Menopausa - Repercussões físicas

O fim da actividade ovárica que determina a menopausa implica uma progressiva diminuição dos níveis de hormonas femininas, o que provoca uma série de modificações no organismo.

Pele, pêlos e ulhas

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A pele e os anexos cutâneos são muito sensíveis às influências hormonais, pelo que costumam passar por transformações diversas como consequência do progressivo défice de estrogénios resultante do fim da actividade endócrina dos ovários. Estas modificações não são as mais importantes no organismo feminino, mas tornam-se mais evidentes devido ao facto de serem detectadas pelo olhar, mesmo não sendo muito acentuadas e, por vezes, constituem um sinal que evidencia a chegada da menopausa.

Pele. A partir da menopausa verifica-se uma paulatina redução da espessura da pele, que também se torna mais seca e menos elástica. Vários factores, combinados entre si, provocam estas alterações. Por um lado, a regeneração das células da epiderme torna-se mais lenta e, com isso, produz-se uma progressiva atrofia da camada cutânea superficial, com um emagrecimento mais ou menos evidente, dependendo do caso. Por outro lado, também diminui a irrigação sanguínea cutânea e isso implica a perda de uma determinada proporção de água retida na pele com a sua consequente desidratação.

Na derme, observa-se uma diminuição do número de fibroblastos, as células produtoras de fibras de colagénio e elastina, cujas características se modificam. Assim, as fibras de colagénio aumentam de volume e tornam-se menos solúveis, enquanto que as fibras de elastína diminuem, factor responsável pelo aparecimento de rugas. Por último, não é de estranhar que haja uma alteração na função dos melanócitos, as células que produzem o pigmento cutâneo e, nesse caso, podemos assistir ao aparecimento de típicas manchas cutâneas.

Pêlos. O défice de estrogénios implica um aumento relativo dos níveis de androgénios, hormonas masculinas produzidas pelas glândulas supra-renais, e tal desequilíbrio repercute-se nas características do cabelo e dos pêlos corporais. Por um lado, costuma-se verificar perda de cabelo, que se torna mais fino e frágil, embora em poucos casos se assista ao desenvolvimento de alopecia e, por vezes, também se tornam mais fracos os pêlos axilares e púbicos, onde se modifica a típica distribuição triangular. Por outro lado, por vezes, também se verifica um aumento da pilosidade.

Unhas. A partir da menopausa, as unhas crescem mais lentamente e, com o passar do tempo, tendem a engrossar e, ocasionalmente, apresentam estrias longitudinais. Além disso, não é raro tornarem-se opacas e mais quebradiças.

Repercussões no aparelho reprodutor

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O défice estrogénico faz-se sentir, sobretudo, a nível do aparelho reprodutor, especialmente dependente das influências hormonais, e dá lugar a progressivas modificações nos órgãos genitais e nos seios.

Os genitais externos sofrem uma perda de trofismo, que se torna perceptível do exterior e, por vezes, provoca alguns inconvenientes. Por um lado, produz-se uma progressiva redução de tamanho e perda de firmeza dos lábios vulvares, que se tornam mais finos. Por outro, também se dá uma progressiva atrofia da mucosa vaginal, que também se torna mais fina, ao mesmo tempo que se verifica uma diminuição das secreções da vagina e uma redução da sua irrigação sanguínea. Estas modificações, embora não em todos os casos, podem levar ao aparecimento de ardor na zona, por vezes muito incómodo, e também favorecem o aparecimento de dores durante as relações sexuais, devido a uma falta de resposta aos estímulos e a uma secura excessiva.

Também se dá uma progressiva atrofia dos genitais internos, com a consequente redução do volume dos ovários, das trompas de Falópio e do útero, embora essas alterações não sejam muito notórias - a maior parte das mulheres nem se apercebem delas. No entanto, em mulheres com predisposição constitucional, o défice estrogénico favorece uma debilidade dos músculos e ligamentos que mantêm o útero no sítio, o que pode provocar uma descida do órgão até à vagina - o prolapso uterino. Embora não se trate de um problema específico da menopausa, a diminuição dos níveis de hormonas femininas própria do climatério constitui um factor que, por vezes, propicia o seu desencadeamento ou agravamento.

Os seios também sentem o défice hormonal, pois perdem os estímulos que ciclicamente provocam o desenvolvimento e posterior involução das glândulas mamárias. De facto, o tecido glandular sofre uma progressiva atrofia e é substituído por tecido adiposo, com o qual os seios perdem a sua firmeza e se tornam menos consistentes.

