Embora a gravidez na espécie humana apenas costume originar um único feto, a gestação de dois ou mais fetos de uma só vez, num fenómeno denominado gravidez múltipla ou gemelar, é igualmente normal, embora menos frequente.
Mecanismos de produção
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A gravidez resulta da união de um óvulo libertado pelo ovário da mulher com apenas um dos milhões de espermatozóides presentes no sémen de uma ejaculação, já que a fusão de ambos origina um ovo, ou zigoto, cujas sucessivas divisões proporcionam o desenvolvimento de um único embrião. No entanto, existem dois mecanismos através dos quais a mesma gravidez pode gerar dois embriões, com muito menor frequência três ou mais.
Em cerca de 75% dos casos, a gravidez múltipla é provocada pela libertação de dois óvulos no mesmo ciclo, por sua vez fecundados por dois espermatozóides diferentes, provenientes da mesma ejaculação ou de duas ejaculações diferentes durante o período fértil. Assim sendo, formam-se dois zigotos que se transformam em embriões, sendo cada um deles implantado de forma independente no útero, dispondo igualmente de uma placenta e da sua própria bolsa de águas. Esta situação proporciona uma gravidez biovular, originando o desenvolvimento de dois gémeos dizigóticos ou bivitelinos, igualmente denominados gémeos fraternos. Cada um deles possui uma constituição genética diferente, o que faz com que tanto possam ter o mesmo sexo ou diferente, enquanto que o seu aspecto físico será semelhante ao de dois irmãos nascidos em gestações diferentes.
Nos restantes 25% dos casos, a união de apenas um óvulo e de um único espermatozóide origina um zigoto que se começa a dividir, até que, pouco depois, na fase de segmentação, se fragmenta em duas porções, originando-se em cada parte um embrião. Dado que esta divisão costuma ocorrer antes da nidificação no útero, os embriões dividem uma única placenta e a mesma bolsa de águas. Este caso, denominado gravidez uniovular, consiste no desenvolvimento de dois gémeos monozigóticos ou univitelinos, igualmente denominados gémeos idênticos, já que ambos têm a mesma constituição genética, são sempre do mesmo sexo e a sua semelhança física é praticamente absoluta.
Quando a gravidez provoca o desenvolvimento de mais de dois fetos, tanto pode ocorrer um dos dois mecanismos citados como ambos de uma vez. Por exemplo, uma gravidez tripla pode originar gémeos monozigóticos (três gémeos idênticos), dizigóticos (dois gémeos idênticos e um fraterno, do mesmo ou de diferente sexo) ou, muito mais raramente, trizigóticos (três gémeos fraternos, do mesmo ou de diferente sexo e com um aspecto semelhante ao de três irmãos nascidos de gestações diferentes).
Evolução
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Embora a gravidez múltipla tenha uma evolução semelhante a uma gravidez simples, as alterações ocorridas no organismo materno costumam ser mais acentuadas. Por um lado, as estruturas desenvolvidas no útero materno duplicam-se e o útero aumenta mais de tamanho, enquanto que, por outro lado, os níveis das hormonas próprias da gravidez são mais elevadas. Apesar de a mulher grávida evidenciar alguns dos problemas comuns a qualquer gravidez, por exemplo náuseas, dores nas costas ou varizes, fá-lo com maior intensidade. O peso pode igualmente aumentar mais do que o habitual, mas os gémeos nascem com um peso inferior ao dos recém-nascidos de gestações simples, já que o seu peso é, em média, de 2,5 kg.
Deve-se referir que, numa gravidez múltipla, existem mais probabilidades de surgirem problemas do que numa gravidez simples, pois o número de abortos e de algumas complicações ao longo da gravidez é superior. Dado que toda a gravidez múltipla deve ser considerada uma gravidez de risco elevado, deve-se realizar um acompanhamento mais rigoroso do que numa gravidez simples.
Embora o parto, que costuma ocorrer, em média, três semanas antes da data prevista, apresente um maior índice de complicações, na maioria dos casos desenvolve-se com toda a normalidade. Na maioria dos casos, ambos os fetos colocam-se no interior do ventre materno com a cabeça para baixo, o que consequentemente proporciona um parto sem problemas por via vaginal, mas noutros casos um deles está colocado para cima ou situado transversalmente e existem casos em que adoptam uma posição anómala, o que dificulta o parto.
Informações adicionais
Frequência
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A gravidez múltipla é muito frequente, pois calcula-se que, em todo o mundo, ocorre aproximadamente numa em cada 80 mulheres grávidas. A grande maioria dos casos é uma gravidez dupla, já que a gestação de mais de dois fetos é muito menos frequente. A gravidez tripla, na qual são gerados três fetos e o consequente nascimento de trigémeos, ocorre numa em cada 8 000 mulheres grávidas. A gravidez quádrupla, ou quadrigémeos, ocorre naturalmente numa em cada 750 000 mulheres grávidas, enquanto que a gravidez quíntupla, ou de cinco gémeos, apenas ocorre numa em cada 65 000 000, e a gravidez sêxtupla ou a séptupla são raras. De qualquer forma, a história da obstetrícia apresenta casos de gestações que proporcionaram o desenvolvimento de oito ou até mesmo nove embriões. Para além disso, a frequência da gravidez múltipla em que se desenvolvem mais de dois fetos sofreu um aumento significativo nos últimos tempos devido à evolução das técnicas de reprodução assistida.
O médico responde
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É verdade que algumas famílias apresentam uma maior predisposição para o nascimento de gémeos?
De facto, sim, embora apenas em caso de gémeos consequentes da união de dois óvulos com espermatozóides, ou seja, para os gémeos fraternos e não para os gémeos idênticos, proporcionados pela fragmentação de um único ovo, cuja origem ainda é desconhecida. Segundo se consta, pode-se herdar por via materna uma certa predisposição para ter ovulações duplas, o que aumenta a probabilidade de gestações múltiplas, justificando a maior incidência destes casos em mulheres pertencentes à mesma família.
Siameses
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A produção de uma gravidez
últipla uniovular, consequente da fragmentação do ovo proveniente da união de apenas um óvulo e de um único espermatozóide, pode fazer com que a duplicidade ocorra numa fase tardia do processo de segmentação e que os embriões não se separem por completo, ou seja, que os fetos permaneçam unidos por alguma parte do corpo ou até que partilhem algum órgão, provocando gémeos conjuntos, igualmente denominados siameses, um nome atribuído em homenagem aos célebres irmãos Chang e Eng, nascidos em Siam, no ano de 1811.
Calcula-se que esta situação ocorra numa em cada 50 000 a 100 000 mulheres grávidas. Dado que a possibilidade de se separar os dois bebés através de cirurgia depende do grau muito variável de união dos gémeos siameses, trata-se de uma operação muito delicada, pois a interrupção do equilíbrio biológico, normalmente existente, pode provocar a morte de ambos.