Cólera

A cólera é uma infecção intestinal aguda de origem bacteriana originada pelo consumo de água ou alimentos contaminados, que se manifesta através de diarreias abundantes capazes de causar um grave quadro de desidratação e até a morte do paciente.

Causas

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A cólera é provocada pela Vibrio cholerae, uma bactéria comprida, de aspecto semelhante ao de uma vírgula, com uma grande mobilidade e da qual é possível distinguir vários tipos. Este microorganismo encontra-se no organismo das pessoas infectadas, embora algumas não apresentem sinais ou sintomas da doença, o que justifica o facto de serem denominadas portadores assintomáticos, sendo eliminado com as fezes. O contágio efectua-se por via oral, através da ingestão de líquidos contaminados ou alimentos que tenham sido regados ou lavados com águas contaminadas e, em alguns casos raros, através do contacto directo com as mãos mal lavadas de um portador do microorganismo.

A Vibrio cholerae penetra no corpo por via digestiva, estabelecendo-se na mucosa do intestino, onde se reproduz, sem invadir o organismo. Todavia, a bactéria vai produzindo uma potente toxina que origina uma grande inflamação e altera significativamente o funcionamento do intestino, provocando uma abundante perda de líquidos e sais que determina o aparecimento das diarreias características do problema, originando um temível risco de desidratação. Por vezes, após o desaparecimento da doença, os microorganismos permanecem na mucosa intestinal e continuam a ser eliminados com as fezes ao longo de vários meses, mas também se podem instalar na vesícula biliar, onde permanecem durante anos, fazendo com que a pessoa se transforme numa portadora saudável capaz de transmitir a doença através das suas defecações.

Manifestações e evolução

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O período de incubação da cólera dura entre doze horas a cinco dias. Após este período de tempo, a doença tem um início repentino, com o aparecimento de uma significativa diarreia, muitas vezes acompanhada por vómitos. Ao contrário do que ocorre noutras patologias com sinais e sintomas semelhantes, a cólera não provoca dores abdominais nem evolui com febre, pois por vezes chega a provocar a descida da temperatura do corpo (hipotermia). As dejecções diarreicas são muito frequentes e aquosas, com o aspecto de um líquido opalescente, no qual flutuam pequenos corpúsculos brancos semelhantes a grãos de arroz. As diarreias são de tal forma intensas que chegam a provocar a perda de 0,5 l de líquido por hora ou até mais, o que somado às perdas líquidas com os vómitos pode provocar um grave quadro de desidratação no paciente, que se manifesta através de sinais e sintomas típicos como sede insaciável, mucosas secas e cãibras nas pernas.

No entanto, se o paciente receber rapidamente o tratamento adequado, com a devida reposição de líquidos, a mortalidade e a morbilidade da cólera são significativamente reduzidas. Neste caso, os sinais e sintomas desaparecem ao fim de três ou quatro dias e o paciente recupera totalmente em pouco tempo. Todavia, caso não sejam devidamente tratadas, as perdas de líquidos provocam um estado de desidratação que conduz a um choque cardiovascular, podendo originar a morte do paciente.

Tratamento

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O tratamento da cólera baseia-se na administração de antibióticos para combater o microorganismo causador e na reposição de líquidos para prevenir ou corrigir um eventual quadro de desidratação. Sempre que for possível, o tratamento deve ser efectuado num hospital, já que a reposição de líquidos para combater a desidratação deve ser realizada por via intravenosa e, para além disso, convém que o paciente seja isolado num quarto, de modo a limitar o perigo de contágio. Infelizmente, a cólera é uma doença endémica nos países que não contam com uma sólida infra-estrutura sanitária, o que por vezes proporciona a produção de episódios epidémicos provocados por situações de catástrofe em condições que dificultam bastante o tratamento eficaz da doença - isto justifica o facto de a doença, ainda que na teoria seja fácil de controlar com o devido tratamento, continuar a ser perigosa e a provocar mortes.

Informações adicionais

O médico responde

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Por que é que a produção de uma catástrofe natural pressupõe sempre o perigo de uma epidemia de cólera?

Dado que as catástrofes naturais, como os terramotos ou as grandes inundações, danificam significativamente os sistemas de canalização das águas residuais, proporcionando o seu contacto com as destinadas ao consumo e a consequente contaminação destas últimas, originam um grave risco de epidemia de cólera e de outras doenças transmissíveis pela mesma via, devido ao perigo de contágio de um grande número de pessoas. Para além disso, nestes casos de catástrofes, normalmente não se consegue proceder ao oportuno tratamento de todos os indivíduos afectados.

Prevenção

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A prevenção da cólera passa, na maioria dos casos, pela melhoria das condições higiénicas das zonas afectadas e pela adopção das devidas precauções, de modo a assegurar que as águas residuais não contaminem o abastecimento de água potável.

A nível individual, a principal medida preventiva consiste em evitar o consumo de água e alimentos contaminados, pelo que não se deve ingerir qualquer produto suspeito nas zonas endémicas. De facto, antes de consumir água, esta deve ser fervida ou desinfectada, uma medida que deve igualmente ser adoptada em relação aos alimentos. As pessoas que viajarem para zonas endémicas apenas devem beber água depois de se certificarem que a mesma foi fervida ou desinfectada com pastilhas específicas para esse fim ou com lixívia (4% de lixívia por cada litro de água) ou ingerir bebidas engarrafadas, tendo a precaução de rejeitar as garrafas abertas. Em relação aos alimentos, como não se deve consumir frutas nem verduras cruas com pele, as que não puderem ser descascadas devem ser fervidas antes ou serem submergidas durante uma hora, no mínimo, em água com algumas gotas de lixívia.

Por outro lado, quando se pretender viajar para zonas endémicas, convém tomar a vacina contra a cólera. Esta vacina é administrada em duas doses separadas por um intervalo de uma a quatro semanas e proporciona protecção contra a cólera durante um período de seis meses, embora não seja totalmente eficaz.

Localização geográfica

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Embora a cólera seja uma doença endémica em várias regiões da Ásia, sobretudo na Índia, Paquistão e Bangladesh, também se encontra presente em África

e na América Central e do Sul. Há muitos anos que a doença afecta o nordeste da Índia, de onde se propagou, várias vezes, pelo resto do mundo, provocando epidemias de grandes proporções e uma elevada mortalidade. Os esforços realizados para combater a doença, nomeadamente através da descoberta de uma vacina contra a cólera, fizeram com que a doença se restringisse, ao longo da primeira metade do século XX, a determinadas regiões da Ásia. Todavia, durante a década de 1960, produziu-se uma pandemia a partir do Golfo de Benguela, a qual difundiu a cólera a grande parte de Ásia, África, América e zona do Mediterrâneo.

Para saber mais consulte o seu Infecciologista ou o seu Médico Internista
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