Repercussões no aparelho urinário

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As alterações hormonais próprias do climatério têm no aparelho urinário várias repercussões, directas ou indirectas, porque os tecidos dos próprios órgãos que o integram e dos que constituem a base da pélvis são sensíveis aos estrogénios.

Em primeiro lugar, o défice de estrogénios implica uma certa atrofia da bexiga, cujo tamanho diminui ao mesmo tempo que a sua musculatura perde vigor, diminuindo a capacidade do órgão e, habitualmente, aumentando o número de micções. Além disso, aumenta a sensibilidade das paredes da bexiga, principalmente no que se refere à sensação de estar cheia, aumentando os casos de urgência em urinar, embora cada micção seja escassa. Por vezes, a vontade de urinar é tão intensa que a mulher nem tem tempo de chegar à casa de banho e dá-se um episódio de incontinência urinária de urgência.

Em segundo lugar, o défice de estrogénios também provoca um relaxamento dos músculos e ligamentos da base da pélvis, havendo um maior risco de cistocelo, um tipo de prolapso caracterizado por uma descida da bexiga e a sua protrusão sobre a parede anterior da vagina. Assim, à sensação de ter a bexiga sempre cheia, embora haja micções frequentes, mas sem-pre pouco abundantes, por vezes juntam-se episódios de incontinência urinária de esforço, com perdas involuntárias de urina ao levantar um objecto pesado, ao tossir ou ao rir.

Por outro lado, todas as repercussões descritas favorecem o desenvolvimento de inflamações, cistite ou uretrite, que aumentam nesta fase da vida.

Repercussões no aparelho cardiovascular

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Durante a fase reprodutora feminina, os estrogénios desempenham um papel protector contra as doenças cardiovasculares, especialmente no que se refere à doença coronária e à sua principal consequência, o enfarte do miocárdio. Estes factores foram constatados de um ponto de vista estatístico, pois em estudos efectuados sobre o assunto pôde verificar-se claramente que há um aumento da incidência de enfartes na população feminina depois da menopausa, assim como em trabalhos experimentais que explicam o papel protector dos estrogénios. Por um lado, estas hormonas têm efeitos benéficos no metabolismo dos lípidos, reduzindo os níveis sanguíneos da fracção de colesterol prejudicial, e exercem uma acção inibidora sobre a formação de placas de ateroma nas paredes arteriais. Por outro lado, os estrogénios também participam no controlo do tónus vascular e da pressão arterial, cujas alterações constituem factores de risco da aterosclerose e da doença coronária. O défice de estrogénios pode ser considerado por si só um factor de risco para a patologia cardiovascular, sobretudo quando associado a outros bem conhecidos, como o tabagismo, por exemplo, o que explica que a incidência da doença coronária nas mulheres na pós-menopausa se aproxime progressivamente da prevalência desta doença nos homens.

Repercussões no aparelho locomotor

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As repercussões da menopausa no aparelho locomotor fazem-se sentir particularmente nos ossos, porque o metabolismo do tecido ósseo é influenciado, entre outros factores, pelas hormonas sexuais. Nos ossos existem diferentes tipos de células especializadas: enquanto que umas se encarregam de produzir tecido ósseo novo, outras são responsáveis por eliminar o tecido ósseo desvitalizado e do equilíbrio na actividade de ambos os tipos depende a contínua remodelação do osso e a qualidade do tecido ósseo. Os estrogénios estimulam a actividade das células que formam o osso e, por isso, a menopausa com o consequente défice estrogénico implica uma perda progressiva de massa óssea - trata-se da osteoporose pós-menopáusica.

É importante referir que a massa óssea aumenta com a idade até alcançar um pico máximo na terceira década de vida, um pouco mais tarde no homem do que na mulher, seguindo-se o início de uma perda progressiva. No entanto, enquanto esta perda óssea fisiológica é linear no homem durante o resto da vida, na mulher ocorre um aspecto particular: nos anos que se seguem à menopausa aumenta notoriamente e determina uma grande diminuição da massa óssea, até que o organismo se adapte às novas circunstâncias e a situação se normalize. Acontece em todas as mulheres, mas nas que têm um "capital ósseo" reduzido ou nas que a perda é mais acentuada, a diminuição da massa óssea ultrapassa certos limites e pode-se falar propriamente de osteoporose - os ossos tornam-se demasiado frágeis, o que pode provocar consequências nefastas. A alteração leva alguns anos a instaurar-se e a tornar-se evidente, mas nessa altura surgem dores mais ou menos localizadas ou difusas e uma fragilidade óssea que implica risco de fracturas perante traumatismos pouco intensos ou mesmo espontâneas.

