O cancro do corpo do útero é o segundo mais comum dos tumores que surgem no aparelho genital feminino, devido ao facto de a sua incidência ter sofrido um aumento progressivo nos últimos anos.
Causas
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O cancro do corpo do útero costuma ser provocado por uma transformação anómala das células pertencentes ao epitélio glandular do endométrio, a mucosa que reveste a cavidade uterina, o que justifica o facto de, na maioria dos casos, corresponder ao tipo denominado adenocarcinoma. Embora possam surgir outros tipos de tumores, é a este que se faz referência quando normalmente se fala de cancro do corpo do útero.Embora ainda não se conheçam com precisão, à semelhança de todos os cancros, as causas da transformação maligna das células endométricas que proporciona a formação do cancro, pensa-se que o desenvolvimento da alteração é favorecido pela existência de níveis elevados e persistentes de estrogénios. De facto, identificou-se uma série de factores de risco para o desenvolvimento deste cancro correspondentes a circunstâncias que provocam o aumento persistente dos níveis de estrogénios, o que faz com que a sua incidência seja, por exemplo, maior em mulheres que não tenham tido filhos e nas que são afectadas pela menopausa em idade avançada. De qualquer forma, constatou-se que, por razões desconhecidas, afecta com maior frequência mulheres obesas e as afectadas por diabetes e/ou hipertensão arterial.Por fim, deve-se destacar que, por vezes, o cancro do corpo do útero é provocado pela transformação maligna de tumores benignos prévios, como ocorre em cerca de 5% dos casos dos pólipos endométricos.
Evolução
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O desenvolvimento do cancro do corpo do útero é progressivo e compreende várias fases. De início, as células anómalas restringem-se à camada superficial do endométrio, onde formam um carcinoma in situ que pode permanecer assintomático.Todavia, com o passar do tempo, as células cancerosas tem a tendência para superarem um determinado limite, formando um tumor que, para além de crescer até à entrada do órgão, se prolonga em profundidade através da parede uterina, penetrando na camada muscular (miométrio). Em seguida, as células do tumor vão progressivamente infiltrando-se nos tecidos saudáveis e invadindo os órgãos adjacentes, nomeadamente o colo do útero, a vagina, as trompas de Falópio, os ovários e outras estruturas da pélvis. Ao mesmo tempo, têm a tendência para se disseminarem por via linfática e sanguínea até alcançarem os gânglios linfáticos regionais e outros órgãos mais ou menos afastados do foco original, como os pulmões, o fígado ou os ossos, onde formam metástases, ou seja, tumores malignos secundários.
Manifestações
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Antes de mais, deve-se referir que as manifestações apenas se costumam evidenciar quando o tumor adquire um determinado volume. As mais frequentes correspondem a hemorragias vaginais provocadas por pequenas erosões do próprio tumor, que costuma ser muito frágil e sangrar facilmente. As mulheres que ainda se encontrem na etapa reprodutiva evidenciam alterações do ciclo menstrual ou hemorragias intermenstruais, enquanto que as mulheres pós-menopáusicas, as principais afectadas pela patologia, manifestam hemorragias vaginais de tecidos.Como são constituídas por sangue coagulado, as hemorragias são, na maioria dos casos, pequenas e de sangue fresco ou de um fluido sanguinolento de tonalidade mais escura. O mero facto de apresentar sangue com a tendência para se coagular é um sinal que deve ser considerado suspeito, já que o sangue pertencente às hemorragias menstruais não tem a tendência para formar coágulos. Embora estas hemorragias sejam, por vezes, provocadas de forma espontânea, na maioria dos casos, são originadas por atritos ou compressões sobre o útero, como ocorre no coito ou durante a defecação.Caso o problema, nas fases mais avançadas, ainda não tenha sido diagnosticado e tratado oportunamente, o tumor continua a irradiar-se, originando outras manifestações. A mais comum é o aparecimento de dor na zona inferior do abdómen, normalmente provocada pela compressão exercida pelo tumor sobre o próprio útero ou sobre as estruturas vizinhas. Caso o tumor seja volumoso, costuma-se evidenciar uma sensação de desconforto abdominal contínua. Para além disso, como o tumor pode comprimir os uréteres e a bexiga, por vezes, origina um aumento da frequência das micções, uma falsa necessidade de urinar ou até mesmo a obstrução das vias urinárias.Posteriormente, evidenciam-se as manifestações provocadas pelas metástases, que apenas excepcionalmente são as primeiras a ser detectadas: dilatação dos gânglios linfáticos da virilha ou outras regiões corporais, dores ósseas, caso se localizem nos ossos, tosse e sensação de falta de ar, caso afectem os pulmões, entre outras.As etapas mais avançadas da doença caracterizam-se por uma progressiva deterioração do estado geral, que se manifesta através de perda de apetite, emagrecimento, debilidade e mal-estar, o que proporciona um quadro que favorece o aparecimento de vários problemas, nomeadamente infecções, anemia grave, problemas na coagulação e insuficiência respiratória, alterações que costumam preceder o aparecimento de complicações fatais.
Informações adicionais
Prognóstico
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O prognóstico do cancro do corpo do útero é muito variável, pois depende bastante do momento de evolução em que se efectua o diagnóstico e se procede ao tratamento.
Caso se proceda ao tratamento quando o tumor ainda afecta apenas o útero e não tenha invadido outros órgãos, o índice de sobrevivência ao fim de cinco anos é quase de 90%.
Todavia, caso o tumor se encontre, no momento do diagnóstico, mais disseminado, o prognóstico é muito menos favorável, embora se possa prolongar e melhorar a qualidade de vida numa percentagem cada vez mais elevada das mulheres afectadas através dos avanços e aperfeiçoamentos ocorridos no seu tratamento nos últimos anos.
Tratamento
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Embora dependa da fase evolutiva em que se efectua o diagnóstico do tumor, o tratamento normalmente baseia-se na cirurgia.
Caso o tumor ainda se encontre nas fases iniciais de desenvolvimento, o tratamento consiste essencialmente na cirurgia, em que se deve proceder à extracção do útero (histerectomia), anexetomia bilateral (excisão das trompas de Falópio e ovários) e, conforme o grau de invasão do miométrio, também dos gânglios linfáticos da região.
A cirurgia pode ser complementada com outros métodos terapêuticos, cuja utilização deve ser seleccionada em função das informações obtidas sobre o tipo histológico do tumor, o grau de infiltração do miométrio e a sua eventual extensão aos gânglios linfáticos e outras estruturas. O principal recurso consiste na radioterapia, ou seja, na utilização de radiações ionizantes, independentemente de ser antes ou depois da intervenção, podendo-se utilizar a radioterapia externa, através da aplicação de radiações a partir do exterior do organismo que incidem sobre o tumor, ou através da radioterapia interna, através da introdução no aparelho genital de material radioactivo presente em vários dispositivos colocados temporariamente no próprio tumor ou muito próximo do mesmo. Outras técnicas complementares são a hormonoterapia, através da administração de produtos hormonais que consigam diminuir os níveis de estrogénios, e a quimioterapia, através da administração de medicamentos anticancerosos.
Quando se procede ao diagnóstico do cancro em fases avançadas, deve-se recorrer à combinação de hormonoterapia, radioterapia e quimioterapia, avaliando em cada caso a possibilidade de proceder a um tratamento cirúrgico.