Apesar de as consequências de uma descarga eléctrica dependerem das alterações provocadas pela passagem da corrente e pelo calor gerado no tecidos orgânicos, existem muitos casos em que originam a morte da vítima.
Generalidades
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Como os tecidos orgânicos são, dado o seu elevado conteúdo em água e sais, bons condutores de electricidade, o contacto acidental e em determinadas condições com uma fonte eléctrica pode provocar a passagem da corrente através do corpo, o que consequentemente origina inúmeros problemas de diversa gravidade, desde simples queimaduras até à morte por paragem cardiorrespiratória. Contudo, as consequências destas descargas dependem de diferentes variáveis, tanto das características da própria corrente (tipo, intensidade, tensão) como de factores circunstanciais e individuais.Por exemplo, como a corrente contínua é muito menos prejudicial do que a corrente alterna, o perigo desta é inversamente proporcional à sua frequência, visto que enquanto os efeitos da corrente de utilização doméstica, de 50 ciclos, são muito perigosos, a corrente utilizada na diatermia tem, por exemplo, uma frequência tão elevada que é inofensiva. Em relação à intensidade, as mais perigosas são as descargas de corrente entre os 80 miliamperes e os 3 amperes, já que as probabilidades de provocarem problemas cardíacos ou uma paragem respiratória são maiores do que outras descargas abaixo ou acima destes valores. Em relação à tensão, as correntes com menos de 24 V são inofensivas, as que ultrapassam os 50 V não costumam ser graves, as correntes de utilização doméstica, de 110 a 220 V, são perigosas, enquanto que as superiores a 500 V apenas não provocam a morte das vítimas em raras excepções. Um outro factor muito importante é a duração da descarga, sempre perigosa quando ultrapassa um segundo, caso a intensidade e a tensão sejam suficientes para provocar danos.Para além disso, as circunstâncias em que se produz o contacto com a fonte eléctrica e algumas condições inerentes à vítima podem igualmente ter alguma influência. Por exemplo, como uma pele seca oferece resistência à passagem da corrente eléctrica, de várias dezenas de milhares de ohms, muito maior do que uma pele que esteja húmida, condição em que diminui para os poucos milhares de ohms, é muito mais perigosa uma descarga produzida enquanto se manipula um aparelho eléctrico com as mãos humedecidas de suor e, sobretudo, caso se tenha o corpo molhado ou caso o acidente se produza no duche ou directamente num meio aquático. É igualmente diferente tocar um cabo descarnado com a ponta de um dedo do que agarrá-lo com a mão. Para além disso, existem factores individuais muito curiosos, como a habituação, já que as pessoas cuja profissão os habituou a receberem pequenas descargas eléctricas têm uma maior resistência, e o estado de ânimo, já que quem está prevenido para a hipótese de poder receber uma descarga eléctrica resiste muito mais do que quem a recebe de surpresa.
Electrocussão
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Apenas ocorre uma electrocussão caso a corrente penetre no organismo, o atravesse e saia por outro ponto, não bastando estar em contacto com uma fonte de electricidade. Não existe electrocussão, por exemplo, caso uma pessoa que toque um cabo eléctrico com uma mão calce sapatos com sola de borracha, um material isolador, e nenhuma outra parte do corpo esteja em contacto com algum material condutor de electricidade. Por outro lado, a corrente atravessa o seu corpo se estiver descalço ou calce sapatos com sola de couro e também caso algum ponto do seu corpo esteja em contacto com um elemento condutor. Neste caso, as consequências dependem, sobretudo, da trajectória da corrente, que passa sempre pelos tecidos que lhe oferecem menos resistência, em função do ponto de entrada e de saída. Por exemplo, caso a corrente passe entre uma mão e o pé do mesmo lado, é possível que, ao longo do seu percurso, não afecte o funcionamento de nenhum órgão vital, enquanto que caso passe entre uma mão e o pé do lado contrário ou entre ambas as mãos, o mais provável é que, ao longo da sua trajectória, encontre o coração.Como a corrente tem a tendência para passar pelos tecidos que lhe oferecem menos resistência, como os vasos sanguíneos, através dos quais