Contracepção hormonal

Este método contraceptivo baseia-se na utilização de produtos hormonais cuja administração, por diferentes vias, provoca uma inibição da ovulação, o que consequentemente impossibilita a fecundação e a gravidez.

Mecanismo de acção

Topo O funcionamento do aparelho genital feminino é controlado pelo hipotálamo e pela hipófise, que regem a actividade dos ovários tanto em relação ao amadurecimento e libertação de células germinativas, como em relação à produção de hormonas sexuais femininas. Após a puberdade, o hipotálamo começa a segregar, de maneira cíclica, factores hormonais que actuam sobre a hipófise e induzem esta glândula a elaborar as hormonas estimuladora do folículo (FSH) e luteinizante (LH), gonadotrofinas que actuam sobre os ovários provocando o amadurecimento de folículos ováricos, a libertação periódica de óvulos maduros aptos para serem fecundados e a produção das hormonas femininas estrogénios e progesterona, cujos efeitos sobre o útero determinam o ciclo menstrual.

O referido controlo hormonal é complexo, devido ao facto de ser proporcionado por um mecanismo de retroalimentação, já que a actividade do hipotálamo e da hipófise é influenciada pelos níveis sanguíneos das hormonas sexuais elaboradas pelos ovários. A contracepção hormonal consiste essencialmente na administração de produtos sintéticos semelhantes às hormonas fabricadas naturalmente pelos ovários que, entre outras acções, inibem a produção hipofisária de gonadotrofinas e, consequentemente, o amadurecimento de folículos ováricos e a ovulação. Embora os produtos hormonais utilizados tenham outros efeitos que dificultam a concepção e a eventual implantação uterina de um óvulo fecundado, este método baseia-se em "enganar" o eixo do hipotálamo e hipófise.

Contraceptivos hormonais orais

Topo A principal forma de contracepção hormonal, utilizada por dezenas de milhões de mulheres em todo o mundo, corresponde à administração de compostos hormonais de diversa composição por via oral. Consoante a sua composição, é possível distinguir dois tipos fundamentais de contraceptivos orais: as pílulas combinadas, compostas por estrogénios e progestagénios (produtos sintéticos com acções semelhantes às da progesterona natural), e as minipílulas, apenas constituídas por gestagénios.

Pílulas combinadas. Estas pílulas, as mais utilizadas, devem ser tomadas todos os dias durante três semanas, após as quais se deve suspender a sua administração durante uma semana, já que a diminuição hormonal a nível uterino proporciona a produção de uma perda de sangue semelhante à menstruação, apesar de normalmente ser mais escassa. Existem vários tipos de pílulas combinadas, umas efectuadas com a mesma proporção de estrogénios e gestagénios em todas as doses e outras, mais modernas, com uma diferente proporção destes produtos nas diferentes doses (monofásicas e trifásicas), o que permite imitar melhor o perfil hormonal do ciclo. No primeiro caso, todas as pílulas são iguais, enquanto que, no segundo, as pílulas são diferentes, devendo-se cumprir com precisão a sequência com que devem ser administradas indicada na embalagem. Para além de bloquearem o mecanismo da ovulação, todas estas pílulas alteram as secreções da mucosa do colo do útero, o que dificulta a passagem dos espermatozóides, e reduzem a espessura da mucosa interna do útero, o que dificulta a eventual implantação de um óvulo fecundado.

Minipilulas. Embora estas pílulas, que devem ser tomadas todos os dias de maneira contínua e ininterrupta, apenas inibam totalmente a ovulação numa reduzida percentagem dos casos, devido ao facto de serem constituídas essencialmente por gestagénios em doses baixas, também têm outros efeitos contraceptivos, já que modificam de tal forma as características do muco cervical que dificultam o acesso dos espermatozóides depositados na vagina ao interior do útero. De qualquer forma, como a sua eficácia é inferior à das pílulas combinadas, apenas são recomendadas para as mulheres em que a administração de estrogénios não é aconselhável e para as que não desejam ou não possam recorrer a métodos contraceptivos não hormonais.

