal-estar, sinais e sintomas que desaparecem espontaneamente ao fim de uma ou duas semanas. Todavia, após esta fase inicial, que geralmente passa despercebida, a infecção adquire uma evolução assintomática, ao longo da qual as defesas do organismo conseguem controlar os vírus por um período que pode durar entre alguns meses até dezenas de anos.

Ao longo deste período assintomático, a única forma de diagnosticar a infecção consiste na realização de testes de laboratório através dos quais se pode detectar a presença no sangue dos vírus e anticorpos anti-HIV elaborados pelo organismo. Através dos testes de detecção da presença do vírus é possível obter resultados credíveis algumas semanas após a produção do contágio. Todavia, os exames que detectam os anticorpos, igualmente conhecidos como testes serológicos, apenas proporcionam resultados com alguma credibilidade entre três a seis meses após a contracção da infecção, o tempo que o organismo necessita para elaborar estes elementos defensivos.

As pessoas infectadas pelo HIV que não desenvolvem a doença são designadas portadores saudáveis do vírus ou seropositivos, devido ao facto de o resultado dos testes serológicos para detectar os anticorpos ser positivo. É muito importante ter em conta que todas as pessoas infectadas pelo HIV, tanto os portadores saudáveis como os pacientes de SIDA, podem transmitir a infecção a outras pessoas.

A evolução da infecção e a duração do período assintomático depende de vários factores, na sua maioria desconhecidos. Em primeiro lugar, é possível que exista um condicionante genético através do qual as pessoas infectadas têm um maior ou menor risco de desenvolverem a doença, podendo até não chegar a ser infectadas. Estes condicionantes poderiam justificar, por exemplo, o facto de cerca de 5% das pessoas infectadas há mais de 15 anos não terem desenvolvido a doença. Infelizmente, ainda não se identificaram estes possíveis condicionantes genéticos, o que justifica o facto de não ser fácil efectuar o prognóstico da infecção em cada caso específico.

Por outro lado, existem determinadas circunstâncias que, por diferentes razões, podem acelerar o desenvolvimento da SIDA nas pessoas infectadas. As mais importantes são a exposição a novos contágios, a repetição de infecções, como a gripe e a constipação, a falta de repouso e dieta equilibrada, o stress emocional e a gravidez.

Manifestações e evolução

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As manifestações da SIDA apenas se evidenciam quando o sistema defensivo já se encontra muito debilitado e não consegue desempenhar a sua missão adequadamente. Caso não seja devidamente tratado, este défice irreversível costuma manifestar-se alguns anos após a infecção ter sido contraída.

Uma das consequências mais importantes desta debilidade das defesas orgânicas são as infecções oportunistas, ou seja, infecções que embora não costumem afectar pessoas com um sistema imunitário eficaz, adquirem entre os indivíduos imunodeprimidos uma evolução mais duradoura e grave do que o habitual, tornando-se igualmente repetitivas. As infecções oportunistas mais comuns nos pacientes com SIDA são determinados tipos de pneumonia, como a provocada pelo protozoário Pneumocystis carinii, a toxoplasmose, a tuberculose (sobretudo as suas formas extrapulmonares), a candidíase esofágica e vários tipos de infecções intestinais e cutâneas. É igualmente frequente o aparecimento de determinados tipos de tumores malignos oportunistas, nomeadamente o sarcoma de Kaposi, um cancro da pele e mucosas, e de alguns tipos específicos de linfomas.

Uma outra consequência importante da debilidade do sistema defensivo são as infecções persistentes provocadas pelos próprios vírus da SIDA em diversos órgãos, sobretudo o encéfalo e o intestino, que podem gerar inúmeras manifestações neurológicas, diarreias e uma progressiva perda de peso.

Caso não seja devidamente tratada, a doença evolui de forma irreversível, tendo um prognóstico muito desfavorável, já que pode provocar, a curto ou médio prazo, a morte do paciente.

Tratamento

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Embora ainda não exista um procedimento que proporcione a eliminação dos vírus do organismo das pessoas infectadas e a cura definitiva da doença, nos últimos anos, têm sido desenvolvidos vários tipos de medicamentos anti-virais, cuja administração conjunta durante prolongados períodos de tempo proporciona a travagem da reprodução dos vírus, a obtenção de uma evidente e segura recuperação do sistema defensivo e garante uma excelente melhoria da qualidade de vida. A eficácia é tão elevada que, para além de serem utilizados nos pacientes com SIDA, estes medicamentos são igualmente prescritos aos portadores saudáveis, como forma de prevenção.

Deve-se referir que, embora sejam muito benéficos, estes medicamentos geram consideráveis efeitos secundários e não mantêm a sua eficácia a longo prazo, o que justifica o facto de serem regularmente substituídos. Para além disso, o seu custo económico é de tal forma elevado que apenas beneficia uma pequena proporção dos pacientes de todo o mundo.

