A otosclerose é uma patologia que se caracteriza pela formação de tecido ósseo anómalo na cápsula óptica, alterando a função da cadeia de ossículos do ouvido médio e provocando uma progressiva perda de audição.
Generalidades
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A cápsula óptica é o molde ósseo do ouvido interno e constitui a parede interposta entre este e o ouvido médio. É precisamente nesta parede que se encontra a janela oval, um orifício coberto por uma fana membrana através do qual os movimentos do estribo, um dos pequenos ossos que formam a cadeia do ouvido médio, transmitem as vibrações procedentes do exterior ao ouvido interno. A cápsula óptica, contrariamente à maior parte dos ossos do organismo, já se encontra completamente desenvolvida à nascença e, em condições normais, não volta a sofrer mais nenhuma modificação na sua anatomia. No entanto, no caso da otosclerose, observa-se um fenómeno anómalo: o aparecimento de um foco de formação de tecido ósseo de consistência muito dura num determinado sector da cápsula óptica, que cresce de forma progressiva.O problema torna-se evidente apenas quando este foco de formação de tecido ósseo afecta, inicialmente ou no seu crescimento progressivo, as estruturas que intervêm na transmissão das ondas sonoras. A que é afectada com mais frequência é a base do estribo, o último da cadeia de ossículos do ouvido médio. Esta estrutura é essencial na transmissão das ondas sonoras, porque em condições normais obstrui a janela oval e os seus movimentos fazem passar as vibrações directamente para o ouvido interno. Assim, quando o foco de otosclerose alcança o sector da cápsula óptica que se encontra nas margens da base do estribo, este fica estático e não pode embater com as suas vibrações na ja- nela oval, o que provoca uma diminuição da capacidade auditiva.
Causas e frequência
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Até hoje, não foi possível estabelecer as causas desta patologia. No entanto, é provável que exista uma predisposição hereditária, uma vez que a maioria dos pacientes apresenta antecedentes familiares do problema.Segundo dados obtidos em autópsias, os focos de formação de tecido ósseo na cápsula óptica costumam surgir depois da puberdade e são detectáveis em cerca de 8% da população adulta. No entanto, segundo dados estatísticos, apenas 1 a 2% da população sofre das manifestações do problema. Isto significa que, na maior parte dos casos, a otosclerose não afecta inicialmente, nem chega a afectar durante a sua evolução, as estruturas que intervêm na transmissão das ondas sonoras.
Manifestações
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As manifestações costumam apresentar-se entre os 20 e os 40 anos de idade. A mais grave, muitas vezes a única, é a perda progressiva de audição num ou em ambos os ouvidos. Trata-se de uma surdez de transmissão caracterizada pelo facto de que costuma ser menos perceptível em ambientes ruidosos, enquanto que, pelo contrário, geralmente piora ao mastigar. Por outro lado, é muito habitual que a pessoa afectada perceba a ressonância da sua própria voz e note zumbidos, que são, regra geral, de tom grave e podem chegar a ser muito intensos, com os consequentes incómodos.A surdez costuma acentuar-se progressivamente ao longo dos anos, embora seja característico que este agravamento ocorra de forma escalonada, alternando-se períodos de franco agravamento com outros estacionários.Geralmente, se não se proceder ao tratamento oportuno, o processo costuma acabar por provocar uma surdez total de um ou ambos os ouvidos. Porém, a evolução do problema é muito variável e não se pode prever cada caso em particular. Assim, em algumas pessoas, o agravamento da surdez detém-se durante prolongados períodos de tempo, enquanto que noutras não pára de avançar.Por outro lado, o processo de formação do tecido ósseo também pode danificar ou alterar a função das estruturas do ouvido interno, provocando consequentemente crises de vertigens e uma surdez praticamente absoluta no ouvido afectado. Estas manifestações são as mais comuns, nas fases mais avançadas da doença, mas em alguns casos surgem antes.
Tratamento
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O único tratamento eficaz da otosclerose é cirúrgico e consiste na extracção do foco de formação de tecido ósseo anómalo e do próprio estribo. Seguidamente, reconstrói-se a anatomia do ouvido através da colocação de pequenas próteses para substituir as estruturas extraídas.É conveniente realizar este tratamento durante as fases iniciais da doença, uma vez que quando atinge as estruturas do ouvido interno a surdez torna-se total e irreversível, não tendo a reconstrução da cadeia de ossículos já nenhuma utilidade.O tratamento da otosclerose costuma passar pelo quirofano.
Informações adicionais
O médico responde
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Por que razão as pessoas com otosclerose ouvem melhor em ambientes ruidosos?
A otosclerose provoca uma surdez de transmissão, ou seja, uma diminuição da capacidade auditiva devido a um problema na transmissão das ondas sonoras desde o ouvido externo até ao ouvido interno, onde se encontra o órgão da audição que as transforma em sinais nervosos. Neste tipo de surdez, o indivíduo afectado não percebe bem os sons apagados, como os que constituem o ruído ambiente, enquanto que ouvem melhor quando as pessoas falam em voz alta, que é o que costumamos fazer quando nos encontramos em ambientes ruidosos.
Tratamento cirúrgico
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A otosclerose pode ser resolvida, geralmente, através de uma pequena intervenção cirúrgica, por vezes realizada sob anestesia local, cujos resultados são actualmente muito bons. Na operação, que o especialista efectua com a ajuda de um microscópio especial e através de instrumentos com as dimensões de um alfinete, podem ser utilizadas diferentes técnicas. A mais habitual consiste na extracção do foco otosclerósico e do estribo, para o substituir por uma prótese metálica ou plástica de 4 a 5 mm de comprimento. A prótese é fixada num dos lados à bigorna, enquanto que no outro extremo é inserida na janela oval, que faz a comunicação entre o ouvido médio e o ouvido interno. Também é possível efectuar uma intervenção que consiste na introdução de uma pequena prótese de teflão num orifício efectuado na base do estribo, o que permite recuperar a mobilidade e vibrar com maior liberdade.