Efeitos secundários e contra-indicações. Para além dos efeitos contraceptivos, a administração contínua de substâncias hormonais pode gerar alterações no funcionamento do organismo, originando efeitos secundários indesejáveis de diversa índole. Apesar de alguns serem incómodos, não colocam em perigo a saúde, como o aparecimento de náuseas que se evidencia durante os primeiros ciclos, um possível aumento de peso, uma pouco frequente alteração do estado do humor, por vezes um quadro de hirsutismo ou o aparecimento de manchas na face semelhantes às que surgem durante a gravidez. Todavia, existem outros, menos evidentes, que são sem qualquer dúvida potencialmente perigosos, pois as pílulas provocam uma alteração do mecanismo da coagulação sanguínea que, em determinados casos, propicia a formação de trombos, o que, para além de alterar o metabolismo das gorduras e dos hidratos de carbono, pode provocar um aumento da pressão arterial, aumentando o risco de a mulher ser afectada por doenças cardiovasculares, o que justifica o facto de este método contraceptivo não ser aconselhável a mulheres que já evidenciam outros factores de risco cardiovascular, como o tabagismo, uma idade superior a 35 anos, diabetes mellitus ou hipertensão arterial. Em suma, como a utilização de contraceptivos orais tem várias contra-indicações, necessita de uma prévia prescrição médica personalizada e de uma vigilância periódica, na qual se deve verificar a ausência de factores que determinem a conveniência da sua interrupção.

Contraceptivos hormonais injectáveis

Topo Neste caso, deve-se recorrer à utilização de composições de hormonas sintéticas dissolvidas em substâncias oleosas que, após serem administradas através de uma injecção intramuscular, vão sendo lenta e progressivamente libertadas no sangue. Desta forma, não é necessário proceder-se à sua administração diária, já que uma injecção proporciona um efeito contraceptivo durante um período que, de acordo com a composição, oscila entre um e vários meses, o que é muito útil, por exemplo, para as mulheres que levam uma vida muito atarefada ou para as que não se lembram de tomar, com alguma frequência, a pílula diariamente. Existem dois tipos de contraceptivos hormonais, de diferente composição e diferente periodicidade de administração.

Os mais utilizados apenas são constituídos por altas doses de gestagénios, o suficiente para proporcionar a inibição da ovulação, embora também alterem as secreções do colo do útero, criando um meio hostil para a passagem dos espermatozóides, e actuem sobre a mucosa do útero, de modo a dificultarem a eventual implantação de um óvulo fecundado. A frequência das injecções depende das doses utilizadas, já que existem composições que mantêm a acção contraceptiva durante dois meses e outras que o fazem durante um período ainda mais prolongado, ao longo do qual a utilizadora não tem menstruações.

Existe um outro tipo de contraceptivo hormonal injectável constituído por uma combinação de estrogénios e progestagénios, que deve ser administrado uma vez por mês, após a menstruação, sendo o seu mecanismo de acção semelhante ao das pílulas combinadas tradicionais.

Efeitos secundários e eficácia.

Os contraceptivos hormonais à base de gestagénios injectáveis podem originar o aparecimento de dores de cabeça e um aumento de peso ou irregularidades menstruais e um atraso no reaparecimento do período após a interrupção do tratamento.

Para além disso, dado que, ao contrário das pílulas combinadas, apenas têm efeito sobre a pressão arterial, coagulação sanguínea e metabolismo dos carboidratos e das gorduras, constituem uma boa alternativa para mulheres que evidenciam factores de risco cardiovascular, nas quais a utilização de pílulas não é aconselhável.

A eficácia dos contraceptivos hormonais injectáveis é muito elevada, superior aos 99°/o, já que apenas se observam insucessos relacionados com uma técnica de injecção inadequada, o que é muito raro.

