Anatomia
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A coluna vertebral, estrutura central do esqueleto, é formada por um conjunto de vértebras sobrepostas que formam um bloco que une a cabeça à região pélvica. As vértebras encontram-se separadas entre si por estruturas fibrocartilagíneas, designadas discos intervertebrais, que ao proporcionarem um certo grau de mobilidade a cada articulação intervertebral possibilitam que toda a coluna efectue movimentos de flexão para a frente, de extensão para trás, rotações e inclinações para ambos os lados. Estes movimentos encontram-se limitados por uma série de ligamentos e músculos que, ao se unirem aos vários segmentos ósseos, proporcionam estabilidade a toda a estrutura.Observada de frente, a coluna é praticamente rectilínea. De qualquer forma, de uma visão lateral, é possível observar-se várias curvaturas: na região cervical, existe um arco para a frente; na região dorsal, um arco para trás; na região lombar, outro arco para a frente; na região sacrococcígea, um outro arco para trás. Estas curvaturas são absolutamente normais e estão presentes desde o nascimento, embora a curvatura da região sacrococcígea seja mais evidente a partir do momento em que a criança começa a caminhar. Para além disso, como a forma da coluna apenas é definitiva na fase final de crescimento, nomeadamente no final da adolescência, a puberdade pode provocar o desenvolvimento de várias deformações, embora existam muitas outras que apenas se manifestam em idades avançadas.
Tipos de deformações
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A forma da coluna, rectilínea quando observada de frente e com várias curvaturas quando vista de perfil, é essencial para a correcta mecânica deste elemento do esqueleto. De qualquer forma, a forma da coluna pode ser alterada por vários motivos através do desvio, em várias direcções, dos seus vários segmentos, nomeadamente uma exagerada curvatura para trás da região dorsal, denominada cifose, uma exagerada curvatura para a frente da região lombar, designada lordose, e qualquer desvio lateral, denominado escoliose. Para além disso, estes vários desvios também se podem manifestar simultaneamente.Os desvios da coluna podem ser provocados por alterações várias, como é o caso das alterações ósseas, musculares ou neurológicas. Algumas destas deformações são congénitas, presentes desde o nascimento, enquanto outras são adquiridas, manifestando-se em qualquer momento da vida.Por vezes, trata-se de desvios funcionais, por exemplo, devido à adopção de posturas incorrectas (quer seja em casa, no automóvel ou no local de trabalho), que podem desaparecer com a realização de movimentos activos ou passivos. No entanto, em alguns casos, constituem deformações anatómicas que não podem ser alteradas com exercícios ou manipulações.
Cifose
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A cifose designa a exagerada curvatura da região dorsal da coluna para trás, embora o termo cifose, por vezes, seja igualmente utilizado para designar o desaparecimento ou a inversão de uma curvatura para a frente nas regiões cervical e sacrococcígea.A cifose dorsal da coluna caracteriza-se pela descrição de um grande arco que garante um aspecto arredondado e uniforme às costas, embora também se possa manifestar através de uma angulação brusca que provoca o aparecimento de uma corcunda. Apesar de ser provocada, na maioria dos casos, pela adopção de posturas incorrectas, também se pode tratar de uma deformação orgânica provocada por uma alteração anatómica das vértebras devido a diversos processos, tais como fracturas, tumores, esmagamentos vertebrais favorecidos pela osteoporose ou raquitismo, infecções (tuberculose), espondilite anquilosante, etc.Existe um tipo específico de cifose que se manifesta na adolescência, caracterizado por uma alteração do crescimento dos corpos vertebrais, de origem ainda desconhecida. Esta deformação costuma desenvolver-se entre os 13 e os 18 anos, evoluindo até ao final da adolescência, nomeadamente até aos 21 ou 22 anos, e manifesta-se através do aparecimento de uma determinada dor nas costas, pouco intensa, que não provoca grandes alterações na mobilidade da coluna. A prática de exercícios, devidamente acompanhada por um fisioterapeuta, por vezes complementada com a utilização de um colar cervical, de modo a manter a coluna na posição correcta, costuma impedir o avanço do desvio, que pára de maneira espontânea no fim da adolescência. Só em casos raros de desvio muito pronunciado é que se deve recorrer à cirurgia.
