Causas
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O alcoolismo é uma doença que pode ser provocada quer por factores psicológicos como sociais. Entre os factores psicológicos com predisposição para a doença, destaca-se a influência que um meio em que se acetta ou se promove o consumo regular de álcool pode ter nas crianças e nos adolescentes, pois nestas idades a imitação dos actos dos adultos é extremamente importante no processo de aprendizagem. Para além disso, como o álcool tem um efeito desinibidor e atenuante da ansiedade, muitas pessoas têm tendência para consumir bebidas alcoólicas quando se encontram em situações difíceis ou, muito frequentemente, para vencerem inibições ou compensarem frustrações.A influência do comércio e da publicidade, associada a alguns hábitos e acções socialmente aceites, como a ideia de que as bebidas alcoólicas são imprescindíveis em qualquer tipo de celebrações, também constituem um papel muito importante na motivação para se beber, logo, na origem desta doença.Por último, é preciso referir que o desencadear dos mecanismos de dependência está intimamente relacionado com o álcool etílico, uma das características próprias desta droga.
Intoxicação aguda
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A intoxicação alcoólica aguda, que costuma originar um estado de embriaguez (ou bebedeira), é provocada pelos efeitos deletérios do álcool sobre o sistema nervoso central.O álcool ingerido com as bebidas alcoólicas costuma ser absorvido no tubo digestivo, de onde passa para a circulação sanguínea. Embora uma pequena quantidade do álcool seja eliminada através da urina, do suor e da respiração, a restante permanece na circulação sanguínea, onde é captada e gradualmente metabolizada pelas células hepáticas.Os efeitos tóxicos do álcool sobre o sistema nervoso central são proporcionais à taxa de alcoolemia, a denominação atribuída à concentração de álcool no sangue. De facto, uma taxa de alcoolemia de 0,5 g/1 provoca uma sensação de tranquilidade e bem-estar, enquanto que se essa taxa alcançar ou superar os 0,8 g/1 costuma proporcionar a perda do sentido de autocrítica, desinibição e euforia. A partir dos 2 g/1, a alcoolemia causa dificuldades nas funções intelectuais, uma significativa diminuição dos reflexos, problemas ao nível da locomoção e da articulação das palavras e alterações do estado de ânimo. Uma taxa de alcoolemia de 3 g/1 provoca um estado de coma e com 4 g/1 costuma originar a morte do indivíduo por paragem cardiorrespiratória.
Manifestações e evolução
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O regular e excessivo consumo de bebidas alcoólicas durante um prolongado período de tempo costuma provocar uma série de lesões orgânicas, correspondentes a uma intoxicação alcoólica crónica, que dão origem a várias repercussões significativas a nível afectivo, social e profissional. No entanto, estas lesões orgânicas e as suas manifestações podem levar entre 5 a 20 anos a evidenciarem-se, consoante a quantidade de álcool regularmente ingerida, a frequência das intoxicações agudas, o estado físico e nutricional do paciente e a sua relação com o meio que o rodeia.As principais manifestações físicas da intoxicação alcoólica crónica costumam corresponder a determinados problemas hepáticos, do tubo digestivo e do sistema nervoso.Os
problemas hepáticos, normalmente provocados pelo efeito nocivo do álcool sobre as células do fígado, evoluem de forma progressiva ao longo dos anos. Na fase inicial da sua evolução, o álcool vai provocando a deterioração do fígado, um problema que normalmente não manifesta qualquer sintoma, no qual as células do fígado vão acumulando gordura no seu interior. Em alguns casos, o álcool também pode provocar uma grande inflamação do fígado, uma hepatite alcoólica que se manifesta através de dores abdominais, náuseas e vómitos, debilidade geral e coloração amarela da pele e da mucosa (icterícia). Embora estes dois problemas possam ceder, se se deixar de consumir álcool, as lesões continuam a evoluir até provocarem outros problemas mais graves e irreversíveis, tais como a cirrose alcoólica e a insuficiência hepática, com todas as suas complicações.Os
problemas digestivos característicos do alcoolismo são provocados pela inflamação crónica originada pela presença do álcool na mucosa do tubo digestivo. Entre as suas consequências mais graves destacam-se a úlcera gastroduodenal, o cancro do esófago e o do estômago, a síndrome de má absorção intestinal, um problema que impede a correcta absorção dos nutrientes, piora o estado nutricional do paciente e provoca lesões no encéfalo devido ao défice de vitamina Bi.Os
