Aparelho genital feminino - fisiologia

O aparelho genital feminino desenvolve uma actividade cíclica que se inicia na puberdade e se prolonga até à menopausa, de modo a possibilitar, em particular, a reprodução.

Controlo hormonal

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A actividade do aparelho genital feminino é controlada pelo hipotálamo e pela hipófise, duas pequenas glândulas pertencentes ao sistema endócrino, localizadas na base do cérebro, que produzem hormonas, cujos efeitos sobre os ovários controlam o seu funcionamento. De facto, o aparelho genital feminino permanece inactivo durante toda a infância e apenas começa a funcionar a partir da puberdade, quando uma espécie de "relógio biológico" determina, por mecanismos ainda desconhecidos, que o hipotálamo comece a elaborar de maneira cíclica hormonas especiais, denominadas FSH-RH e LH-RH, as quais actuam sobre a hipófise e estimulam a produção, nesta glândula, das hormonas que controlam o funcionamento dos ovários. Esta influência hormonal faz com que a hipófise liberte de forma cíclica duas hormonas normalmente designadas como gonadotrofinas: a hormona estimulante do folículo, ou FSH, e a hormona luteinizante, ou LH.

Estas hormonas controlam a actividade dos ovários através da estimulação cíclica do crescimento de determinados folículos ováricos, da síntese de hormonas sexuais femininas (estrogénios e progesterona) e da ovulação, num processo denominado "ciclo ovárico". Por sua vez, as hormonas produzidas pelos ovários, entre outros efeitos, preparam ciclicamente o útero para que, em caso de eventual fecundação, possa acolher o embrião e possibilitar o desenvolvimento de uma gravidez, no designado "ciclo menstrual".

Ciclo Ovárico

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No momento do nascimento, os ovários humanos são constituídos por cerca de 400 000 folículos primários, cada um dos quais composto por um ovócito primário, que corresponde a uma célula reprodutora imatura. A partir da puberdade, o estímulo das gonadotrofinas hipofisárias que chegam aos ovários através da circulação proporciona o amadurecimento progressivo dos folículos. Visto que as gonadotrofinas são produzidas em quantidades oscilantes, a actividade dos ovários desenvolve-se em ciclos com uma duração aproximada de 28 dias.

Cada ciclo inicia-se através do aumento dos níveis da gonadotrofina FSH, uma hormona que proporciona o desenvolvimento de vários folículos primários e o amadurecimento dos ovócitos primários presentes no seu interior, embora o processo apenas seja, em cada ciclo, completado por um folículo. O crescimento de um folículo primário começa com o aumento de volume e multiplicação das células foliculares, o que proporciona a formação da denominada camada granulosa. Ao mesmo tempo, o ovócito primário inicia um processo de amadurecimento, no qual aumenta de tamanho e forma uma membrana denominada zona pelúcida à sua volta, rodeada por uma camada de células foliculares designada coroa radiada.

O progressivo crescimento do folículo origina uma acumulação de líquido no seu centro, proporcionando a formação de uma cavidade, o que provoca a deslocação do ovócito, e das células que o rodeiam, para um pólo. Entretanto, o estroma ovárico que rodeia o folículo constitui uma espécie de membrana diferenciada em duas camadas: a teca interna, formada essencialmente por células e abundantes capilares sanguíneos, e a teca externa, composta essencialmente por fibras conjuntivas. A influência da FSH faz com que as células da teca interna comecem a elaborar hormonas femininas do tipo estrogénios, que passam para a circulação, de modo a aumentar progressivamente os seus níveis. A partir do momento em que os níveis de estrogénios já são elevados, a hipófise começa igualmente a segregar LH, uma gonadotrofina que estimula a última fase do crescimento do folículo.

Cerca de catorze dias após o início do ciclo, as alterações descritas proporcionam a transformação de um dos folículos primários num folículo maduro, denominado folículo de De Graaf, enquanto que a paragem do desenvolvimento dos restantes nas fases intermédias, provoca a atrofia dos mesmos (folículos atrésicos). O folículo de De Graaf alcança um diâmetro de 1 cm e forma uma proeminência na superfície do ovário, em cujo interior o processo de diferenciação do ovócito primário origina a formação de uma célula reprodutora feminina madura denominada óvulo. Nesta fase, o óvulo e as células da coroa radiada que o rodeiam desunem-se da parede do folículo e começam a flutuar no líquido folicular, provocando um aumento tão significativo da sua quantidade que as camadas celulares que o acolhem ficam muito distendidas e finas, ocorrendo o rompimento do folículo de De Graaf, que se abre na superfície do ovário e expulsa para o exterior o líquido folicular, onde o óvulo flutua, e as células da coroa radiada - este processo designa-se ovulação.