Informações adicionais

Vaginite atrófica

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A vagina é revestida internamente por um epitélio constituído por várias camadas de células, cuja renovação é estimulada pelos estrogénios. É natural que a diminuição dos níveis destas hormonas leve a um abrandamento da proliferação celular e, em consequência, a um adelgaçamento do epitélio vaginal. De facto, à diminuição da irrigação sanguínea da zona, regulada também pelos estrogénios, juntam-se outras consequências. Por um lado, com o adelgaçamento do epitélio as terminações nervosas existentes na derme ficam mais próximas da superfície, aumentando a sensibilidade da zona. Por outro lado, há uma maior sensibilidade ao desenvolvimento de processos inflamatórios e uma menor resposta aos estímulos sexuais, com falta de lubrificação, à qual se junta o aparecimento de prurido. Quer os incómodos locais quer as dificuldades nas relações sexuais, favorecidas por estas alterações, podem ser solucionados com um tratamento local de substituição, assim como através da aplicação local de cremes lubrificantes.

O médico responde

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Coincidindo com a menopausa surgiram-me rugas no rosto. O que posso fazer para eliminá-las?

O défice hormonal próprio da menopausa repercute-se em todo o organismo, mas é mais notório na pele e, especialmente, na do rosto, onde se costuma notar mais a passagem do tempo. Entre outras consequências, costumam acentuar-se as pequenas rugas da parte lateral dos olhos, o que se conhece por "pés de galinha"; por vezes, também surgem rugas no lábio superior e acentuam-se os vincos que vão desde os dois lados do nariz até às comissuras labiais, o que constitui para muitas mulheres um motivo de preocupação. Existem muitas terapêuticas para combater o envelhecimento facial, principalmente quando é muito evidente e prematuro, embora a escolha deva ter em conta diversos parâmetros e, por isso, tem que ser individualizada. De início, um tratamento hormonal de substituição é eficaz, mantendo a pele do rosto mais viçosa, e não podem desdenhar-se os resultados, embora limitados, dos produtos cosméticos à base de colagénio e elastina. No entanto, existem outros procedimentos que, embora mais agressivos, são mais eficazes. Por um lado, pode-se recorrer ao peeling, tratamento que serve para estimular a renovação das células epidérmicas e permite corrigir as rugas faciais que surgem nesta época. Por outro lado, também se pode recorrer à cirurgia plástica, em especial quando há uma flacidez da pele do rosto que não se consegue dissimular com outros recursos. A operação mais utilizada é o lifting, com a extracção da pele em excesso, cujos resultados costumam ser satisfatórios.

Prevenção da osteoporose pós-menopáusica

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Em todas as mulheres ocorre uma aceleração da perda de massa óssea durante o climatério, de maior intensidade nos primeiros cinco anos a seguir à menopausa. No entanto não se desenvolve em toda a população feminina pós-menopáusica uma osteoporose sintomática - o défice de estrogénios é um factor de extrema importância na génese deste problema, mas não é o único.

Neste sentido, convém realçar a importância da actividade física, tanto a que se desenvolve nesta fase da vida, como na fase de formação do esqueleto: o pico máximo de massa óssea é adquirido por volta dos 35 anos e é nesta altura que se forma o "capital ósseo" que posteriormente se irá perdendo progressivamente. Assim, visto que o exercício estimula a formação de tecido ósseo, a prática de uma actividade física regular desde a juventude constitui uma verdadeira medida preventiva da osteoporose pós-menopáusica. Existem igualmente evidências de que a quantidade de cálcio consumida durante a infância e a adolescência é um dos principais factores determinantes do conteúdo de massa óssea no período do climatério - é fundamental assegurar uma adequada ingestão deste mineral no período de crescimento e também na mulher adulta, calculando-se que as necessidades são de 800-1200 mg/dia para a mulher de 40 anos e de 1200-1500 mg/dia para a mulher na pós-menopausa.

Para saber mais consulte o seu Obstetrícista / Ginecologista
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