Implantes subcutâneos

Topo Este sistema, ainda não disponível em todos os países, consiste na implantação, debaixo da pele, de pequenas cápsulas de material plástico que vão lentamente libertando produtos hormonais semelhantes a gestagénios, proporcionando um efeito contraceptivo. Na maioria dos casos, são implantadas seis cápsulas longas, com cerca de 3,5 cm de comprimento e 2,5 mm de diâmetro, que vão gradualmente libertando, durante cinco anos ou até mais, uma quantidade de gestagénios equivalente à dose diária recebida pela mulher caso tomasse minipílulas. Para além de proporcionarem outros efeitos contraceptivos, como a dilatação do muco cervical, que dificulta a passagem dos espermatozóides, e uma alteração do endométrio, que impede a eventual nidificação de um óvulo fecundado, as hormonas libertadas pelos implantes conseguem inibir a ovulação, embora não o façam em todos os ciclos.

O implante costuma ser efectuado na face anterior do braço ou do antebraço e deve ser realizado pelo médico, embora se trate de um procedimento simples efectuado sob anestesia local, realizado em pouco mais de 15 minutos. Quando se chegar ao fim do período de actividade contraceptiva, indicado em cada caso pelo médico e avaliado nas consultas regulares de vigilância, deve-se proceder à extracção das cápsulas, o que pode ser realizado em pouco mais de quinze minutos, sem grandes problemas. Actualmente, tem-se recorrido à utilização de outro tipo de implantes, mais fáceis de colocar e remover, e de implantes biodegradáveis, em que não é necessário proceder-se à sua extracção quando o conteúdo hormonal chegar ao fim.

Efeitos secundários e eficácia. Os efeitos secundários dos implantes subcutâneos são muito semelhantes aos provocados pelas minipílulas, nomeadamente irregularidades menstruais e, por vezes, perda de peso, dores nos seios e acne. Nos casos raros em que se produz uma infecção na zona do implante, deve-se proceder ao seu oportuno tratamento antibiótico, o que obriga, excepcionalmente, à extracção das cápsulas.

A sua eficácia é elevada, superior a 99%, proporcionando uma protecção contraceptiva que começa no dia seguinte à sua inserção e que se prolonga durante cinco anos. Após a extracção dos implantes, a mulher recupera imediatamente a sua fertilidade, podendo ficar grávida no primeiro ciclo menstrual.

Anel vaginal

Topo A colocação deste dispositivo de material plástico no fundo da vagina, de maneira semipermanente, proporciona a libertação de substâncias hormonais, cuja absorção pela mucosa vaginal, com vista a passarem para a circulação sanguínea, origina um efeito contraceptivo durante um período que, de acordo com o tipo de anel, varia entre as três semanas e os seis meses. Embora o dispositivo ainda não esteja disponível em todos os países, é confeccionado em vários desenhos e tamanhos, com diferentes formas de acção. Nos modelos em que o anel liberta estrogénios e progestagénios em quantidades suficientes para inibir a ovulação, deve ser colocado na vagina durante três semanas e retirado ao fim de sete dias, de modo a proporcionar uma hemorragia semelhante à menstruação. A sua eficácia é semelhante às tradicionais pílulas contraceptivas combinadas.

Os modelos de anéis vaginais que apenas libertam gestagénios em doses baixas podem ser utilizados ininterruptamente durante três a seis meses. O mecanismo de acção e a sua eficácia são, no mínimo, equivalentes às das minipílulas.

