Cancro da mama

O cancro da mama é o tumor maligno mais frequente no sexo feminino e de maior índice de mortalidade, embora tenha grandes possibilidades de cura, se for detectado nas fases iniciais da sua evolução.

Causas

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O cancro da mama deve-se à transformação maligna de células pertencentes às estruturas mamárias, que adquirem características atípicas, proliferam de forma exagerada e constituem um tumor. Tendem a invadir os tecidos saudáveis vizinhos e a propagar-se por via linfática e sanguínea a outros sectores do organismo para gerar tumores malignos secundários ou metástases. A causa directa desta transformação anómala ainda não se conhece, mas foram determinados alguns factores que podem agir como promotores do início ou do desenvolvimento do cancro da mama.

Sabe-se, por exemplo, que a hereditariedade pode influenciar o desenvolvimento do cancro da mama, como se verifica em algumas famílias em que a doença se apresenta em vários dos seus membros. Na verdade, isto não significa que o cancro da mama seja hereditário, mas que se pode transmitir uma predisposição especial para se sofrer da doença, a qual apenas se desenvolve quando coincidem outros factores. Se até há pouco tempo ainda se ignorava o mecanismo de transmissão genética desta predisposição, actualmente, conhecem-se algumas alterações cromossómicas específicas responsáveis.

Outro factor envolvido no desenvolvimento do cancro da mama parece estar relacionado com o nível de exposição da mulher à acção dos estrogénios. De facto, foi possível constatar que apresentam maior risco as mulheres que têm a sua primeira menstruação mais cedo e a menopausa mais tarde, as que não têm filhos ou têm o primeiro já tarde e as que não amamentam ou têm um período de amamentação curto. Também a administração externa de estrogénios, se não for combinada com a administração de progesterona, tende a correlacionar-se com uma maior incidência de cancro da mama.

Alguns estudos sugerem que determinados factores nutricionais podem influenciar o aparecimento do cancro da mama. Concretamente, as mulheres que seguem uma dieta rica em gorduras e com um elevado conteúdo em proteínas correm mais riscos. Além disso, constatou-se que algumas formas de cancro se desenvolvem especialmente em seios volumosos, com um grande depósito de tecido adiposo.

Finalmente, sabe-se que existem também factores externos que podem agir como indutores ou favorecedores do desenvolvimento do cancro da mama, como a exposição frequente a radiações.

Evolução e manifestações

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Em termos gerais, costuma passar um período prolongado (alguns meses e até mesmo anos) desde que ocorre a transformação maligna de algumas células mamárias até que se constitui uma massa tumoral no ponto de origem. Fala-se, então, de carcinoma in situ, designando assim a lesão cancerosa que se mantém dentro dos limites anatómicos da estrutura normal da mama. Nesta fase, o tumor costuma ser ainda totalmente silencioso, pois não dá lugar a qualquer sinal ou sintoma e apenas pode ser detectado, quando adquire um tamanho suficiente, ao realizar um exame radiológico de rotina, caso se descubra um nódulo no peito ou uma deformação do contorno da mama, como acontece, por vezes, quando é muito superficial. A detecção do tumor nesta fase evolutiva precoce oferece excelentes expectativas de cura.

Com o passar do tempo, mais tarde ou mais cedo, as células tumorais infiltram os tecidos saudáveis vizinhos, o que pode provocar alguns sinais e sintomas que provoquem suspeitas: uma retracção da pele da mama, uma alteração da forma da aréola, uma deformação do mamilo, etc. Se o tumor infiltrar a pele, a zona que o cobre pode ficar enrijecida, avermelhada e com um pequeno pontilhado na sua superfície, com o aspecto de casca de laranja. Em alguns casos, o tumor cresce rapidamente e provoca um considerável aumento do tamanho da mama afectada, verificando-se então uma diferença de volume mais ou menos notória entre os dois peitos.

Outra manifestação típica é o derrame de secreções pelo mamilo, cujas características podem ser muito variáveis: por vezes, sanguinolentas e, outras vezes, mais claras, turvas ou com aspecto leitoso. A secreção pode ser contínua ou esporádica, aparecer espontaneamente ou apenas quando se pressiona o peito - qualquer derrame de secreções pelo mamilo requer o diagnóstico da sua origem.

O passo evolutivo seguinte corresponde à propagação do tumor por via linfática: as células cancerosas penetram nos vasos linfáticos da mama e alcançam os gânglios da axila ou a fossa supraclavicular do lado afectado, que são invadidos e aumentam de tamanho, podendo detectar-se o seu crescimento através da palpação. Da mesma forma, as células cancerosas tendem a penetrar nos vasos sanguíneos e chegam a diversos pontos do organismo, podendo-se desenvolver metástases em órgãos como os pulmões, a pleura, os ossos e o fígado. Às lesões locais, à invasão e destruição dos tecidos mamários, somam-se neste estádio evolutivo as manifestações derivadas do crescimento dos tumores secundários, que podem ser muito variadas dependendo do tipo de órgãos afectados.