circula o sangue, e pelos músculos, devido ao seu elevado conteúdo aquoso, ao longo do seu percurso pode provocar vários tipos de efeitos. Por exemplo, a passagem da corrente pelos tecidos costuma proporcionar um evidente aumento da temperatura, com as consequentes queimaduras, normalmente mais intensas nos pontos de entrada e de saída, mas por vezes também extensas no interior do organismo, sobretudo nos músculos que atravessa. Por outro lado, a corrente tem, sobretudo nos músculos, um efeito muito específico, já que provoca a sua contracção, sendo por isso que uma pessoa que toque um cabo descarnado com a palma da mão de certeza que ficará presa ao mesmo sem se conseguir soltar. Pelo mesmo motivo, caso a corrente passe pelos músculos encarregues da respiração e provoque a contracção espasmódica dos mesmos pode originar uma paragem respiratória. Uma outra possível causa de paragem respiratória na pessoa electrocutada é a passagem da corrente pelo encéfalo, pois caso afecte o cérebro irá provocar uma perda de consciência, enquanto que caso passe pelo tronco cerebral, no qual está situado o centro controlador da respiração, irá provocar uma paragem respiratória. No entanto, o principal perigo evidencia-se quando a corrente passa pelo coração, pois costuma alterar o seu funcionamento, proporcionando um quadro de fibrilhação ventricular ou uma paragem dos movimentos cardíacos, já que a paragem cardíaca é a principal causa de morte nas pessoas electrocutadas.
Informações adicionais
O médico responde
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De vez em quando ouve-se falar de pessoas que faleceram devido a uma descarga eléctrica de um raio. Como se deve agir para prevenir esta tragédia quando se está no meio de uma tempestade ao ar livre?
Como o relâmpago é uma descarga eléctrica, embora de breve duração, com uma enorme voltagem e intensidade, caso caia sobre uma pessoa pode provocar um grave quadro de electrocussão conhecido como 'fulguração" ou 'fulminação". Caso ocorra uma tempestade com grande intensidade eléctrica quando se está no campo, deve-se evitar a proximidade de elementos que atraiam os raios, como as árvores, postes ou pontes metálicas, deitando-se no chão ou pondo-se de cócoras, rodeando os joelhos com os braços e mantendo a cabeça baixa. Caso a tempestade ocorra enquanto se viaja de automóvel, deve-se sair e tomar as mesmas precauções.
Electrocussão: primeiros socorros
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A ntes de se prestar primeiros socorros a uma vítima de electrocussão, deve-se certificar de que a mesma já não se encontra em contacto com a fonte de electricidade.
• Deve-se interromper de imediato a corrente, independentemente de ser ao desligar o quadro geral ou ao desligar o aparelho responsável pela descarga (1).
• Caso não se possa proceder à medida anterior, deve-se separar a vítima do cabo ou aparelho eléctrico com a ajuda de um instrumento de material não condutor, como o cabo de uma vassoura, uma cadeira ou qualquer elemento de madeira ou de plástico, após se ter previamente colocado sobre uma superfície seca de material isolador (madeira, jornais, plástico), se não se tiver calçados sapatos com sola de borracha (2).
• Depois de se cortar a electricidade, deve-se verificar as funções vitais do indivíduo afectado e proceder a uma reanimação cardiovascular, caso manifeste paragem cardiorrespiratória (3) ou mantendo-o na posição lateral de segurança até à chegada da assistência médica, em caso de coma.
Queimaduras eléctricas
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Caso a electricidade atravesse tecidos orgânicos que lhe ofereçam uma certa resistência, proporciona um efeito calorífico que pode provocar queimaduras de diferente gravidade. Como a pele é um tecido que oferece uma maior resistência, a electricidade costuma provocar queimaduras nos pontos de entrada e saída da corrente, onde é possível observar lesões circulares de tonalidade esbranquiçada ou carbonizadas de aproximadamente 1 cm de diâmetro. Todavia, como a electricidade também pode provocar queimaduras internas de maior extensão, sobretudo nas massas musculares, que não são visíveis a partir do exterior e que se podem agravar nas horas seguintes ao acidente, todo o quadro de electrocussão necessita sempre do devido acompanhamento médico.