Apesar de a origem do cancro encerrar ainda várias interrogações, hoje em dia, sabe-se que o seu aparecimento não tem uma causa única e já muito se avançou no conhecimento dos factores que induzem ou favorecem o seu desenvolvimento.
Factores genéticos
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A reprodução das células está regulada por determinados genes presentes na dotação cromossómica que, através de mecanismos ainda não bem esclarecidos, colocam em marcha e moldam o mecanismo da divisão celular. Normalmente, estes genes activam-se, seja por condicionantes internos ou influenciados por factores de crescimento, na medida exacta para propiciar o desenvolvimento e a regeneração dos tecidos, com vista a que estes sejam processos harmoniosos e adaptados às necessidades. Em algumas ocasiões, alguns destes genes activam-se de forma anómala e provocam uma insuficiência no programa de divisão celular normal; então, é possível que, quer a célula que sofre a alteração, quer as suas descendentes, comecem a multiplicar-se em excesso e adquiram características atípicas, constituindo um tumor maligno.
Os genes envolvidos nestes casos denominam-se oncogenes. Na dotação cromossómica, existe cerca de uma centena de oncogenes, metade dos quais já foi identificada. Convém destacar que são genes presentes em todas as células, mas que só dão lugar ao desenvolvimento de um cancro quando dois ou mais se activam. Relativamente aos motivos da activação ainda persistem muitas dúvidas, mas as investigações já trouxeram muitos esclarecimentos a esse respeito. Existem evidências de que algumas alterações cromossómicas são acompanhadas por uma maior incidência de certos tipos de cancro e de que determinadas doenças cancerosas são mais frequentes em algumas famílias, o que aponta para origem hereditária. Nestes casos, parece ainda mais adequado falar de "predisposição hereditária", porque a activação dos oncogenes obedece à acção de factores externos.
Factores ambientais
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Os factores externos que podem determinar uma activação dos oncogenes são muito numerosos. Alguns agentes são considerados carcinógenos, porque a sua acção pode, só por si, induzir o desenvolvimento do cancro, enquanto que outros são catalogados como cocarcinégenos, porque propiciam o desenvolvimento do tumor maligno apenas quando actuam em combinação com outros ou depois da acção de um factor cancerígeno iniciador. Conhecem-se agentes deste tipo de natureza variada, tanto biológicos como químicos ou físicos.
Factores biológicos. Entre estes factores encontram-se certos vírus capazes de provocar modificações genéticas e cuja acção está intimamente relacionada com o aparecimento de alguns cancros. Em termos genéricos, estes potenciais genes cancerígenos são conhecidos como oncovírus. Ultrapassada está a ideia de que o cancro não pode, de modo algum, ser considerado uma doença contagiosa. Na realidade, actualmente, o cancro do colo do útero, por exemplo, já é considerado uma doença sexualmente transmissível, na medida em que a infecção por determinados subtipos altamente perigosos do HPV é suficiente para provocar este tipo de cancro.
Factores químicos. A primeira relação entre a exposição a um produto químico e o cancro remonta ao século XVIII, altura em que se verificou que os limpa-chaminés apresentavam uma elevada frequência de cancro no escroto em consequência do contacto com a fuligem. Desde então foram identificadas várias substâncias químicas que podem actuar como cancerígenos ou cocancerígenos. O alcatrão do fumo do tabaco, por exemplo, contém vários agentes deste tipo, assim como o petróleo e os seus derivados. Vários produtos usados na indústria moderna também têm reconhecidas propriedades cancerígenas, como os derivados do arsénico, o amianto ou as anilinas. Existem também agentes perigosos, cujo contacto com o organismo se produz por via digestiva, como as nitrosaminas, certos produtos que alteram ou contaminam os alimentos (aflatoxinas, micotoxinas) e também o álcool, quando consumido em excesso. Por outro lado, a relação entre dieta e cancro torna-se cada vez mais evidente: um elevado consumo de gorduras animais, um reduzido consumo de fibra vegetal e a obesidade são factores aos quais, actualmente, é dada uma máxima relevância na relação com o possível desenvolvimento de doenças cancerosas.
Factores físicos. As radiações podem provocar alterações nos cromossomas e também facilitar a acção dos outros agentes carcinógenos, como os vírus. As radiações ionizantes, por exemplo, ao libertarem a sua energia, podem romper ligações químicas celulares e ter um efeito nocivo. Entre estas radiações encontram-se as electromagnéticas (raios X, raios gama) e as de partículas (electrões, protões, neutrões, partículas alfa, etc.). São bem conhecidos os resultados de uma exposição exagerada aos raios X e também os tremendos efeitos derivados de explosões e acidentes nucleares. Mas também se podem tornar nocivos os efeitos dos raios ultravioleta da luz solar, considerados responsáveis pelos cancros da pele, quando existem antecedentes de exposições exageradas e repetidas, principalmente em pessoas de pele muito clara.
Informações adicionais
O médico responde
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Ouvi dizer que a obesidade favorece o desenvolvimento de cancro. É possível que o facto de ter peso a mais propicie o aparecimento desta doença?
De facto, estatisticamente demonstrou-se que a obesidade está relacionada com o aparecimento de vários tipos de tumores malignos. Metade dos casos de cancro do endométrio apresenta-se em pessoas obesas, assim como uma relevante percentagem de tumores malignos da mama, do ovário ou da vesícula biliar. Embora não tenha sido demonstrado o motivo desta relação, alguns especialistas consideram que se deve ao consumo habitual de uma dieta com valor energético demasiado elevado.
Tabaco e álcool
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Entre os agentes que se relacionam com o perigo de se sofrer de cancro destacam-se dois de consumo muito habitual: o tabaco e o álcool.
Em relação ao tabaco, o fumo produzido na sua combustão contém diversas substâncias, sobretudo as que constituem o alcatrão, com efeitos directamente cancerígenos, como certos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos: a relação entre o hábito de fumar e o cancro do pulmão é inegável e, estatisticamente, já foi comprovado que o risco aumenta com a quantidade de cigarros fumados por dia. Mas também foi estabelecida a relação entre o hábito de fumar e os cancros da cavidade oral, faringe, laringe, esófago, bexiga e pâncreas, pelo que o perigo do tabagismo se torna evidente.
O mesmo se pode dizer do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, relacionado especialmente com o aparecimento de tumores malignos da cavidade oral, laringe, esófago e fígado. Em alguns tipos de cancro, como o do esófago, observa-se um aumento da sua incidência em grandes consumidores de álcool que, além disso, também são fumadores. Evitar o tabaco e beber álcool com extrema moderação são, por isso, autênticas medidas preventivas contra o cancro.