Nas fases mais avançadas, observam-se os sinais e sintomas próprios de uma doença grave e progressiva como é o cancro: perda de apetite, diminuição do peso corporal, sensação de debilidade e prostração. Neste estádio evolutivo, é habitual existirem complicações mortais.

Diagnóstico

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O cancro da mama costuma ser diagnosticado a partir da detecção de um nódulo ou de outra alteração no peito, detectados pela própria mulher durante um auto-exame ou pelo médico durante uma consulta de rotina. Quando o tumor é pequeno, a sua detecção é mais difícil, mas ao mesmo tempo oferece melhores hipóteses de cura, pois muitas vezes é possível extraí-lo por completo.

Perante qualquer suspeita, o médico procede a uma minuciosa inspecção e palpação da mama e dos gânglios linfáticos da axila. Caso detecte alguma anomalia, normalmente solicita uma mamografia, exame radiológico que, muitas vezes, permite descobrir os tumores mamários e delimitá-los, bem como uma ecografia, técnica baseada no uso de ultra-sons que permite distinguir as formações quísticas dos tumores sólidos.

O passo seguinte consiste em identificar a natureza do tumor, sendo necessário proceder-se a uma punção citológica: sob controlo ecográfico, executa-se uma punção com uma agulha fina, de modo a obter uma amostra do conteúdo da lesão que posteriormente é estudada ao microscópio no laboratório. Normalmente, os resultados desta análise são suficientes para determinar a natureza do tumor e classificar correctamente o seu tipo. Se os resultados não forem conclusivos, faz-se uma biopsia, colhendo uma pequena amostra da lesão através de uma intervenção cirúrgica simples.

Tratamento

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No tratamento do cancro da mama são utilizadas várias técnicas terapêuticas, cuja escolha e combinação dependem em cada caso das características do tumor, sobretudo do seu nível evolutivo e extensão.

A principal arma terapêutica continua a ser a cirurgia: ao ser diagnosticado um cancro da mama, é imediatamente ponderada a conveniência de extrair o tumor maligno e os tecidos invadidos pelas células cancerosas, embora o tipo de operação a efectuar dependa de diferentes variáveis. Se o tumor é pequeno e está bem localizado, sempre que se cumpram certos requisitos, pode-se proceder à extracção apenas do tumor, do tecido circundante e de uma margem de tecido saudável; esta técnica conservadora, denominada tumorectomia, requer sempre um tratamento complementar de radioterapia na mama operada. No entanto, a operação mais clássica é a mastectomia, que corresponde à extracção de todos os tecidos mamários, incluindo a aréola e o mamilo. Ambos os tipos de operação são complementados com a extracção dos gânglios linfáticos da axila do lado afectado, de modo a analisá-los e a comprovar se estão invadidos por células tumorais, informação de grande importância para decidir a acção terapêutica a adoptar posteriormente.

Outra arma terapêutica, normalmente combinada com a cirurgia, é a radioterapia, baseada na utilização de radiações ionizantes capazes de destruir as células cancerosas. Embora, por vezes, se recorra à radioterapia antes da cirurgia, para delimitar melhor o tumor, geralmente é aplicada depois da operação para destruir eventuais células cancerosas residuais. Existem diversos sistemas de radiação, cuja opção depende das características de cada caso. Normalmente, é feita uma irradiação externa sobre a mama, fraccionando a dose total em diversas sessões diárias para limitar os seus efeitos adversos e, em alguns casos, recorre-se à implantação de material radioactivo contido em agulhas na própria localização tumoral.

A quimioterapia é outro recurso terapêutico, baseado na administração de fármacos anticancerosos, utilizado principalmente como complemento da cirurgia e da radioterapia com a intenção de impedir a proliferação das células tumorais que podem ter-se propagado desde o foco primário a outros sectores do organismo ou quando tenham sido detectadas metástases. Os fármacos utilizados, administrados por via endovenosa, provocam diversos efeitos secundários incómodos, mas passageiros (perturbações gastrointestinais, queda de cabelo, etc.), embora provoquem, ocasionalmente, sequelas mais graves, como por exemplo uma inactivação da medula óssea e o consequente défice de células sanguíneas. Por isso, trata-se de um tratamento complexo que requer uma cuidadosa escolha dos fármacos utilizados e das doses utilizadas, avaliando os possíveis benefícios e desvantagens em cada caso.

Por fim, em alguns casos, pode-se recorrer também à hormonoterapia.