problemas neurológicos são provocados pelos efeitos tóxicos do álcool sobre as células nervosas e pelo défice sustentado de vitamina Bi. Nas fases iniciais, costumam provocar uma encefalopatia, a qual se caracteriza por perda de memória, irritabilidade e delírios persecutórios. São igualmente frequentes as alucinações auditivas, em que o paciente ouve vozes inexistentes que o ameaçam. Embora estes problemas neurológicos sejam reversíveis, caso não se interrompa a ingestão de álcool, as lesões irão continuar a evoluir até originarem outro tipo de doenças igualmente típicas do alcoolismo, mas estas muitas vezes irreversíveis. Uma delas é a polineurite, uma inflamação simultânea de vários nervos, que se manifesta por formigueiros e atrofia muscular nos membros. Uma outra é a doença de Korsakov, que normalmente se caracteriza por uma considerável perda da memória, que o paciente tenta esconder com recordações inventadas. Por fim, um outro problema neurológico frequente é a encefalopatia de Gayet-Wernicke, que costuma provocar perda de memória e manifestações visuais, tais como perda da acuidade visual e paralisia dos globos oculares.Por outro lado, a dependência do álcool, os problemas orgânicos provocados pela intoxicação alcoólica crónica e os eventuais episódios de intoxicação aguda acabam por deteriorar de forma evidente a relação do paciente com o ambiente afectivo, social e profissional que o rodeia, sendo por isso frequente que o alcoólico instigue com alguma frequência discussões domésticas, maltrate as crianças, abandone o lar, perca o emprego e, por fim, fique numa situação de completo isolamento, tendo na bebida o seu único refúgio.
Tratamento
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O tratamento passa pela eliminação total e definitiva do consumo de bebidas alcoólicas, devendo o paciente assumir a sua condição e consciencializar-se do seu desejo de se curar. A primeira fase do tratamento corresponde à desintoxicação, durante a qual é recomendável o internamento do paciente num centro especializado, de modo a controlar a evolução da síndrome de abstinência e efectuar vários exames para detectar e tratar as lesões consequentes da intoxicação alcoólica crónica.Como esta primeira fase fica concluída ao fim de uma ou duas semanas, depois, deve-se proceder à fase de "perder o hábito", durante a qual o paciente deve fazer um esforço para encontrar recursos que lhe possibilitem manter a abstinência alcoólica e reintegrar-se na sociedade. Durante esta fase, poderá ser extremamente útil proceder a sessões de psicoterapia adequadas às necessidades específicas de cada caso e à participação do paciente em reuniões e outras actividades realizadas por associações constituídas por ex-alcoólicos, como é o caso dos Alcoólicos Anónimos.O resultado do tratamento pode ser muito diferente, pois alguns pacientes encontram-se bastante afectados e, normalmente, a fase durante a qual se tem de perder o hábito é muito prolongada e complicada. Por isso, convém que durante este processo os familiares e amigos se interessem pelo problema do paciente e procedam de acordo com as instruções dadas pelos médicos, apoiando o paciente em questões aparentemente muito simples, mas que na prática são muito complicadas - por exemplo, não lhe permitindo o acesso a bebidas alcoólicas.
Informações adicionais
Uma substância tóxica que provoca dependência
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O álcool etílico ou etanol, conhecido como álcool, apesar de ser uma substância utilizada para fins médicos devido às suas propriedades antisépticas, é igualmente um componente que define e está sempre presente nas bebidas alcoólicas. Embora a aquisição destas bebidas seja legal, o álcool deve ser considerado uma droga, pois pode provocar uma evidente dependência psíquica e física, tolerância ou necessidade de aumentar progressivamente as doses, de modo a conseguir os mesmos efeitos e uma síndrome de abstinência com graves manifestações. No fundo, o álcool tem, à semelhança de todas as substâncias psicoactivas, as características necessárias para a dependência.
Por outro lado, o álcool é uma substância tóxica. Não só provoca efeitos nocivos em vários órgãos e tecidos, na medida em que exerce um efeito deletério sobre o sistema nervoso central, podendo conduzir a uma intoxicação alcoólica aguda, como irrita a mucosa do tubo digestivo e destrói vários tipos de células, nomeadamente as nervosas e as hepáticas.
Quando o álcool é consumido com moderação, o organismo pode recuperar dos seus efeitos nocivos. De qualquer forma, quando é consumido em excesso e de forma regular, pode provocar a dependência com todas as suas consequências, acabando os efeitos tóxicos por se manifestar, mais tarde ou mais cedo, sob a forma de várias doenças hepáticas, do tubo digestivo e neurológicas.
