Doença trofoblástica

Um eventual desenvolvimento anómalo do trofoblasto, o tecido que constitui a parte da placenta derivada do embrião, pode originar a formação de um tumor benigno, denominado mola hidatiforme, ou de um tumor maligno, denominado coriocarcinoma.

Causas e frequência

Topo O trofoblasto é a camada externa do embrião que, após a sua implantação no útero, proporciona a formação da placenta. Em condições normais, o trofoblasto penetra no endométrio, a mucosa que reveste o útero, e emite vários prolongamentos, denominados vilosidades coriónicas, onde são produzidas as trocas entre o sangue materno e o fetal, Todavia, ao longo da doença trofoblástica, as vilosidades coriónicas desenvolvem-se de maneira anómala: em caso de mola hidatiforme, evidenciam um crescimento celular excessivo, não formam vasos sanguíneos e acumulam líquido no seu interior, o que proporciona a constituição de um aglomerado de vesículas em vez do tecido placentário normal; em caso de coriocarcinoma, as células sofrem uma transformação maligna e constituem um tumor canceroso. Em qualquer dos casos, a formação anómala da placenta impede o desenvolvimento do embrião, que é absorvido.

Embora ainda se desconheça a causa da doença trofoblástica, sabe-se que esta afecta principalmente as mulheres muito jovens e as com mais de 40 anos, maioritariamente as que já tenham sido mães. Pensa-se que a sua origem possa ser proporcionada por factores ambientais, relacionados por exemplo com hábitos dietéticos ou com o padecimento de infecções genitais crónicas, e particularmente por factores hereditários, tendo em conta que as condicionantes genéticas são responsáveis pela grande variabilidade da frequência do problema nas diferentes zonas geográficas. De facto, a doença trofoblástica afecta uma em cada 125 gravidezes, em alguns países asiáticos (por exemplo, na Tailândia), enquanto que na América do Sul a sua incidência é de uma em cada 600 gravidezes e, nos Estados Unidos e na Europa ocidental, apenas uma em cada 1 000 a 2 000 gravidezes.

Mola hidatiforme

Topo A mola hidatiforme é um tumor benigno constituído por uma aglomeração de vesículas de 1 a 10 mm de diâmetro repletas de líquido, semelhante a um bago de uvas pequenas, que vai progressivamente ocupando o interior do útero. De início, os sinais e sintomas do seu desenvolvimento são semelhantes às de uma gravidez normal, embora muito mais acentuados, sobretudo em relação ao aparecimento de náuseas e vómitos, À medida que a mola vai evoluindo, o útero vai aumentando de tamanho de forma exagerada em relação à gestação, enquanto que a mulher vai, na maioria dos casos, emagrecendo e evidenciando uma notória palidez. Dado que a mola tem a tendência para, ao fim de um certo período de tempo, se desunir do endométrio, costuma originar hemorragias vaginais, de início pouco abundantes, existindo igualmente vesículas correspondentes a fragmentos da mola que podem mesmo ser eliminadas pela vagina, o que provoca um aborto molar, ainda que o tecido anómalo apenas seja totalmente expulso em alguns casos raros. Caso não se proceda ao seu tratamento oportuno, a mola pode penetrar na parede uterina e perfurá-la, provocando o aparecimento de hemorragias muito intensas que podem colocar a vida da mulher em perigo. Todavia, o principal perigo corresponde à possível transformação maligna do tecido molar e à consequente formação de um coriocarcinoma, o que ocorre em cerca de 10% dos casos.

Coriocarcinoma

Topo O coriocarcinoma é um tumor maligno originado pelo tecido trofoblástico. Embora costume ser proporcionado pela transformação maligna de uma mola hidatiforme, sendo neste caso precedido pelos sinais e sintomas desta alteração, também se pode desenvolver após uma gravidez normal ou um aborto, podendo manifestar-se ao fim de alguns meses ou anos. Embora o sinal mais comum do seu desenvolvimento corresponda ao aparecimento de hemorragias vaginais provocadas pela invasão local do útero, o principal perigo deste tumor é a sua capacidade para se propagar à distância e produzir focos de tumor secundários (metástases) em órgãos mais ou menos afastados, como os pulmões, o fígado, o cérebro ou ossos, De referir que, como nestes casos podem não surgir sinais e sintomas precoces, a doença apenas é detectada a partir das diferentes manifestações provocadas pelas metástases. Como se trata de uma doença cancerosa, com a evolução típica desta patologia, caso não se proceda ao devido tratamento, o prognóstico é pouco favorável, já que provoca a morte em praticamente todos os casos.