Visto que os tumores malignos da mama, compostos por células muito semelhantes às originais, costumam responder à influência das hormonas do tipo estrogénios, podem utilizar-se diversas estratégias para suprimir esse estímulo e, assim, inibir a proliferação das células cancerosas, sobretudo das que se tenham propagado a partir do foco primitivo. Desta forma, em alguns casos, utilizam-se fármacos que bloqueiam os receptores de estrogénios, administrados por via oral durante períodos prolongados, enquanto que noutros casos se recorre ao uso de fármacos que actuam sobre a hipófise e inibem a secreção de gonadotrofinas, com os quais se suprime a função ovárica e, portanto, a produção de estrogénios.

Informações adicionais

O médico responde

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Sofri uma pancada muito forte no peito e, embora a lesão causada já esteja curada, estou preocupada porque ouvi dizer que os traumatismos mamários podem favorecer no futuro o desenvolvimento de um cancro. É verdade?

Durante muito tempo pensou-se que uma pancada mais ou menos forte no peito podia induzir, ao fim de algum tempo, ao aparecimento de um cancro da mama e ainda há muita gente que pensa assim. No entanto, diversos estudos descartaram essa hipótese. Um traumatismo pode deixar como sequela um pequeno nódulo no peito, constituído por tecido cicatricial, mas a possibilidade de essa lesão degenerar num tumor canceroso é, se não impossível, pelo menos remota. Por isso, pode-se afirmar que as suas preocupações são infundadas.

Tipos

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Na mama podem originar-se diversas formas de cancro, derivadas da transformação maligna dos diferentes tipos celulares dos tecidos mamários.

O tipo mais frequente é o adenocarcinoma, originado nas células que constituem os ácinos e os canais das glândulas mamárias, do qual se distinguem múltiplas variedades. Uma das formas mais comuns corresponde ao carcinoma sólido, constituído por células que formam cordões, por vezes com fibras abundantes que lhe dão uma consistência dura, denominando-se tumor duro, e outras vezes com poucas fibras e por isso de consistência fraca, designado tumor mole. Também há uma variedade conhecida por carcinoma epidermóide, constituído por células grandes que, no seu crescimento, formam estruturas tubulares semelhantes às das glândulas mamárias.

Outro tipo de tumor maligno menos frequente denomina-se doença de Paget da mama. Esta forma tumoral tem origem nas células dos canais galactóforos; porém, em vez de crescer para o interior da mama, exterioriza-se através do mamilo e da aréola, originando alterações na pele desta parte da mama.

Um tipo muito menos frequente, mas de crescimento mais agressivo e rápido, é o sarcoma, originado no tecido conjuntivo que rodeia as glândulas mamárias.

Mamografia

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A mamografia é um tipo de radiografia especial que se pratica depois de colocar o seio sobre um suporte e comprimi-lo ao máximo entre duas placas de modo a obter, com uma dose mínima de radiações, uma imagem nítida dos tecidos mamários. Este exame é simples, de grande utilidade para detectar tumores da mama, quando ainda são pequenos, mesmo antes de poderem ser detectados à palpação: caso um cancro da mama seja descoberto nesta fase inicial, antes de infiltrar os tecidos saudáveis, as probabilidades de agir terapeuticamente com êxito são elevadíssimas, superiores a 90%. Por este motivo, a mamografia converteu-se numa ferramenta fundamental na luta contra o cancro da mama, uma vez que, se for realizada com regularidade mesmo na ausência de qualquer sinal ou sintoma, em muitos casos, permite detectar o eventual desenvolvimento de um cancro incipiente.

A importância deste método de rastreio é tal que foram estabelecidas recomendações básicas, considerando-se que todas as mulheres deveriam submeter-se a uma primeira mamografia até aos 35 anos de idade, de modo a ter uma referência para poder avaliar modificações posteriores; seguidamente, deverá fazer uma mamografia a cada dois anos, a partir dos 40 anos, e posteriormente uma mamografia anual, a partir dos 50 anos.

Sinais de alerta

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A detecção de qualquer dos seguintes sinais justifica uma consulta médica sem esperar pela próxima visita ginecológica programada:

• Aparecimento de secreções pelo mamilo.

• Retracções ou deformações do mamilo.

• Deformações, inclinações, deslocações ou modificações na aréola.

• Depressões ou retracções da pele da mama.

• Proeminências na superfície da mama.

• Deformações do contorno da mama.

• Endurecimento ou vermelhidão numa zona da pele da mama.

• Notório aumento do tamanho de um seio em relação ao outro.

• Palpação de um nódulo na espessura da mama.

• Inflamação dos gânglios linfáticos da axila ou da fossa supraclavicular.

• Dor na mama.

Para saber mais consulte o seu Cirurgião Geral ou o seu Obstetrícista / Ginecologista
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