A ressaca
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Algumas horas após o pico da intoxicação alcoólica aguda - normalmente, na manhã seguinte -, surge a conhecida ressaca. Os sintomas mais importantes são provocados pela acção tóxica do álcool sobre o sistema nervoso central: dor de cabeça, dificuldade de concentração e sensação de confusão mental. Por outro lado, como o álcool irrita a mucosa do estômago, provoca dor e pirose (ou azia). Pode ainda surgir um aumento da produção de urina devido ao efeito diurético do álcool, o que pode provocar desidratação e sensação de boca seca.
Para diminuir a intensidade e duração destes sintomas, convém ingerir bastante água e sumos. Caso a dor de cabeça seja forte e prolongada, pode-se recorrer à administração de paracetamol - um analgésico com um efeito de irritação muito reduzido sobre a mucosa gástrica -, convenientemente diluído num copo de água. De qualquer forma, não convém tomar aspirinas ou outros analgésicos que irritem o estômago, pois agravar-se-á a acidez e a dor do estômago.
Elaboração das bebidas alcoólicas
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A o bebidas alcoólicas podem ser elaboradas através de dois tipos de processos: fermentação e destilação.
O processo de fermentação, já conhecido e utilizado nas civilizações antigas, consiste em adicionar leveduras ou fermentos aos sumos obtidos a partir de vários tipos de produtos vegetais - é assim que é elaborado o vinho, a cerveja e a sidra.
Por outro lado, a elaboração de aguardentes e licores necessita, para além da fermentação dos produtos vegetais, da destilação dos sumos fermentados, o que possibilita, por um lado, a evaporação dos componentes mais voláteis e, por outro lado, a concentração do álcool.
Tipos de bebedores
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Embora o consumo de álcool seja muito comum, como nem todos têm a mesma apetência para o seu consumo, é possível distinguir várias categorias de pessoas:
O abstémio é aquele que não bebe qualquer tipo de bebida alcoólica.
O bebedor social apenas toma bebidas alcoólicas quando está acompanhado por outras pessoas ou em circunstâncias especiais, mas normalmente não chega a embriagar-se.
O bebedor ocasional consome álcool de forma irregular, para se libertar de tensões emocionais ou afastar-se de situações conflituosas, embriagando-se com alguma facilidade.
O bebedor excessivo, embora ingira quotidianamente uma quantidade exagerada de álcool (por exemplo, às refeições), não tem o hábito de ficar embriagado. Para este tipo de bebedor, o álcool não constitui uma forma de fugir à realidade, pois é um hábito que lhe dá prazer. De qualquer forma, é muito comum que, ao fim de alguns anos, acabe por se tornar um alcoólico.
Por fim, o bebedor compulsivo ou alcoólico tem uma tendência irresistível para o consumo de bebidas alcoólicas e quando o faz, normalmente de maneira irregular, só pára quando fica completamente embriagado. Esta forma de beber costuma evidenciar-se desde a juventude e conduz ao alcoolismo, já que com o passar do tempo as doses ingeridas vão aumentando e os episódios de intoxicação alcoólica aguda são cada vez mais frequentes.
Síndrome de abstinência
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Uma das manifestações mais típicas do alcoolismo é a síndrome de abstinência consequente da interrupção da ingestão de álcool. Os sinais e sintomas mais característicos são tremor, debilidade, diarreia e suores abundantes. Normalmente, estes sinais e sintomas manifestam-se de manhã, quando o álcool começa a desaparecer da circulação sanguínea, podendo diminuir de intensidade, se o paciente beber alguma bebida alcoólica, o que constitui uma das causas - e também uma desculpa - para que muitos indivíduos alcoólicos comecem a beber logo após acordarem, o que constitui um claro sinal de que a pessoa desenvolveu uma grande dependência do álcool.
Em alguns casos, as manifestações da abstinência são mais graves, como sucede, por exemplo, com o conhecido delirium tremens, que se costuma manifestar alguns dias após a interrupção da ingestão de bebidas alcoólicas, caracterizando-se por uma grande agitação psicomotora, tremor, suores, febre intensa, desorientação, confusão mental, convulsões e alucinações assustadoras, sobretudo visuais, nas quais o paciente costuma ter zoópsias (alucinações visuais de animais, geralmente insectos, répteis ou outros animais repugnantes) aterrorizadores que o perseguem e ameaçam. Embora os sintomas costumem, na maioria dos casos, desaparecer espontaneamente ao fim de alguns dias, convém hospitalizar o paciente, pois através do seu oportuno tratamento consegue-se atenuar o risco de morte.