Informações adicionais

O médico responde

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A minha irmã foi afectada por uma mola hidatiforme e, embora tenha recuperado, o médico disse que deve evitar ficar grávida durante um ano. Será que se pode desenvolver alguma complicação?

De facto, sim, porque existe sempre a possibilidade de ficarem restos de tecido anómalo no interior do útero após a expulsão ou a evacuação da mola, podendo transformar-se, ainda que raramente, num grave tumor maligno, o que obriga à realização do devido acompanhamento para se constatar se o problema foi totalmente solucionado. Este controlo baseia-se na avaliação periódica dos níveis da hormona gonadotrofina coriónica, uma hormona que em condições normais apenas é produzida na gravidez, embora também possa ser elaborada por tumores trofoblásticos. Dado que uma nova gravidez pode complicar a interpretação dos resultados das análises, deve-se evitar uma nova gestação até que passe um período de um ano, para que se possa garantir a cura total do problema.

Diagnóstico e tratamento

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Embora inicialmente o diagnóstico da mola hidatiforme se baseie no sinais e sintomas característicos, sobretudo o crescimento exagerado do útero em relação à idade da gestação, associado a náuseas e vómitos muito intensos, nas fases mais avançadas este pode ser acompanhado pela ausência de batimentos cardíacos e movimentos do feto, já que o problema impede o desenvolvimento do embrião. Um outro dado muito sugestivo corresponde à detecção de níveis muito elevados da hormona gonadotrofina coriónica (hCG), própria da gravidez, produzida em grandes quantidades pelo tecido placentário anómalo, O diagnóstico pode ser confirmado através de uma ecografia, através da qual se pode observar a imagem do útero ocupado por uma massa formada por inúmera vesículas, semelhante a um favo de abelhas. Caso se suspeite da existência de um coriocarcinoma, deve-se efectuar uma série de exames auxiliares de diagnóstico como uma tomografia axial computorizada ou uma ressonância magnética nuclear, de modo a procurar eventuais metástases noutras localizações.

Caso se confirme o diagnóstico de uma mola hidatiforme, deve-se proceder, mesmo que se tenha produzido a sua expulsão espontânea, à evacuação completa do útero, independentemente de ser por aspiração ou através de uma curetagem, com vista a eliminar-se todo o tecido anómalo e prevenir complicações. Em certos casos, sobretudo quando se comprove que o tecido anómalo, após a expulsão espontânea da mola ou a sua evacuação, penetrou na parede uterina e, em especial, quando a mulher já não deseja ter mais filhos, deve-se proceder a uma histerectomia. Todavia, deve-se referir que, em caso de tumor benigno, a total eliminação do tecido faz com que o aparelho genital permaneça intacto, o que possibilita novas gravidezes normais. De qualquer forma, após a evacuação do tecido molar deve-se realizar sempre um acompanhamento, baseado na determinação dos níveis de hCG, de forma a poder-se detectar prematuramente o eventual desenvolvimento de um coriocarcinoma.

Perante o diagnóstico de um coriocarcinoma, a terapêutica varia em função da extensão do tumor maligno. Por exemplo, quando se localiza no útero, costuma-se proceder à extracção do órgão quando a mulher já não deseja ter mais filhos, ou pode-se recorrer à quimioterapia, através da administração de medicamentos anti cancerosos. Quando se detectam metástases, o tratamento passa necessariamente por quimioterapia anticancerosa. A utilização de medicamentos anticancerosos reduziu a mortalidade desta doença, que antigamente era de 100(Yo, para cerca de 30% dos casos.

Para saber mais consulte o seu Obstetrícista / Ginecologista
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