Lordose
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O termo lordose designa a curvatura da convexidade anterior que caracteriza a região lombar da coluna; porém, por vezes, é utilizado para designar o seu agravamento, o que na verdade deveria ser designado
hiperlordose. Embora possa ser provocada por deformações congénitas ou alterações orgânicas adquiridas, a lordose constitui, na maioria dos casos, um problema funcional. Por exemplo, em alguns casos, pode-se produzir uma lordose lombar para compensar uma cifose dorsal, com vista a manter-se o equilíbrio; por isso, as lordoses costumam afectar pessoas com abdómen proeminente e as grávidas, embora neste caso o desvio seja corrigido de forma espontânea após o parto.
Escoliose
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A escoliose corresponde a um desvio da coluna no plano sagital. Quando há um desvio da coluna para a direita, no segmento inferior, por exemplo, há um desvio contralateral compensador. Este desvio costuma produzir-se na região dorsal ou, com menor frequência, na região lombar.
Causas e tipos. Existem várias situações que podem originar uma escoliose. Em alguns casos, como a denominada
escoliose idiopática, não é possível determinar a sua causa, pois apenas se sabe que é provocada por um crescimento e rotação anómalos das vértebras ao longo da infância ou adolescência, aparentemente devido à influência de factores hereditários. Por vezes, trata-se de
escoliose congénita, devido a um desenvolvimento anómalo das vértebras, como por exemplo uma assimetria durante o período intra-uterino. Pode-se manifestar igualmente uma
escoliose secundária, provocada por qualquer fenómeno que altere as estruturas da coluna ou a sua mecânica, tais como infecções (tuberculose, abcessos ósseos), problemas musculares ou neurológicos (distraias musculares, poliomielite), fracturas, tumores, entre outros. De qualquer forma, o tipo mais comum corresponde à
escoliose compensadora, que corresponde a um desvio funcional proporcionado de modo a manter o equilíbrio do corpo, em caso de alteração noutro segmento ósseo por exemplo, se uma perna for mais curta que a outra. Caso o defeito causador não seja corrigido, a escoliose, inicialmente reversível, torna-se orgânica, em virtude de verdadeiras deformações anatómicas que mantêm indefinidamente o desvio.
Evolução. A forma mais comum do problema, a escoliose idiopática, pode manifestar-se em qualquer momento da infância ou da adolescência, em ambos os sexos, embora seja muito menos frequente no sexo feminino, iniciando-se entre os 8 e os 12 anos de idade. O desvio pode manifestar-se na região dorsal ou lombar, ou até mesmo em ambas simultaneamente ou alternadamente, já que um desvio na região dorsal de um lado costuma provocar um desvio na região lombar do outro. Inicialmente, o desvio é pouco evidente e apenas origina dores, sendo detectado por sinais e sintomas indirectos como, por exemplo, ombros a diferente altura, uma das omoplatas mais proeminente, cintura assimétrica. Todavia, quando a criança se inclina para a frente, flectindo a coluna, costuma ser perceptível uma protuberância num lado das costas. Embora a evolução do problema seja imprevisível, já que o principal perigo do desvio é funcional, com o decorrer do tempo, o desvio pode agravar-se e tornar-se orgânico, provocando grandes alterações nas estruturas anatómicas. Em alguns casos, o problema, embora pareça ceder espontaneamente num determinado momento, volta a evidenciar-se, algum tempo depois, com uma maior intensidade até ao final da adolescência, altura em que se estabiliza com resultados variáveis de acordo com a gravidade do problema e a velocidade com que se desenvolveu em cada caso específico. Pode ser acompanhada por dores e uma limitação mais ou menos significativa da mobilidade da coluna; nos casos mais graves, a doença pode provocar uma alteração anatómica global do tórax capaz de originar problemas respiratórios.
Tratamento. A escoliose provocada pela adopção de más posturas e por uma insuficiência da musculatura dorsal pode ser corrigida através da realização de determinados exercícios. Em caso de escoliose idiopática da adolescência, quanto mais cedo se começar o tratamento, maiores serão as probabilidades de se reduzir as sequelas do problema. Em alguns casos, pode-se optar pela utilização de uma cinta ortopédica constituída por várias partes articuladas, cuja forma deve ser periodicamente adaptada, de modo a manter a coluna o mais recta possível até ao final do período crítico de evolução do problema. Por vezes, recorre-se à colocação de uma cinta de gesso, por um período variável de acordo com o caso. Se não for possível corrigir o defeito com estas medidas conservadoras ou se o mesmo estiver muito evoluído, proporcionando a produção de malformações anatómicas, pode ser necessário recorrer a uma intervenção cirúrgica.
