Desenvolvimento da linguagem

O desenvolvimento da linguagem, o principal meio de comunicação do ser humano, necessita de um suficiente amadurecimento do sistema nervoso e de uma longa aprendizagem, que se inicia nos primeiros meses de vida.

Definir as bases

Topo A primeira forma de comunicação do bebé corresponde ao choro, o seu meio de expressão quando quer comer, quando está incomodado com frio ou calor, quando se sente sozinho e quer companhia, ou seja, inúmeras mensagens muito variadas que os adultos vão, embora com algumas dificuldades, gradualmente aprendendo a interpretar. Ao fim de alguns meses, surge uma outra forma de comunicação, o riso, que o bebé utiliza para expressar alegria e, sobretudo, como um meio de chamar a atenção e estabelecer contacto com os adultos... Entretanto, vão-se sedimentando, em simultâneo, as bases para uma forma muito mais elaborada de comunicação, a linguagem oral, que necessita de um maior nível de amadurecimento neurológico e, sobretudo, de uma longa aprendizagem.

Em primeiro lugar, o bebé tem de compreender que as pessoas comunicam através de uma certa forma de emissão de sons, algo muito complexo, cuja concretização depende do que as pessoas que cuidam dele dizem, na medida em que falar para o bebé, mesmo que não entenda o que lhe é dito, constitui um dos principais factores para a sua progressiva aquisição da linguagem. Apesar de o bebé ainda não conhecer o significado das palavras, já interpreta o ritmo e o tom da voz, o que justifica o facto de demonstrar com o olhar e com movimentos da cabeça e do corpo que escuta atentamente, caso lhe façam perguntas ou se fale com voz suave e fazendo pausas, como uma conversa.

Por volta dos 3 ou 4 meses, por vezes um pouco mais tarde, o amadurecimento neurológico proporciona um outro passo capital neste processo de aprendizagem, já que ao ouvir uma voz conhecida proveniente de fora do seu campo visual, o bebé sabe que alguém familiar falou e vira-se para localizá-la. Quando se falar com o bebé, mesmo ao longe, deve-se chamar pelo seu nome, pois embora ainda não saiba que é o seu nome, a forma como o utilizam e a resposta dos adultos quando ele se volta perante a sua chamada faz com que volte a fazê-lo.

Para além disso, durante esta fase, começa a fazer as suas primeiras tentativas com a linguagem, já que para além de escutar com extrema atenção os adultos quando falam com ele, também olha com atenção para a forma como o fazem. Esta é a fase em que começa a manifestar um tímido balbuciar, uma primeira tentativa para falar na qual predominam as vogais, sobretudo o "a" e o "e", em que o bebé se baseia nas suas observações para aprender a controlar a emissão de ar e movimentar a boca para que surjam determinados sons.

As primeiras palavras

Topo Após uma fase de tentativas, o bebé começa, aos 6 meses de vida, a gritar com toda a intenção, de modo a chamar a atenção, transformando os seus sons desconexos numa verdadeira tagarelice. A partir do momento em que o bebé incorpora as consoantes, começa a pronunciar alguns dos sons mais comuns da linguagem. O bebé costuma começar a utilizar alguns sons que saem com mais facilidade, presentes numa grande variedade de línguas, como o "p", o "m", o "k" ou o "b", muito característicos do ponto de vista da articulação fonética. Estas acções constituem as bases para a construção de sílabas separadas, como "ma", "pa", "ba" ou "ka", que aos 8 ou 9 meses podem ser repetidas e encadeadas como se pronunciasse palavras: "ma-ma", "ba-ba", "ka-ka". De facto, apesar de já compreender, nesta fase, o significado de algumas expressões, como o "não", as suas produções verbais não costumam passar de tentativas, não têm uma intenção determinada e apenas são duplicações de sílabas escolhidas entre as pronunciadas pelos pais ao imitar os seus movimentos faciais e os sons.