Após a ovulação, a influência da LH proporciona a transformação da camada granulosa e da teca interna, que permanecem no ovário numa estrutura denominada corpo lúteo ou amarelo, cujas células continuam a segregar estrogénios e, a partir desse momento, começam igualmente a produzir um outro tipo de hormona feminina, a progesterona, cuja principal função consiste em preparar o útero para a eventual chegada de um óvulo fecundado. Caso não se produza a fecundação, devido ao facto de a hipófise apenas segregar LH durante alguns dias, o corpo lúteo vai progressivamente deixando de elaborar hormonas, atrofia-se e transforma-se, ao fim de 10 a 14 dias, numa estrutura cicatricial inactiva denominada corpo branco. Por outro lado, em caso de produção de fecundação e consequente gravidez, a hormona gonadotrofina coriónica (HCG), segregada pelo produto da gestação, mantém o corpo lúteo em funcionamento, de modo a continuar a elaborar progesterona durante alguns meses, acabando posteriormente por se atrofiar e deixar uma pequena cicatriz no ovário.

Ciclo mestrual

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Embora os efeitos das típicas oscilações dos níveis das hormonas sexuais, os estrogénios e a progesterona, consequentes de cada ciclo ovárico, se façam sentir em todo o organismo, afectam de maneira específica o útero. De facto, como o útero se encarrega de acolher o produto de uma eventual fecundação, deve preparar essa possibilidade consoante cada ciclo ovárico. Em concreto, as alterações proporcionadas pelas hormonas femininas ocorrem, sobretudo, no endométrio, a camada mucosa que reveste a cavidade uterina, que se reproduz constantemente para se adaptar à possível implantação de um embrião e que, caso não se produza a fecundação, acaba por se descamar, originando a menstruação. Todo este processo designa-se ciclo menstrual.

O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação, através da típica hemorragia vaginal que periodicamente se evidencia em todas as mulheres desde a puberdade até à menopausa e tem uma duração média de 28 dias, chegando ao fim com o início de uma nova menstruação.

Na primeira parte do ciclo menstrual, denominada fase proliferativa ou folicular, os estrogénios produzidos pelos folículos ováricos, que chegam ao útero através da circulação sanguínea, provocam a replicação activa das células do endométrio e o crescimento das suas glândulas e vasos sanguíneos, o que proporciona o aumento da espessura do endométrio, de modo a preparar-se para acolher um possível óvulo fecundado. Esta fase prolonga-se até à ovulação, praticamente a meio do ciclo ovárico.

Na segunda parte do ciclo menstrual, que começa depois da ovulação, designada como fase secretora ou luteínica, a contínua dilatação do endométrio, graças aos efeitos da progesterona elaborada pelo corpo lúteo, faz com que as suas glândulas se tornem activas e com que a vascularização alcance o seu desenvolvimento máximo, o que prepara o endométrio para a eventual chegada de um óvulo fecundado.

Caso efectivamente se produza a fecundação do óvulo libertado pelo ovário ao longo desse ciclo, o produto da gestação manterá a actividade do corpo lúteo e a sua elaboração de progesterona, através da secreção de hormonas específicas, de modo a garantir a permanência do endométrio na fase secretora ao longo de toda a gravidez, momento em que cessam as menstruações.

Por outro lado, caso não se produza a fecundação, o corpo láteo atrofia-se e deixa de produzir hormonas femininas, o que provoca uma profunda modificação do endométrio, já que a brusca diminuição dos níveis hormonais provoca a perda da vitalidade das células do endométrio, a interrupção da actividade das glândulas e o espasmo dos seus vasos sanguíneos. Tudo isto faz com que, cerca de vinte e oito dias após o início do ciclo, o endométrio comece a descarnar-se, o que provoca a menstruação, ou seja, a expulsão de sangue e restos de tecido do endométrio através da vagina durante três a cinco dias. Embora o fim da menstruação provoque a diminuição da extremidade do endométrio, o imediato aumento dos níveis de estrogénios provocado pelo desenvolvimento de outros folículos no ovário proporciona a regeneração correspondente ao novo ciclo, sendo assim de maneira ininterrupta até à época da menopausa, excepto em caso de gravidez.

Da menarca à menopausa

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A actividade do aparelho genital inicia-se na puberdade, coincidindo com o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, graças à activação do "relógio biológico" do eixo hipotálamo-hipofisário, o que proporciona o início da etapa reprodutora feminina, ou seja, a época em que a mulher é capaz de ter filhos.

