A administração de medicamentos por via rectal tanto se pode efectuar para se obter uma acção local como para se conseguir um efeito sistémico, já que o número de medicamentos absorvidos através da mucosa do intestino grosso é elevado.
Generalidades
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A introdução de produtos farmacológicos no recto, através do ânus, tem duas funções diferentes, independentemente de ser local ou geral. Quando se recorre à administração por via rectal com o intuito de se obter uma acção local, pretende-se que a mesma proporcione um efeito terapêutico limitado na última porção do intestino grosso, à base de supositórios e enemas, de modo a estimular a defecação, aos quais se recorre para combater a obstipação, ou de pomadas analgésicas e anti-inflamatórias utilizadas para aliviar a dor e atenuar as inflamações da zona. Por outro lado, quando é utilizada para se obter uma actuação sistémica, a administração por via rectal baseia-se no facto de existirem inúmeras substâncias farmacológicas que conseguem atravessar as paredes do intestino grosso, cuja boa capacidade de absorção propicia a sua passagem para a circulação sanguínea, onde são transportados pelo sangue a todo o organismo, como é o caso dos supositórios antipiréticos administrados para baixar a febre e dos que são constituídos por determinados antibióticos eficazes no combate a algumas infecções. Costuma-se recorrer a esta via de administração, sobretudo, quando não é possível recorrer-se à via oral, devido ao facto de os medicamentos utilizados terem um odor ou sabor desagradável, caso o paciente evidencie náuseas ou vómitos que dificultem ou impeçam a sua ingestão pela boca e caso se utilizem produtos que possam ser alterados pelos sucos digestivos do estômago ou intestino delgado ou, ainda, quando existe falta de cooperação do paciente para a administração oral, um caso típico nos bebés.
Administração de supositórios
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Os supositórios são produtos farmacêuticos sólidos com forma cónica, semelhantes a uma bala, que devem ser introduzidos no recto através do ânus e que são basicamente constituídos por alguma substância que derreta à temperatura do interior do corpo, como a glicerina ou a manteiga de cacau, à qual se deve adicionar vários princípios activos. Caso sejam mantidos à temperatura ambiente ou no interior do congelador costumam conservar a sua forma sólida, mas quando estão no interior do recto e expostos ao calor do corpo, derretem-se e libertam as substâncias medicamentosas que contêm no seu interior.Antes de se utilizar um supositório guardado à temperatura ambiente, deve-se comprovar o seu estado, já que pode estar mole e deformado devido ao efeito do calor. Neste caso, antes de se retirar o revestimento, deve-se colocá-lo, por alguns instantes, debaixo do jacto de água de uma torneira ou no frigorífico até que solidifique e adopte uma consistência adequada.Técnica. Para se proceder à administração de um supositório, o paciente deve colocar-se deitado sobre o seu lado esquerdo, com a perna esquerda esticada e a direita flectida. Depois de se retirar o supositório do revestimento, deve-se lubrificar a sua ponta com um gel hidrossolúvel com o intuito de facilitar a sua introdução. Depois, deve-se separar, com uma mão, as nádegas do paciente para que o ânus fique bem exposto, pedir ao paciente que inspire profundamente e introduzir, com a outra mão, o supositório pela ponta, menos larga, empurrando-o cerca de 5 cm, de modo a penetrar no esfíncter anal e ficar retido no recto. Em seguida, deve-se soltar e juntar as nádegas várias vezes para favorecer a introdução do supositório e, depois, mantê-las apertadas até que desapareça o desejo reflexo de defecar, uma precaução extremamente importante, sobretudo nos bebés mais novos. Por fim, deve-se limpar o excesso de lubrificante da região anal com uma gaze.excepção dos casos em que o supositório é administrado para se conseguir obter um efeito laxante, deve-se evitar as defecações até que o mesmo se tenha derretido totalmente e libertado os princípios activos, o que leva cerca de vinte minutos.