Uma outra parte fundamental do tratamento da SIDA consiste na prevenção e tratamento das infecções e tumores oportunistas, que costuma necessitar de hospitalização.

Informações adicionais

Dos primeiros casos à epidemia

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Aparentemente, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) é provocado pela mutação de um vírus similar que infecta e gera uma doença semelhante à SIDA em determinadas tribos da África tropical. É muito provável que, entre os humanos, a SIDA também tenha surgido na mesma região, embora os primeiros casos não tenham sido detectados nem diagnosticados.

Os primeiros casos diagnosticados de SIDA ocorreram em 1980, nos Estados Unidos da América, e alguns meses depois foram detectados novos casos nesse mesmo país e na Europa Ocidental. Estes casos de SIDA provocaram um grande alvoroço na comunidade científica e uma grande preocupação entre os grupos de pessoas mais afectadas no início da epidemia desses países: hemofílicos, toxicodependentes de drogas de administração intravenosa e jovens adultos homossexuais e bissexuais.

Devido ao desconhecimento do agente causador e dos seus mecanismos de transmissão, ao longo dos primeiros anos não foi possível elaborar uma estratégia de prevenção, o que proporcionou o aumento significativo do número de casos da doença, à medida que começava a alastrar-se por todo o mundo, adquirindo as características de uma pandemia.

Graças ao enorme esforço dedicado à investigação científica, em 1984, conseguiu-se identificar o agente causador do problema e, um ano depois, já se tinham desenvolvido exames para detectar os vírus e os anticorpos que provocam a infecção no sangue. Esta descoberta possibilitou a elaboração e o desencadeamento de uma série de estratégias para prevenir a propagação da infecção. Estas políticas de prevenção tiveram excelentes resultados nos países desenvolvidos, onde existem os recursos económicos e sanitários necessários, pois permitiu-lhes refrear, até um certo ponto, o grau de disseminação da infecção. Todavia, nos países em vias de desenvolvimento, nos quais não existe uma estrutura de assistência mínima, a infecção continuou a propagar-se ininterruptamente de forma exponencial até aos nossos dias.

De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), no final de 1998, existiam cerca de 33,4 milhões de pessoas infectadas com o HIV em todo o mundo, distribuídas da seguinte forma: 22,5 milhões na África a sul do Saara; 6,7 milhões na Ásia do Sul e Sul oriental; 1,4 milhões na América Latina; 890 000 na América do Norte; 500 000 na Europa Ocidental; 560 000 na Ásia Oriental e Pacífico; 330 000 nas Caraíbas; 210 000 na África do Norte e Médio Oriente; 270 000 na Europa Central e Ásia Central e 12 000 na Austrália e Nova Zelândia.

O médico responde

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Quais as pessoas que se devem submeter a testes para a detecção da infecção pelo vírus da SIDA?

Até há alguns anos existia uma certa polémica em relação às pessoas que deviam submeter-se a este exame, especialmente porque a confirmação da infecção provocava um grande choque psicológico, já que, antigamente, as possibilidades de realização de um tratamento minimamente eficaz eram muito reduzidas. Por outro lado, actualmente, como existe um tratamento eficaz, convém que as pessoas com antecedentes de toxicodependência de drogas de administração intravenosa ou de uma vida sexual promíscua e, normalmente, todas as que tenham dúvidas ou receios a esse respeito, se submetam ao teste o mais rapidamente possível, embora sempre com a indicação prévia de um médico.

Medidas preventivas

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Dado que, actualmente, não existe uma vacina eficaz contra a SIDA, a preservação passa por uma série de medidas destinadas a prevenir o contágio.

A prevenção do contágio por via sanguínea baseia-se na realização de uma série de controlos, de modo a garantir que o sangue e os produtos derivados destinados a transfusões não estejam contaminados com o HIV. Para além disso, deve-se promover a desintoxicação e recuperação dos toxicodependentes de drogas de administração intravenosa ou, pelo menos, deixarem de utilizar seringas usadas.

A prevenção do contágio por via sexual consiste na adopção de uma série de medidas designadas "sexo seguro", como por exemplo evitar ou, pelo menos, reduzir os contactos sexuais com outra pessoa que não seja a sua parceira habitual ou, caso isso não aconteça, utilizar preservativos na penetração vaginal ou anal e evitar o contacto do sémen e das secreções vaginais com a cavidade oral.

Por fim, a prevenção do contágio via mãe-filho passa pelas mulheres infectadas pelo HIV não ficarem grávidas ou, caso isso aconteça, pela planificação da interrupção terapêutica da gravidez, de modo a evitar o nascimento de um bebé infectado.

Para saber mais consulte o seu Infecciologista ou o seu Médico Internista
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