Após o transplante de um órgão, o organismo do receptor pode desencadear uma reacção imunitária contra os elementos dos tecidos provenientes do dador, podendo provocar a destruição do tecido implantado.
Generalidades
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Em condições normais, o sistema imunitário identifica os antigénios presentes nos tecidos do próprio organismo e não desencadeia qualquer resposta agressiva contra eles. No entanto, quando se realiza um transplante, o sistema imunitário do receptor pode identificar os antigénios presentes nos tecidos provenientes do dador como estranhos e, consequentemente, desencadeia um ataque contra os mesmos como se fossem agentes nocivos. Todavia, a causa desta reacção depende da compatibilidade existente entre os tecidos do dador e do receptor, o que se denomina histocompatibilidade. A superfície das células de cada pessoa é constituída por inúmeros antigénios que os linfócitos aprendem a reconhecer como próprios e perante os quais não reagem. Entre estes antigénios, os mais importantes em caso de transplante são um grupo conhecido como sistema maior de histocompatibilidade ou HLA (sigla de human leukocyte antigen). O desenvolvimento destes antigénios, muito variáveis entre as diferentes pessoas e, hoje em dia, facilmente identificáveis em laboratório, depende de condicionantes genéticos, ou seja, quanto maior for o parentesco entre as duas pessoas, teoricamente, maior será a semelhança no tipo HLA, embora também existam pessoas que não pertencendo ã mesma família apresentam um HLA similar.
Tipos
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Os mecanismos envolvidos no fenómeno de rejeição são os mesmos que provocam as respostas do sistema imunitário quando este enfrenta elementos estranhos ao organismo, abrangendo reacções mediadas tanto por células como por anticorpos. Todavia, é possível, de acordo com o momento do seu aparecimento após o transplante, distinguir vários tipos de rejeição, cujos mecanismos de produção são igualmente diferentes.A
rejeição hiperaguda, o tipo menos frequente, mas o mais grave, evidencia-se logo após o transplante, entre poucos minutos a algumas horas, e sempre antes que passem dez dias. Esta forma de rejeição apenas ocorre quando o receptor já se encontra sensibilizado aos antigénios do sistema HLA dos tecidos transplantados devido a um contacto anterior. O fenómeno é mediado por anticorpos que, como já se encontram presentes no organismo do receptor, reagem de imediato, perante determinadas circunstâncias, contra o órgão transplantado, provocando a sua destruição.A
rejeição aguda, mais frequente do que a anterior e, embora não tão intensa, igualmente grave, evidencia-se no primeiro mês posterior ao transplante. Esta forma de rejeição ocorre quando o sistema imunitário reconhece os antigénios estranhos e desenvolve uma resposta agressiva, mediada pelos linfócitos TA
rejeição crónica desenvolve-se um pouco mais tarde, no mínimo 3 meses após o transplante, embora também se possa manifestar alguns anos mais tarde. Costuma ser provocada por uma complexa interacção de factores celulares e humorais face aos antigénios estranhos e, a longo prazo, pode determinar uma insuficiência funcional do órgão transplantado.
Prevenção
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Dado que, actualmente, existem técnicas cirúrgicas muito evoluídas, o principal obstáculo do problema continua a ser a possibilidade de se desenvolver uma reacção de rejeição, para o qual existem várias estratégias.Em primeiro lugar, deve-se tentar que exista a maior histocompatibilidade possível entre os tecidos do dador e do receptor. Importa referir que, como apenas pode existir compatibilidade total entre gémeos idênticos que partilhem a mesma constituição genética, a possibilidade de existir um dador deste tipo é muito reduzida e apenas para a realização de determinados tipos de transplante que possam ser efectuados a partir de dadores vivos, por exemplo de medula óssea ou de rim, nunca de órgãos como o coração. Embora também possa haver uma grande compatibilidade entre parentes próximos, nem sempre isso acontece e, mesmo que exista um grau suficiente de histocompatibilidade, apenas possibilita a doação de determinados tecidos ou órgãos. Perante tudo isto, os transplantes costumam ser realizados com órgãos provenientes de pessoas sem qualquer parentesco, na maioria dos casos cadáveres. Quando uma pessoa necessita de um transplante, costuma ser incorporada numa lista de espera, pois apenas se pode realizar o transplante quando existir um órgão proveniente de um dador com histocompatibilidade suficiente para se ter garantias de que não irá ocorrer uma rejeição fulminante ou demasiado intensa.Por outro lado, deve-se recorrer a vários procedimentos destinados a enfraquecer o sistema imunitário do receptor, de modo a que este não reaja contra os tecidos transplantados, que costumam evidenciar alguma falta de histocompatibilidade, com o objectivo de favorecer uma maior tolerância aos mesmos.
Informações adicionais
Tratamento imunossupressor
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A utilização de medicamentos imunossupressores é extremamente importante para o sucesso do transplante, pois é essencial para a sobrevivência do paciente e do próprio transplante. Como existem vários produtos que conseguem inibir a resposta imunitária contra os tecidos transplantados, normalmente são utilizados de forma combinada. Por conseguinte, recorre-se a uma combinação de corticóides, azatioprina e ciclosporina A, um medicamento cuja descoberta constituiu uma verdadeira revolução na área do transplante, pois permitiu que este se convertesse numa prática comum com elevadas possibilidades de êxito. Todavia, este tratamento tem uma contrapartida que deve ser considerada, tendo em conta que os medicamentos utilizados provocam vários efeitos secundários, o que obriga à realização de controlos regulares para ajustar o tratamento e encontrar o equilíbrio entre as suas vantagens e inconvenientes, de modo a garantir a sua eficácia e, ao mesmo tempo, minimizar os riscos de efeitos secundários perigosos.
O médico responde
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Ouvi dizer que, no futuro, se vão transplantar órgãos de animais para os humanos, o que me faz alguma confusão, pois se as rejeições de órgãos provenientes de pessoas já são tão numerosas, muito mais serão em caso de órgãos provenientes de animais...
De facto, tem razão. Ainda que se vislumbre o transplante de órgãos provenientes de animais, uma prática denominada xenotransplante, como solução à escassez de órgãos provenientes de dadores humanos, um dos principais problemas é precisamente a falta de compatibilidade entre os tecidos do organismo humano e os dos animais inferiores, um facto que determina uma forte rejeição imunitária. Todavia, como as investigações nesta área avançaram consideravelmente, proporcionaram a elaboração de uma série de estratégias que tentam ultrapassar o obstáculo. Por exemplo, através de algumas técnicas de engenharia genética, conseguiu-se obter animais trangénicos, ou seja, animais nos quais foram incorporados genes não pertencentes à sua espécie, já que estes genes provocam alterações ao nível dos tecidos, conseguindo impedir a resposta imediata por parte do sistema imunitário humano, em caso de transplante de um órgão. Esta mais valia, adicionada aos constantes avanços produzidos na área do tratamento imunossupressor, torna o xenotransplante, sobretudo a partir de suínos transgénicos, uma realidade aplicável num futuro não muito distante.