A administração de hormonas femininas para combater o défice consequente da insuficiência ovárica é muito útil quer para atenuar as manifestações da síndrome do clirnatério, quer para iimitar as repercussões a médio e longo prazo.
Indicações
Topo 
O climatério não constitui uma situação patológica ou uma doença, mas uma etapa normal da vida da mulher, de modo que, no sentido restrito, não requer qualquer tratamento. Contudo, neste período, com o término da função dos ovários e a consequente diminuição dos níveis de hormonas femininas, podem surgir várias perturbações físicas e psicológicas e começam a gerar-se modificações orgânicas. Estas podem ser atenuadas ou diminuídas através de um tratamento hormonal de substituição, ou seja, a administração de produtos hormonais, por diversas vias consoante o caso e as necessidades individuais, com acções semelhantes às das próprias hormonas produzidas naturalmente pelos ovários. Trata-se de repor artificialmente o défice hormonal resultante da insuficiência ovárica para permitir que o organismo feminino se adapte mais progressivamente à nova situação.Por um lado, o tratamento hormonal de substituição é de grande utilidade para aliviar as manifestações da síndrome do climatério, resultante do brusco desequilíbrio hormonal que acontece no período próximo do desaparecimento da menstruação, e provoca uma disfunção do sistema neurovegetativo, manifestando-se através de afrontamentos, crises de suores, instabilidade emocional, etc. Estas manifestações agudas, que se apresentam um ano antes do fim da menstruação e, por vezes, persistem dois a cinco anos depois, podem chegar a ser muito intensas e perturbar a vida quotidiana - uma terapêutica hormonal adequada permite atenuá-las.Por outro lado, o tratamento hormonal de substituição permite atrasar o desenvolvimento de algumas modificações orgânicas que se produzem a médio ou longo prazo como consequência do défice de estrogénios e podem provocar graves problemas. Assim, considera-se que a terapêutica pode ser de grande utilidade com fins preventivos, combatendo o aumento do risco de se sofrer de enfarte do miocárdio existente depois da menopausa e atrasando a progressiva redução da massa óssea que constitui a osteoporose pós-menopáusica, a qual se traduz numa maior fragilidade dos ossos e na consequente predisposição às fracturas.
Produtos utilizados
Topo 
A base do tratamento consiste na administração de preparados com acções semelhantes às das hormonas femininas tipo estrogénios, em alguns casos combinados com gestagénios, ou seja, produtos com acções semelhantes às da progesterona. De facto, os inconvenientes derivados da insuficiência ovárica são consequência do défice de estrogénios, sendo suficiente a administração exclusiva destas hormonas para os combater, tal como se fazia quando se começou a utilizar o tratamento hormonal de substituição em grande escala, há já várias décadas. Contudo, a partir da década de 70, alguns estudos relacionaram esta terapêutica com um aumento dos índices de cancro do endométrio nas mulheres submetidas à administração continuada de estrogénios com doses relativamente elevadas, o que levou à introdução de modificações no tratamento. Assim, além da diminuição das doses, começou-se a combinar a administração de estrogénios com a de gestagénios, com a qual se anula a possível indução de cancro do endométrio. Actualmente, utiliza-se um tratamento à base da combinação de ambos os tipos de produtos hormonais em mulheres que ainda conservam o útero, enquanto que apenas se administra estrogénios às que foram previamente submetidas a uma extracção do útero (histerectomia), uma vez que, nestes casos, a adição de gestagénios na terapêutica não tem qualquer utilidade.
Vias de administração
Topo 
Em cada caso, o médico determina as doses e a forma de administração mais adequadas para conseguir níveis hormonais mínimos e estáveis para alcançar os objectivos pretendidos, respeitando sempre que possível as preferências da mulher.Uma possível fórmula de administração corresponde à via oral, muito cómoda, com preparados em forma de pastilhas. No entanto, esta estratégia terapêutica tem como inconveniente o facto de as hormonas serem absorvidas rapidamente no intestino e chegam em altas concentrações ao fígado, onde podem ter efeitos tóxicos, pelo que não convém que o tratamento se prolongue demasiado. Por este motivo, a via oral costuma ser reservada para os casos em que o objectivo da terapêutica é combater os problemas da síndrome do climatério.Pelo contrário, a administração de preparados por via parentérica evita a primeira passagem das hormonas pelo fígado e diminui assim a hepatotoxicidade, pelo que é indicada para os tratamentos prolongados, que são os que se utilizam com fins preventivos. Os métodos de administração disponíveis são diversos. Uma possibilidade consiste em recorrer à via percutânea, com a utilização de geles aplicados diariamente no abdómen, num músculo ou num braço. Mais cómoda é a via transdérmica, com a utilização de adesivos cutâneos que, por exemplo, aplicados num braço, libertam através da pele as hormonas de uma forma contínua durante um período de tempo variável até se esgotar a quantidade existente, devendo-se aí substituir por novos adesivos. Também se pode proceder ao implante subcutâneo de pequenos dispositivos que libertam hormonas durante um período de até dez meses. Existem ainda outras formas de administração, por exemplo através de injecções mensais, mas esta forma está actualmente em desuso. Pelo contrário, estão em estudo fórmulas para a administração por via nasal (através de sprays), por via sublingual e por via rectal.Por último, também podem ser utilizados produtos hormonais por via vaginal, embora este método seja indicado, sobretudo, quando se pretende combater a atrofia genital, podendo utilizar-se cremes, óvulos, pastilhas ou anéis vaginais.
Informações adicionais
Duração do tratamento hormonal de substituição
Topo 
Quando o objectivo da terapêuica se limita a combater a síndrome do climatério, o tratamento pode aplicar-se durante um período não muito prolongado, de apenas alguns meses, até que o meio interno se adapte à nova situação e a actividade do sistema neurovegetativo normalize. Pelo contrário, quando a actuação terapêutica tem uma finalidade preventiva, principalmente para atrasar a osteoporose, apenas resulta quando iniciada precocemente, antes de passados três anos do término da menstruação, e mantida durante um período prolongado, de cinco a dez anos ou mesmo mais.
Efeitos adversos e riscos
Topo 
A s hormonas utilizadas no tratamento de substituição podem originar diversos efeitos secundários indesejáveis. Assim, os estrogénios, por vezes, provocam dores de cabeça, aumento da pressão arterial e problemas de coagulação sanguínea, enquanto que os gestagénios provocam retenção de líquidos, inchaços, dor nos seios, etc. No entanto, estes incómodos podem ser evitados ou pelo menos reduzidos, modificando as doses ou substituindo os fármacos utilizados, não representando um obstáculo para prosseguir a terapêutica.
Relativamente aos riscos, estabeleceu-se uma relação entre o tratamento hormonal de substituição e o desenvolvimento de tumores hormonodependentes, como o cancro do endométrio e o da mama, sendo conveniente esclarecer este assunto. Quanto ao cancro do endométrio, o perigo é nulo quando se associa a administração de estrogénios e gestagénios, como se faz actualmente no tratamento hormonal de substituição nas mulheres que ainda conservam o útero, medida desnecessária nas que tenham sido submetidas previamente a uma histerectomia. Quanto ao cancro da mama, embora alguns dos múltiplos estudos efectuados sobre o assunto tenham sugerido que a administração continuada de estrogénios poderia aumentar o risco, outros não detectaram tal relação e outros ainda afirmam que o perigo é reduzido - em termos gerais, os especialistas consideram que as doses utilizadas, actualmente, não interferem com um aumento do risco de cancro da mama.