Dado que os primeiros momentos após o nascimento constituem um período crítico, em que qualquer problema pode representar um grande perigo para o bebé, a realização dos oportunos procedimentos médicos nesses instantes pode ser vital.
Adaptação ao mundo exterior
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Depois de atravessar o canal de parto e após nove meses de permanência no interior do útero materno a flutuar no líquido amniótico, o bebé enfrenta um ambiente desconhecido e o seu organismo passa por profundas transformações fisiológicas, de modo a adaptar-se ao meio aéreo. Ao longo da gravidez, o organismo do feto obtém oxigénio e elimina o dióxido de carbono produzido como resíduo do metabolismo através das trocas com a placenta, à qual o bebé permanece unido através do cordão umbilical nos momentos posteriores ao nascimento. Todavia, após o nascimento, a placenta começa a desunir-se da parede uterina e a circulação umbilical é interrompida, o que faz com que o bebé comece a respirar e a obter a troca de gases com o meio ambiente por si próprio.Quando a circulação umbilical é interrompida, independentemente de ser espontaneamente ou devido ao corte do cordão umbilical com uma pinça, a concentração sanguínea de oxigénio diminui rapidamente, enquanto que os níveis de dióxido de carbono aumentam, o que constitui o estímulo para que o sistema nervoso dê as ordens necessárias para o início da respiração, em que o bebé inspira e os pulmões dilatam-se, enchendo-se de ar, que expulsa de imediato, normalmente através de um grito ou ao chorar, dando início à função respiratória. Em simultâneo, a brusca subida da pressão no interior do tórax provoca uma alteração na circulação sanguínea, na qual o sangue que o coração bombeia passa para os vasos pulmonares, fechando os canais que até então garantiam a circulação sem que esta passasse pelos pulmões. A actividade cardiorrespiratória autónoma começa a funcionar na perfeição.
Primeiros cuidados e vigilância
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O primeiro procedimento após o nascimento corresponde à laqueação, através de pinças, e posterior corte do cordão umbilical, o vínculo que ainda mantém o bebé unido à placenta. Embora existam obstetras que esperam até que já não existam batimentos no cordão umbilical para o cortar, outros preferem fazê-lo antes. Depois de se cortar o cordão umbilical, deve-se realizar uma série de procedimentos que costumam ser efectuados num sector da sala de partos especialmente adaptado para esse fim, com as condições para se efectuar uma avaliação do estado do bebé e os meios necessários para se enfrentar com eficácia qualquer problema.Em primeiro lugar, deve-se proceder à extracção de restos de líquido amniótico e mucosidades da boca e do nariz do recém-nascido através de um cateter ligado a uma bomba de aspiração, com o objectivo de se desobstruir totalmente as vias aéreas e assegurar a sua permeabilidade. Em seguida, deve-se efectuar de imediato uma avaliação do estado e vitalidade através do denominado teste de Apgar (ver caixa), que permite constatar se o bebé está em óptimo estado ou, caso contrário, decidir se é preciso realizar qualquer procedimento especial.Quando se comprovar que as funções vitais do recém-nascido não apresentam qualquer problema, deve-se seguir os restantes procedimentos efectuados na própria sala de partos: por exemplo, a delicada limpeza do corpo do bebé para eliminar os restos de sangue e mucosidades da superfície cutânea, o rigoroso exame do coto do cordão umbilical e sua posterior desinfecção e, por fim, o seu revestimento com uma ligadura. Após se realizar um rápido teste físico geral, deve-se proceder à pesagem e medição da altura do bebé, da cabeça aos pés.Antes de o bebé abandonar a sala de partos, deve-se aplicar um colírio antibiótico nos seus olhos, de modo a prevenir uma eventual infecção, caso se tenha produzido uma contaminação ao atravessar o canal do parto; na maioria dos hospitais, aplica-se uma injecção de vitamina K para evitar os riscos de hemorragia devido a uma possível insuficiência do mecanismo de coagulação.Por fim, deve-se proceder à oportuna identificação do bebé, através da colocação de uma pulseira com o seu nome e da impressão de uma pegada da planta do pé num documento ou numa folha onde também conste a impressão digital da mãe, para evitar qualquer confusão. Por fim, deve-se colocar as primeiras fraldas para que o bebé possa, devidamente revestido para não passar frio, abandonar a sala de partos.
Informações adicionais
Teste de Apgar
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Este teste, assim denominado para prestigiar a anestesista norte-americana que o idealizou, Virgínia Apgar, transformou-se num sistema de avaliação de rotina do estado dos recém-nascidos imediatamente após o parto, já que permite apreciar a sua adaptação ao meio aéreo e detectar com precisão a existência de algum problema que necessite de uma acção terapêutica urgente, algo extremamente importante visto que qualquer défice de oxigenação ao longo dos primeiros minutos pode colocar em perigo a vida do bebé ou provocar sequelas neurológicas irreversíveis.
O teste realiza-se ao longo do primeiro minuto de vida e cinco minutos depois, devendo-se avaliar cinco parâmetros, cada um deles pontuados numa escala de O a 2: a frequência cardíaca, a respiração, o tónus muscular, a cor da pele e a resposta reflexa aos estímulos. A soma da pontuação obtida em cada parâmetro permite obter um resultado global de O a 10, informação que indica o comportamento a seguir: se for de 7 a 10 pontos, considera-se que o bebé está em perfeitas condições; se for de 3 a 6 pontos, deve-se manter o bebé rigorosamente vigiado, devendo-se adoptar medidas de apoio respiratório, como a administração de oxigénio; caso seja inferior a 3 pontos, deve-se proceder à realização de técnicas de reanimação adequadas.