As primeiras palavras intencionais surgem entre os 10 meses e os 18 meses, em média pouco depois do primeiro ano de vida. De facto, embora seja capaz de dizer sílabas anteriormente repetidas, é apenas por volta dos 12 meses de vida que a linguagem do bebé começa a fazer sentido e que as suas produções verbais são intencionais, pois começa, por exemplo, a dizer com consciência "mamã", para chamar a sua mãe. Como já conhece os mecanismos básicos para articular sons e a utilidade da fala, apenas tem de treinar a fonética e adquirir uma maior capacidade de compreensão e memorização para ter um maior domínio da linguagem.

Ao longo dos meses seguintes, o vocabulário do bebé vai aumentando: por volta dos 18 meses, aprende a dizer, embora inadequadamente, o nome dos familiares mais próximos e sabe utilizar algumas palavras, sobretudo relacionadas com questões chave para ele, como os seus objectos preferidos ou a comida.

A evolução da linguagem

Topo Aos 2 anos, o vocabulário do bebé já é constituído por vinte palavras. É ao longo desta fase que começa a utilizar palavras que reforçam a sua individualidade: por exemplo, já diz "eu", um conceito muito complexo do ponto de vista do entendimento. Também aprende o significado do "não", que diz para se opor ao que lhe desagrada, embora o utilize com tanta frequência que rejeita tudo.

É ao longo desta fase que se produz um passo essencial para a aquisição da linguagem, já que o bebé é capaz de combinar duas ou três palavras numa única frase, o que aumenta significativamente o seu poder de expressão. Perto dos 2 anos e meio, a maioria das frases do bebé está organizada correctamente, embora normalmente não tenha uma ligação gramatical, constituindo uma "linguagem telegráfica".

Ao longo dos meses seguintes, o património verbal aumenta significativamente. Aos 3 anos, utiliza mais de 250 palavras, embora o seu vocabulário real seja maior, já que compreende entre 500 e 900 palavras, apesar de não as utilizar todas. Para além disso, é capaz de construir frases correctamente e já consegue manter uma conversa simples.

Com 4 anos, a criança já utiliza mais de 500 palavras e tem plena consciência da importância da entoação para formular uma ordem, uma afirmação ou uma pergunta. Dado que o complexo sistema da gramática vai sendo adquirido de forma gradual, o bebé começa a formular as perguntas através de uma entoação específica da voz e ao utilizar um pronome, um adjectivo, um advérbio de interrogação que necessite de respostas concretas: "quem...?", "quando...?", "onde...?", etc. Ao longo desta fase, a sua curiosidade é muito grande, a denominada "idade do porquê", pois quer saber o significado de tudo e solicita um esclarecimento perante qualquer termo que não conhece, o que permite uma rápida ampliação do seu vocabulário. De facto, vai gradualmente aprendendo a utilizar a passiva e a concordância dos tempos verbais, corrige-se a ele próprio e desenvolve o seu próprio humor linguístico, etc. Por volta dos 5 anos, as bases da linguagem ficam completas, já que a criança conhece os mecanismos essenciais do sistema linguístico. Como o seu vocabulário vai aumentando progressivamente, aos 6 anos a criança já conhece cerca de 1 500 palavras e, aos 8 anos, mais de 2 000.

Informações adicionais

A linguagem escrita

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Embora a criança comece a fazer esboços desde o segundo ano de vida, altura em que começa a despertar para a linguagem oral, ainda não entende que existe um código de comunicação escrito. Ao longo da idade pré-escolar, ou seja, entre os 3 e os 6 anos, a criança descobre que a expressão verbal é um meio de comunicação eficaz para se fazer entender aos adultos e também para estabelecer relações com os seus amigos, mas apesar de já desenhar com uma certa agilidade, as ideias que expressa através deste meio ainda não são interpretadas por todos. Como em seguida descobre que existem sinais gráficos convencionais, letras e números, que são compreendidos com mais facilidade, passa a encarar a escrita e a leitura como uma necessidade, apesar de ainda não ter os recursos básicos para o fazer, já que é só na idade escolar, a partir dos 6 anos, que irá obter um domínio do espaço que lhe irá permitir evoluir a sua leitura e escrita.

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