Traumatismos craniencefálicos

Os traumatismos craniencefálicos podem provocar várias lesões cerebrais, algumas ligeiras e transitórias, mas outras muito graves, colocando a vida do paciente em perigo.

Causas

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Os traumatismos craniencefálicos podem ser provocados por todo o tipo de acidentes: de viação, de trabalho, desportivos, domésticos... Contudo, a maioria dos casos graves é provocada por acidentes de viação, em que os traumatismos craniencefálicos constituem uma das principais causas de morte. De facto, estes acidentes constituem uma das principais causas de morte entre os jovens adultos, a primeira em alguns países desenvolvidos.

Existem vários mecanismos que podem provocar lesões encefálicas. O mais comum corresponde a um golpe directo sobre o crânio, provocando, independentemente da eventual fractura óssea, o choque das estruturas nervosas subjacentes contra o osso no ponto de impacto ou no lado oposto. Para além disso, um golpe forte sobre uma outra parte do corpo, uma queda de uma grande altura sobre os pés ou nádegas, a onda expansiva de uma explosão ou uma outra causa indirecta também podem provocar a deslocação das estruturas encefálicas no interior do crânio e o consequente choque violento contra as suas paredes. É por isso que os contragolpes (o denominado "efeito chicote") nos acidentes de viação, quando não se leva o cinto de segurança, são tão perigosos.

Tipos e consequências

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É possível distinguir vários tipos de traumatismos craniencefálicos.

Comoção cerebral. É o traumatismo craniencefálico mais ligeiro, originando uma perturbação temporária da actividade cerebral sem lesões orgânicas aparentes. No entanto, provoca uma imediata perda de consciência que pode durar alguns minutos ou, em casos raros, várias horas. Ao recuperar a consciência, a vítima não se costuma recordar do que lhe aconteceu (amnésia pós-traumática) e, normalmente, encontra-se desorientada e sonolenta. Nos dias seguintes, a vítima pode ser afectada por uma síndrome pós-comoção, com dores de cabeça, náuseas, vómitos e uma certa irritabilidade, mas acaba por recuperar totalmente, sem complicações nem sequelas.

Contusão cerebral. Neste caso, o traumatismo provoca uma deterioração circunscrita do tecido nervoso devido ao impacto da massa encefálica contra as paredes do crânio ou a deslocação de um osso fracturado, podendo igualmente provocar a imediata perda de consciência de duração variável, por vezes durante vários dias, assim como uma perda de memória sobre o momento do acidente e dos períodos anteriores e posteriores. Como existe uma certa deterioração neurológica, podem surgir vários sintomas conforme a localização das lesões: problemas motores ou paralisia, convulsões, problemas da linguagem, perturbações nos sentidos, problemas mentais de diversa natureza, etc. Nos casos graves, existe risco de morte sempre que as lesões sejam extensas ou provoquem inflamação difusa. No entanto, nos restantes casos, embora possam surgir dores de cabeça, náuseas, irritabilidade ou alterações do comportamento durante alguns dias, normalmente obtém-se a recuperação total. Por fim, existem ocasiões em que surgem complicações potencialmente graves, como as hemorragias intracranianas, dando origem a sequelas definitivas.

Laceração cerebral. É a forma mais grave, sendo normalmente provocada por fractura com afundamento dos ossos cranianos, originando a ruptura das meninges e do córtex cerebral e hemorragias. Embora as manifestações sejam semelhantes às da contusão cerebral, têm uma evolução mais grave e podem provocar complicações graves e sequelas irreversíveis.

Actuação terapêutica

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O tratamento dos traumatismos cranianos, sobretudo quando existe perda de consciência, mesmo que momentânea, passa pela sua correcta avaliação, através de uma análise neurológica completa, mediante a realização de exames radiológicos (radiografia ao crânio e, eventualmente, uma tomografia axial computorizada) para diagnosticar possíveis fracturas ou lesões internas, e de uma rigorosa vigilância, durando o período de observação entre 24 a 48 horas, para que seja possível detectar de maneira precoce o surgimento de complicações. Em caso de uma simples comoção cerebral, consegue-se obter a recuperação total sem o recurso a qualquer tratamento. Por outro lado, em caso de contusões e lacerações cerebrais, o tratamento passa pela administração de medicamentos destinados a combater a inflamação e a reduzir a eventual hipertensão intracraniana (corticóides, diuréticos) e, se for necessário, pela tomada das oportunas medidas de apoio às funções vitais ou mediante o recurso à cirurgia.

