Intoxicação por cogumelos

Apesar da sua aparência atractiva, algumas espécies de cogumelos são venenosas e constituídas por substâncias nocivas que podem provocar uma intoxicação grave e até a morte.

Generalidades

Topo Embora o consumo da maioria dos cogumelos existentes seja inofensivo para o ser humano, existem algumas espécies constituídas por substâncias tóxicas, cuja penetração no organismo, por via digestiva, provoca o desenvolvimento de efeitos nocivos nos diferentes tecidos. Apesar de, ao longo dos anos, se ter tentado definir formas muito diferentes para se conseguir distinguir os cogumelos comestíveis dos venenosos, nenhuma é segura e, embora muita gente acredite, erradamente, que se pode basear em regras viáveis para estabelecer essa distinção, a única maneira de garantir que um determinado tipo de cogumelo é comestível no momento da colheita é o seu conhecimento prévio. De facto, o desconhecimento e as citadas convicções erradas, mais do que as eventuais confusões, constituem as principais causas de intoxicação por cogumelos venenosos, um problema relativamente frequente, sobretudo, nas regiões de floresta onde crescem cogumelos silvestres e onde o hábito de colheita e consumo é muito comum.

Manifestações

Topo Embora a maioria dos cogumelos venenosos seja insípida ou tenha um sabor desagradável, não costumam provocar intoxicações graves, pois não são consumidos; existem outros cuja ingestão é agradável e, quer seja por terem um aspecto atraente ou semelhante a outros comestíveis, são muito tentadores, originando com alguma frequência quadros de intoxicação. Os sinais e sintomas da intoxicação costumam começar a manifestar-se algumas horas após a ingestão, sendo na maioria dos casos ligeiros, pois desaparecem espontaneamente num ou dois dias. Todavia, as manifestações são mais graves quando se consome uma quantidade significativa de cogumelos venenosos e, sobretudo, se se tratar de uma espécie altamente tóxica, já que, caso não se proceda ao tratamento oportuno, a intoxicação pode provocar a morte da vítima. Em seguida, iremos mencionar os principais tipos de manifestações características da intoxicação por cogumelos venenosos, embora se deva destacar que não são as únicas e que, por vezes, evidenciam-se de maneira combinada.

Manifestações gastrointestinais. A ingestão de diferentes espécies de cogumelos venenosos, nomeadamente as pertencentes aos géneros Russula, Clitocybe, Scleroderma, Entoloma, Lactarius, Tricholoma e Agaricius, provoca essencialmente uma gastrenterite brusca, ou seja, uma inflamação brusca da mucosa que reveste a mucosa gástrica e do intestino delgado. Os sinais e sintomas costumam evidenciar-se entre uma a quatro horas após a ingestão dos cogumelos, sendo os mais comuns as náuseas, os vómitos, a dor abdominal e a diarreia. Embora estas manifestações costumem desaparecer de forma espontânea ao fim de um a três dias, nos casos graves podem conduzir a uma perigosa desidratação.

Síndrome muscarínica. Alguns cogumelos, sobretudo os pertencentes aos géneros Inocybe e Clitocybe, são constituídos por muscarina, um alcalóide que provoca efeitos semelhantes, mesmo os mais potentes, aos da acetilcolina, um neurotransmissor do sistema nervoso simpático. O seu consumo origina um quadro de intoxicação caracterizado precisamente por um exagero nesses efeitos. As manifestações evidenciam-se 30 a 90 minutos após a ingestão dos cogumelos tóxicos e consistem essencialmente no aparecimento de sensação de calor, lacrimejar, notório aumento da salivação e suores, contracções das pupilas e, por vezes, náuseas, vómitos e diarreias.