Administração de enemas
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Um enema, ou clister, consiste na introdução de uma determinada quantidade de líquido no interior do ânus com diferentes finalidades, embora seja essencialmente para amolecer as fezes e facilitar a sua evacuação, independentemente de ser para combater a obstipação ou como preparação para a realização de algum procedimento diagnóstico ou terapêutico e para a administração de vários medicamentos de acção local ou sistémica.A realização de um enema necessita de um equipamento básico composto por um depósito graduado, onde se deve colocar o líquido que vai ser administrado, constituído com um regulador para moderar o fluxo, que se encontra unido a um tubo flexível que deve ser, por sua vez, ligado a uma cânula rectal. De qualquer forma, também se pode recorrer à utilização de um equipamento descartável constituído por uma bolsa de plástico e um tubo flexível, o qual deve ser adaptado a uma cânula rectal, para além de uma pinça para regular o fluxo do líquido, que neste sistema deve ser cheia com a solução indicada pelo médico ou conter um composto comercial.Técnica. A administração de um enema necessita que o paciente se coloque deitado sobre o lado esquerdo, com a perna esquerda estendida e a direita flectida. Em primeiro lugar, deve-se encher o depósito com o produto indicado pelo médico na quantidade prescrita e comprovar a sua temperatura, pois deve estar morno, entre os 37°C e os 40°C. Em seguida, deve-se aplicar um pouco de gel hidrossolúvel na ponta da cânula rectal, para facilitar a sua introdução no ânus, e proceder à limpeza do sistema, ao verter-se um pouco de líquido num recipiente com vista a assegurar-se de que o ar é totalmente eliminado, devendo-se fechar, em seguida, o regulador do depósito ou colocar uma pinça no tubo. Depois de tudo preparado, deve-se subir o depósito cerca de 50 cm acima do nível do ânus do paciente, colocá-lo num suporte caso não conte com a ajuda de um colaborador que o mantenha nessa posição e proceder à introdução da cânula rectal. Em seguida, deve-se separar, com uma mão, as nádegas do paciente para que o ânus fique exposto e pedir ao paciente que se mantenha imóvel e inspire profundamente, para depois introduzir suavemente, com a outra mão, a ponta da cânula cerca de 15 cm, até que chegue ao recto. Em seguida, deve-se começar a administração da solução, controlando-se a sua entrada através do regulador do sistema ou modificando a altura do recipiente. Caso se pretenda reduzir a velocidade, deve-se baixar o depósito. Quando se detectar que a solução está a chegar ao fim, deve-se fechar o regulador do depósito ou apertar o tubo, para que não passe ar, e finalmente retirar a cânula. O paciente deve tentar reter o líquido durante, pelo menos, 5 a 10 minutos, caso se trate de um enema de limpeza, ou até mais, em caso de enema medicamentoso.
Informações adicionais
O médico responde
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Pode-se partir um supositório, caso a dose indicada pelo médico seja inferior a uma unidade?
Sim, mas sempre e quando o supositório possa ser dividido no sentido longitudinal, através da ranhura existente para esse fim, de forma a ser dividido de maneira equivalente à quantidade de princípios activos acumulada na ponta. Caso seja necessário administrar uma quantidade de medicamento inferior à presente num supositório inteiro e o composto não tenha uma ranhura para a sua divisão, o melhor é solicitar um na farmácia que contenha exactamente a dose prescrita.
Administração de pomadas rectais
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As pomadas aplicadas no interior do recto através do ânus têm uma composição muito diferente e costumam ser utilizadas em situações muito distintas. Costumam ser administradas através de um aplicador, semelhante a uma cânula cónica, proporcionado em cada caso pelo fabricante, de modo a adaptar-se especificamente à embalagem do medicamento. Depois de se introduzir suavemente o aplicador através do ânus cerca de 5 cm, para que a extremidade atravesse o canal anal e chegue ao recto, deve-se espremer a embalagem de modo a impulsionar o medicamento. Por fim, deve-se retirar o aplicador e limpar os restos de pomada existentes na região anal com uma gaze.