A ingestão acidental de substâncias cáusticas e consequentemente corrosivas, como muitos dos produtos de limpeza presentes na maioria dos lares, pode provocar intoxicações de graves consequências.
Generalidades
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Existem inúmeros produtos, tanto no âmbito industrial como no doméstico, cujo elevado poder corrosivo, dada a sua extrema acidez ou alcalinidade, provoca a destruição dos tecidos orgânicos com que, acidentalmente, entram em contacto. As pessoas costumam utilizar, nas suas casas, vários produtos deste tipo para limpeza e desinfecção, como por exemplo o óxido de sódio cáustico, o óxido de potássio cáustico, a lixívia, o amoníaco líquido ou os denominados detergentes iónicos. A causticidade destes produtos faz com que, tanto o contacto cutâneo como a sua ingestão ou mesmo a inalação das suas emanações possam provocar danos nos tecidos expostos. A sua gravidade depende, naturalmente, da concentração ou pureza do produto, da sua quantidade e tempo de exposição e, como é óbvio, do tecido afectado.Por exemplo, caso se lave a loiça com lixívia pura e sem luvas, a pele das mãos costuma ficar irritada e esfolada. Para além disso, as emanações de amoníaco costumam provocar ardor nos olhos, irritação das mucosas respiratórias e tosse. Nestes casos, deve-se parar a tarefa que se está a realizar e, caso seja necessário, aplicar abundante água sobre a lesão cutânea ou nos olhos. Por outro lado, pode-se prevenir estes pequenos efeitos tóxicos através da adopção de determinadas precauções, como por exemplo diluir-se estes produtos antes da sua utilização, utilizar luvas, evitar o contacto directo e colocar uma máscara no rosto para filtrar as emanações.Todavia, as consequências mais graves são provocadas pela ingestão de algum produto cáustico, normalmente de forma acidental. Neste caso, as lesões afectam essencialmente o tubo digestivo e muito especificamente o esófago e o estômago, que podem até ser perfurados. Estas intoxicações necessitam de um diagnóstico e tratamento imediatos, já que perante uma eventualidade deste tipo, deve-se transferir urgentemente o paciente para um hospital, devendo-se igualmente conservar a embalagem ou uma amostra do produto ingerido.Embora não pareçam, as intoxicações por cáusticos constituem uma das causas mais frequentes de acidentes domésticos na infância e a melhor maneira de os prevenir consiste em guardar estes produtos de forma a que as crianças não lhes tenham acesso. Deve-se igualmente conservá-los nas suas embalagens originais ou, caso não seja possível, etiquetá-los de forma correcta e clara, pois por vezes são os próprios adultos a ingeri-los por equívoco.
Tipos e manifestações
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O óxido de sódio cáustico e o óxido de potássio cáustico, respectivamente hidróxidos de sódio e de potássio, são substâncias altamente alcalinas utilizadas na limpeza de superfícies e de tubagens, tanto no âmbito doméstico como industrial. A ingestão acidental destes produtos é muito grave, já que provoca lesões imediatas no esófago e estômago, nomeadamente queimaduras extensas profundas, que se manifestam através de uma intensa dor no peito e na parte superior do abdómen e por vómitos sanguinolentos constituídos por restos de tecidos. Para além disso, caso a mucosa esofágica e gástrica seja muito afectada, pode propiciar a perfuração de um destes órgãos, com temíveis consequências. Por outro lado, as lesões podem deixar como sequela o estreitamento do esófago que, provavelmente, irá necessitar de um posterior tratamento cirúrgico reparador.A lixívia é uma solução de sais alcalinos muito utilizada na limpeza e desinfecção de superfícies e chãos, tanto no âmbito doméstico como industrial. Embora a sua ingestão também provoque queimaduras no esófago e estômago, normalmente menos extensas e profundas, já que a lixívia é menos alcalina do que o óxido de sódio ou o óxido de potássio cáusticos, quando entra em contacto com os sucos gástricos forma um ácido hipocloroso, um líquido altamente irritante que pode provocar o desenvolvimento de úlceras nas mucosas digestivas e, caso atravesse as vias respiratórias, originar um edema do pulmão.O amoníaco líquido é uma solução altamente alcalina e volátil obtida a partir de água e amoníaco, um gás incolor de cheiro penetrante. O amoníaco líquido é utilizado para a limpeza e desinfecção de vários tipos de superfícies e tecidos, como chãos, carpetes e tapetes. Embora a sua ingestão se caracterize por provocar queimaduras extensas e profundas no esófago e estômago, o amoníaco também pode originar tosse e expectorações sanguinolentas, quando é inalado ou aspirado.Os detergentes iónicos costumam ser utilizados na lavagem da roupa e da loiça. Embora o seu grau de alcalinidade varie, é quase sempre inferior ao do amoníaco líquido. Para além disso, estes produtos são, por vezes, constituídos por outras substâncias, como por exemplo essência de pinheiro ou outros aromatizantes. A ingestão de detergentes iónicos também pode provocar lesões no esófago e estômago, cuja gravidade irá depender do grau de alcalinidade do produto e da quantidade ingerida. Todavia, a presença de outras substâncias adicionais pode provocar reacções tóxicas noutros órgãos e sistemas. Por exemplo, a ingestão e absorção de essência de pinheiro pode provocar uma evidente depressão do sistema nervoso central que, nos casos graves, costuma provocar a morte da vítima.
Informações adicionais
Tratamento
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A primeira coisa a fazer em caso de intoxicação por ingestão de produtos cáusticos é a imediata transferência da vítima para um centro de saúde para que possa receber o devido tratamento. À semelhança de todas as outras intoxicações por via digestiva, nunca se deve tentar a indução do vómito, já que caso o produto tóxico tenha provocado danos no esófago, a sua nova passagem pelo mesmo órgão em direcção ao exterior iria agravar as lesões. Pode-se facilitar a tarefa do corpo médico através do fornecimento do máximo de informação possível sobre o incidente ocorrido: o tipo de substância ingerida e, caso seja possível, a marca do produto (o melhor é conservar a embalagem ou uma amostra), a quantidade ingerida e o tempo ocorrido desde a sua ingestão.
A partir do momento em que o paciente se encontra no hospital, o tratamento consiste na eliminação ou neutralização da substância tóxica, alívio dos sinais e sintomas e prevenção das complicações mais graves, sobretudo a perfuração do esófago ou do estômago e o desenvolvimento de um choque devido às abundantes hemorragias. De início, deve-se proceder à administração de substâncias neutralizadoras, caso seja oportuno, bem como soros e medicação por via intravenosa (por exemplo, corticosteróides, para diminuir a inflamação provocada pelas lesões, ou antibióticos, para prevenir as infecções), com vista a realizar-se posteriormente uma endoscopia para avaliar os danos, administrar várias substâncias e controlar a evolução.
O médico responde
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Caso se produza uma intoxicação acidental por cáusticos, deve-se oferecer algumas substâncias à vítima, de modo a tentar-se neutralizar o produto?
Apesar de, teoricamente, constituir uma medida benéfica, devido ao facto de um ácido conseguir neutralizar um álcali e vice-versa, na prática envolve um grande risco, já que a sua combinação pode gerar reacções químicas e uma consequente produção de calor que iria agravar as lesões já produzidas pelo próprio acidente. Em suma, apenas se deve adoptar esta medida, caso o médico indique especificamente qual o neutralizante a administrar em cada caso. Se possível, deve-se oferecer água à vítima, pois assim pode-se diluir o cáustico presente no tubo digestivo e atenuar os seus efeitos.