Manifestações hepáticas. A ingestão de algumas espécies de cogumelos pertencentes ao género Amanita, sobretudo a A. phalloides, e outros relativos aos géneros Lepiota e Galerina, provoca um dos tipos de intoxicação por cogumelos mais grave, devido aos efeitos de dois tóxicos denominados amanitina e faloidina. Os sinais e sintomas iniciais evidenciam-se seis a dezoito horas após a ingestão e correspondem a náuseas, vómitos e diarreia de grande intensidade. As manifestações mais evidentes aparecem cerca de dois dias depois e reflectem a perigosa afectação produzida pelos tóxicos no fígado, como icterícia e escurecimento da urina e possíveis sinais e sintomas de envolvimento neurológico, renal e cardíaco.

Manifestações cardiovasculares. Dado que as espécies Coprinus atarmentarius e Clitocybe clavipes são constituídas por uma substância tóxica que interage com o álcool, caso sejam consumidas com bebidas alcoólicas podem originar uma intoxicação. Embora as manifestações possam surgir 30 minutos após a ingestão dos cogumelos, por vezes apenas se manifestam alguns dias depois. Em qualquer dos casos, os principais sinais e sintomas são náuseas, vómitos, vermelhidão da pele da metade superior do corpo (sobretudo face e pescoço), acessos de calor, secura bucal, palpitações e hipotensão arterial.

Manifestações renais. O consumo de determinados cogumelos pertencentes ao género Corinarius provoca uma intoxicação que afecta, sobretudo, os rins e que se começa a manifestar ao fim de três a dezassete dias através de uma sede intensa, um aumento pronunciado do volume e frequência das micções e o desenvolvimento de uma insuficiência renal progressiva.

Informações adicionais

Cogumelos alucinogénios

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Algumas espécies de cogumelos, nomeadamente a Amanita moscaria, a Amanita pantherina e outras pertencentes aos géneros Paneolus e Psi locybe, são constituídas por toxinas cuja acção no sistema nervoso central provoca falta de coordenação, um estado eufórico semelhante à embriaguez, confusão mental e alucinações. O consumo deste tipo de cogumelos fazia parte, tradicionalmente, dos rituais religiosos ou místicos de determinadas populações como ainda acontece em algumas tribos indígenas da América Central. Todavia, como se descobriu, nas últimas décadas, que os cogumelos provocam efeitos alucinogénios, o seu consumo difundiu-se mais como uma variante da toxicodependência. Em qualquer caso, independentemente da razão que leva ao seu consumo, deve-se referir que a ingestão destes cogumelos provoca um quadro de intoxicação que pode originar complicações psiquiátricas graves e irreversíveis.

Tratamento

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Embora a intoxicação por cogumelos venenosos seja ligeira, na maioria dos casos, sempre que suspeite da ingestão destes produtos deve-se dirigir às urgências de um centro de saúde, já que o seu diagnóstico prematuro e tratamento oportuno diminuem a gravidade das manifestações ou o desenvolvimento de complicações potencialmente mortais. Caso os sinais e sintomas se manifestem subitamente, a primeira medida a adoptar, mesmo antes de o paciente receber assistência médica, é a provocação do vómito, pois durante as primeiras quatro horas após a ingestão, as substâncias tóxicas permanecem no estômago, devendo-se eliminá-las o mais rápido possível para que não sejam absorvidas pelo organismo. Para se provocar o vómito, pode-se recorrer à típica manobra baseada na introdução dos dedos na garganta, a ingestão de água morna ou a administração de produtos indutores do vómito ou xarope de ipecacuanha.

No centro de saúde, costuma-se recorrer à administração de purgantes e à realização de uma lavagem gástrica, de modo a proceder-se à eliminação das substâncias venenosas, que deve ser complementada com a aplicação das medidas adequadas em cada caso para se aliviar as manifestações e prevenir as complicações. Em alguns casos, existem antídotos específicos, como a atropina em caso de síndrome muscarínica, cuja administração, desde que realizada a tempo, possibilita a prevenção dos efeitos da intoxicação, sendo por isso que se deve, sempre que possível, conservar uma amostra dos cogumelos ingeridos.

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