Informações adicionais
Um problema secundário
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Em alguns casos, o desvio da coluna vertebral não é provocado por um problema directamente relacionado com a coluna. De facto, como a coluna constitui a estrutura central do esqueleto, pode ser afectada por qualquer problema das ancas, dos joelhos ou dos pés que alterem a estática ou mecânica corporal, o que provoca eventuais desvios, de modo a conseguir manter-se o equilíbrio na posição erecta e ao caminhar. Por exemplo, um defeito no normal arco plantar num pé ou uma pequena deformação da anca provocada por uma artrose pode determinar uma diferença no comprimento de um dos membros, o que implica um movimento de báscula da anca e um desvio compensador da coluna. Inicialmente, embora se trate apenas de um desvio meramente funcional e reversível, com o decorrer do tempo, é possível que provoque o desenvolvimento de várias deformações anatómicas. Por isso, é conveniente proceder ao tratamento precoce dos problemas que originam desvios compensatórios da coluna, antes que provoquem deformações definitivas.
Cifose senil
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Os idosos costumam apresentar uma maior curvatura da região dorsal da coluna para trás devido ao intenso desgaste a que as vértebras foram submetidas ao longo dos anos, à perda de flexibilidade dos discos intervertebrais e à progressiva debilitação da musculatura. Na maioria dos casos, como esta curvatura das costas não é muito pronunciada, este desvio não costuma ser acompanhado pela manifestação de quaisquer sinais ou sintomas, embora possam surgir ligeiros problemas. Por conseguinte, caso um idoso apresente uma curvatura dorsal muito pronunciada e se queixe de dores intensas, este deve consultar rapidamente um médico. Não se deve considerar que estes problemas se manifestam em virtude da idade, já que podem constituir a indicação de algum problema ósseo que necessite de uma intervenção rápida.
O médico responde
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O meu filho de 14 anos costuma sentar-se de qualquer maneira e nunca se preocupa com a posição em que se encontra. Embora eu insista constantemente para que ele permaneça erguido, de modo a que a coluna não seja afectada por desvios, não sei até que ponto as posturas incorrectas podem propiciar o desenvolvimento de uma deformação.
Faz muito bem em preveni-lo porque as posturas corporais incorrectas ao longo da infância podem provocar o desenvolvimento de um desvio na coluna. De facto, qualquer posição que provoque uma assimetria do corpo é prejudicial, caso seja constantemente repetida ou mantida durante muito tempo, algo que as crianças fazem com alguma frequência, nomeadamente quando estão muito inclinadas para a frente enquanto lêem ou escrevem, quando se sentam inclinadas para um dos lados quando vêem televisão... É igualmente muito perigoso carregar uma pasta cheia de livros apenas num dos braços, sendo preferível recorrer à utilização de mochilas ou de um carrinho para levar o material escolar.
Consultas durante a infância
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Apesar de as consultas regulares realizadas pelo pediatra ou no âmbito da saúde escolar, na infância e adolescência, terem várias utilidades, uma das mais importantes é o diagnóstico precoce de uma escoliose, pois na maioria dos casos o início da doença passa despercebido, tanto para a criança, por apenas ser afectada por ligeiras dores que as interpreta como naturais, como para os pais, que apenas detectam o problema quando este já está muito avançado. Nas consultas de vigilância, os médicos devem procurar sinais e sintomas indirectos, como uma ligeira assimetria das costas, que sugiram o possível desvio e devem efectuar uma série de procedimentos para a evidenciar como, por exemplo, fazer com que a criança se incline para a frente, de modo a observar se existe alguma proeminência num determinado sector da coluna. À mínima suspeita, o médico deve solicitar a realização de exames complementares, como radiografias, que permitam diferenciar os defeitos funcionais dos provocados por deformações ósseas. Caso se observe que a criança apresenta uma escoliose, deve ser prescrito o tratamento adequado, ao princípio baseado na fisioterapia. Deve ainda ser feito o acompanhamento em consultas de vigilância periódica para monitorizar a evolução do problema e decidir se é necessário adoptar outras medidas terapêuticas. Contudo, o essencial é diagnosticar o problema o mais rápido possível, pois quanto mais cedo se detectar o problema, maiores serão as possibilidades de parar a sua evolução ou limitar as suas consequências.