Informações adicionais

Eficácia, vantagens e inconvenientes

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L14 ntre as principais vantagens deste método contraceptivo deve-se referir, sobretudo, a sua elevada eficácia. Embora teoricamente atinja os 100%, na prática existem estatísticas que registam taxas anuais de insucessos de O a 2,5%, devido essencialmente à existência de falhas na sua administração. De qualquer forma, pode-se afirmar que, caso seja correctamente utilizado, possibilita evitar gravidezes não desejadas. Outras vantagens do método são o facto de não interferir nas relações sexuais espontâneas, pois o coito pode ser efectuado a qualquer momento sem nenhuma preparação prévia, e de ser totalmente reversível após a suspensão da sua utilização, pois a utilizadora recupera rapidamente a sua fertilidade. Como inconveniente, destaca-se o facto de a Pílula ter de ser ingerida diariamente, condição fundamental para se garantir a eficácia do método. Para além disso, a administração contínua da pílula pode originar vários efeitos secundários indesejáveis, embora a maioria sejam ligeiros e passageiros, o que justifica o facto de ser extremamente importante submeter-se a uma vigilância médica regular para se constatar a ausência de contra-indicações para o seu prolongamento.

O médico responde

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Comecei a tomar pílulas contraceptivas e como sei que tenho que fazê-lo diariamente, que comportamento terei que adoptar, caso me esqueça de tomar alguma pílula?

Depende do tempo de esquecimento - caso seja muito prolongado, pode prejudicar a eficácia do método. Caso o esquecimento seja detectado ao longo das 24 horas seguintes, deve-se tomar a pílula imediatamente e deixar a seguinte para o momento correspondente, com a qual se costuma garantir a eficácia do método, embora existam especialistas que aconselham a utilização complementar de outro método con- traceptivo durante o resto do ciclo. Por outro lado, quando o período de tempo ocorrido desde o esquecimento ultrapassar as 24 horas, considera-se inútil a continuação desta sequência, pois não existe qualquer garantia de eficácia, devendo-se esperar uma semana e iniciar a administração de uma nova série, recorrendo a algum método contraceptivo alternativo durante a semana em que se interrompe a ingestão das pílulas e a primeira semana do novo ciclo.

Contracepção hormonal e cancro

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Desde que, na década de 60, se começou a recorrer à contracepção hormonal, já foram efectuados inúmeros estudos para determinar a existência de uma relação directa entre a utilização deste método contraceptivo e a maior ou menor incidência dos diferentes tipos de cancro do aparelho reprodutor feminino, com resultados muito variáveis.

Apesar de alguns estudos teremindicado que a administração de contraceptivos hormonais poderia proporcionar um maior risco de cancro da mama e do colo do útero, nunca se chegou a uma conclusão definitiva sobre esse assunto, o que justifica o facto de esta consideração não ter sido aceite de forma conclusiva. Por outro lado, conseguiu-se relacionar a administração contínua de composições hormonais anovulatórias com uma menor incidência de cancro do endométrio e de cancro do ovário entre as suas utilizadoras.

Contracepção hormonal masculina

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Actualmente, existem duas linhas distintas de investigação em busca de uma forma de contracepção hormonal masculina. Por um lado, existe a possibilidade de se utilizar substâncias peptídicas administradas por via nasal com efeitos semelhantes ao factor hipotalâmico libertador de gonadotrofinas, cuja administração prolongada inibe a receptividade da hipófise ao produto natural, o que diminui a elaboração das hormonas que estimulam a geração de espermatozóides nos testículos, embora tenha o inconveniente de proporcionar a diminuição paralela das hormonas sexuais masculinas. Por outro lado, tem-se recorrido à utilização de hormonas sintéticas de efeitos semelhantes à testosterona, cuja administração prolongada inibe a secreção hipofisária de gonadotrofinas e, consequentemente, a produção de espermatozóides nos testículos, ainda que sejam substâncias com acções tóxicas sobre o fígado e que apenas podem ser administradas através de injecções. Apesar de, até ao momento, ainda não se ter encontrado a forma ideal, continua-se a trabalhar nesta área, com o objectivo de se obter, num futuro próximo, um método que seja ao mesmo tempo eficaz e inofensivo.

Para saber mais consulte o seu Médico de Medicina Geral ou o seu Obstetrícista / Ginecologista
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