O início desta etapa é marcado pela primeira menstruação, denominada menarca, que normalmente ocorre entre os 10 e os 14 anos, constituindo um sinal do desencadeamento dos ciclos ováricos controlados pela actividade do hipotálamo e da hipófise. A partir dessa altura, os ciclos menstruais repetem-se ininterruptamente, à excepção dos períodos em que a mulher fica grávida. Embora a mulher, no momento do nascimento, apresente na sua constituição cerca de 400 000 folículos ováricos, ao longo da etapa reprodutora apenas amadurecem entre 400 e 500, tantos quantos os ciclos ováricos produzidos, enquanto que os restantes vão-se atrofiando progressivamente sem chegarem a amadurecer. Entre os 45 e os 50 anos de idade, os únicos folículos capazes de responderem à influência das gonadotrofinas hipofisárias são os folículos ováricos primários, pois com o passar dos anos vão amadurecendo cada vez menos folículos e as secreções hormonais dos ovários vão, igualmente, sendo menores. Em seguida, começa um período denominado dimatério, ao longo do qual as menstruações se tornam irregulares e se evidencia uma série de modificações orgânicas que expressam a redução do número de hormonas femininas. Por fim, chega o momento em que os ciclos ováricos deixam de se produzir por completo, o que evidencia a menopausa, ou seja, a paragem das menstruações e o fim da etapa reprodutora feminina. A última menstruação costuma manifestar-se por volta dos 50 anos de idade, embora seja perfeitamente normal que a paragem das menstruações se produza alguns anos antes ou depois, entre os 45 e os 55 anos.

Informações adicionais

Ovulação e possível fecundação

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A ovulação corresponde à ruptura do folículo ovárico amadurecido, denominado folículo de De Graaf, e à consequente libertação do óvulo. Embora o processo de amadurecimento, normalmente, apenas seja completado na totalidade por um folículo ovárico, por vezes, existem dois ou mais que o conseguem, com a consequente libertação de outros tantos óvulos e a possibilidade de uma gravidez de gémeos. A "explosão" do folículo processa-se a meio do ciclo ovárico, cerca do 14° dia, originando a saída do líquido folicular presente no ovário, no interior do qual flutua o óvulo rodeado pelas células da coroa radiada. Como o óvulo passa pela entrada da trompa de Falópio, acaba por penetrar no interior desta, avançando pelo seu interior em direcção ao útero graças às contracções sequenciais dos septos do tubo e aos movimentos compassados dos cílios das células que revestem o seu interior - caso se encontre, ao longo deste trajecto, com espermatozóides previamente depositados na vagina que tenham atravessado o útero e penetrado na trompa, de modo a avançarem em direcção inversa, é possível que se produza a fecundação. Neste caso, o óvulo fecundado continua a avançar através da trompa de Falópio em direcção ao útero para, ao fim de uma semana e depois de já se ter convertido num incipiente embrião, implantar-se na parede interna do corpo e continuar o seu desenvolvimento.

Síndrome pré-menstrual

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Para além de provocarem as modificações uterinas próprias do ciclo menstrual, as hormonas sexuais femininas produzidas pelos ovários têm efeitos sobre outros sectores do organismo, como por exemplo os seios, que passam por alterações típicas ao longo de toda a etapa reprodutora feminina, já que à medida que um ciclo se vai sobrepondo a outro, vão aumentando de volume e esticando-se. Todavia, os efeitos das hormonas sexuais são muito difusos, pois afectam todo o organismo. De facto, a temperatura basal do corpo (em situação de repouso) na mulher passa, ao longo de cada ciclo, por oscilações provocadas pelas alterações dos níveis hormonais, já que a partir da ovulação, altura em que os ovários começam a segregar progesterona, aumenta aproximadamente 0,5°C, um aumento que se mantém até à menstruação seguinte, altura em que desce para a temperatura anterior. Esta oscilação da temperatura do corpo é tão característica que o seu registo é utilizado para avaliar o funcionamento dos ovários e até para a adopção de determinados métodos contraceptivos naturais. Um outro efeito específico da hormona progesterona, ao longo da segunda fase do ciclo, corresponde à retenção de líquidos no organismo, o que pode originar um ligeiro aumento de peso e congestão em algumas zonas do corpo, sobretudo nos seios e abdómen. Por vezes, as repercussões são muito evidentes, provocando determinados problemas nos dias que precedem a menstruação: dores nas costas e de cabeça, alterações digestivas, um estado de nervosismo ou mesmo irritabilidade e depressão... É a denominada "síndrome pré-menstrual" que, embora seja praticamente inexistente em muitas mulheres, noutras é de tal forma evidente que perturba as suas actividades quotidianas ao longo de um ou dois dias, antes e depois da menstruação.

Para saber mais consulte o seu Obstetrícista / Ginecologista
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