De facto, em caso de hemorragia intracraniana, deve-se recorrer à cirurgia para drenar o sangue acumulado, requisito imprescindível para evitar uma evolução fatal: o prognóstico depende da rapidez com que se diagnostica o problema e se realiza a operação.

Informações adicionais

Complicações hemorrágicas

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Para além das lesões directas no encéfalo, um traumatismo craniano pode provocar a ruptura dos vasos sanguíneos intracranianos e as consequentes hemorragias. Este tipo de complicação é extremamente perigosa, pois o sangue derramado pode acumular-se no interior do crânio e formar um hematoma que pode progressivamente expandir-se até comprimir as estruturas nervosas. Para além disso, embora por vezes o próprio traumatismo possa parecer inofensivo ou provocar uma breve perda de conhecimento seguida de uma aparente recuperação total, como as manifestações destas hemorragias não são imediatas, surgindo após um intervalo variável livre de sintomas, acaba por dificultar o diagnóstico imediato. De acordo com os vasos sanguíneos afectados pelas rupturas, é possível distinguir vários tipos de hematomas intracranianos.

Hematoma epidural. O sangue acumula-se no espaço compreendido entre os ossos do crânio e a membrana externa das meninges, a dura-máter, e caracteriza-se pela existência de um intervalo, de duração variável de acordo com a intensidade da hemorragia, livre de sintomas, na maioria dos casos durante algumas horas, mas que por vezes se pode prolongar durante vários dias. A principal manifestação corresponde à dor de cabeça, que se vai tornando progressivamente mais intensa, acompanhada de náuseas e vómitos. Normalmente, a vítima apresenta uma alteração do estado de consciência, com agitação, confusão e desorientação ou, pelo contrário, grande sonolência e paralisia de metade do corpo (hemiplegia). Caso o hematoma continue a aumentar de volume, o aumento da pressão intracraniana pode provocar, para além da perda de consciência, uma compressão do tronco cerebral e a danificação dos núcleos que regulam as funções vitais, colocando a vida do paciente em perigo.

Hematoma subdural. O sangue acumula-se no espaço compreendido entre a membrana externa, ou dura-máter, e a média, a aracnóide. Caso a hemorragia seja muito intensa, os sinais e sintomas manifestam-se ao fim de poucas horas ou num prazo de um a três dias, sendo semelhantes aos do hematoma epidural, embora normalmente sejam mais graves e perigosos, podendo provocar a morte de grande parte das vítimas, mesmo quando se tenta drenar cirurgicamente o hematoma. Por outro lado, se os vasos alvo de ruptura forem de pequeno calibre, a acumulação de sangue é mais progressiva, o que faz com que as suas manifestações apenas apareçam ao fim de um longo período, normalmente entre três dias a duas semanas, mas por vezes ao fim de vários meses. Entre os mais comuns é possível destacar: dor de cabeça, episódios de confusão e desorientação, sonolência, perturbações visuais, problemas de linguagem e debilidade muscular ou paralisia de metade do corpo. Nas fases mais avançadas, o paciente entra em estado de coma, acabando por sofrer uma paragem cardiorrespiratória fatal.

Hematoma intracerebral. O sangue acumula-se no interior das estruturas encefálicas e os sintomas variam segundo a sua localização, à semelhança de um acidente vascular cerebral. De qualquer forma, a sua evolução costuma ser grave, pois leva, na grande maioria dos casos, à rápida instauração de um estado de coma e à morte.

Para saber mais consulte o seu Neurocirurgião ou o seu Neurologista ou o seu Neurorradiologista
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