Causas
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As várias formas de crise epiléptica são provocadas por uma descarga eléctrica descontrolada de um grupo de células nervosas do cérebro, proporcionando uma série de impulsos anómalos que tendem a alterar subitamente a função que controla a área cerebral onde a descarga foi originada, podendo alastrar-se difusamente e provocar um problema generalizado no funcionamento do cérebro. Embora ainda não se conheça com precisão o mecanismo fisiopatológico destas descargas eléctricas caóticas, sabe-se que podem ser provocadas por um estímulo exagerado dos neurónios: por exemplo, quando um grupo de neurónios mais sensíveis do que o normal é repentina e exageradamente activado, de forma espontânea ou como resposta a um estímulo reduzido, sem a moderação e o equilíbrio que o normal funcionamento do cérebro necessita. Na maioria dos casos, englobados no conceito de
epilepsia essencial, não é possível identificar qualquer lesão orgânica que justifique o problema, embora evidencie uma predisposição genética que pode ser transmitida hereditariamente. Noutros casos, designados
epilepsia secundária, a dor é provocada por uma lesão ou cicatriz cerebral, por vezes mínima, originada por alterações ou doenças que tenham provocado um problema irreversível ao nível dos neurónios, como um traumatismo craniencefálico, acidente vascular cerebral, tumor intracraniano, doença infecciosa (encefalite) ou um defeito na assimilação de oxigénio pelo cérebro durante a gravidez ou parto.
Tipos de crises epilépticas
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A epilepsia pode apresentar-se de formas muito distintas e com manifestações muito diferentes de caso para caso, conforme a origem das descargas eléctricas anómalas, a rapidez com que os impulsos são difundidos e o seu grau de propagação. Para além disso, a classificação dos possíveis tipos de ataques epilépticos é muito complexa. No entanto, é possível distinguir dois grandes grupos de crises epilépticas: as generalizadas e as parciais ou focais.Nas
crises epilépticas generalizadas, as descargas costumam ser originadas nos núcleos cinzentos da base do cérebro, permitindo a rápida propagação dos impulsos anómalos a todo o córtex cerebral, o que provoca a perda de consciência e outras manifestações. A forma mais típica corresponde às denominadas
crises de grande mal, que se caracterizam por perda de consciência acompanhada de convulsões. Uma outra forma clássica corresponde às denominadas
crises de pequeno mal ou
ausências, com alterações do estado de consciência, mas sem originar problemas motores evidentes.Nas
crises epilépticas parciais ou
focais, a descarga eléctrica anómala apenas costuma afectar uma zona do cérebro, cujo funcionamento apenas é alterado temporariamente. De acordo com a área afectada, pode tratar-se de uma alteração motora, sensitiva, dos órgãos dos sentidos ou das funções cerebrais superiores.
Crises de grande mal
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As crises epilépticas de grande mal são a forma mais frequente, a que mais chama a atenção e a que é mais conhecida, desenvolvendo-se através de uma sequência bem definida. Normalmente manifestam-se de uma maneira inconstante, mas existem vários sinais e sintomas não muito específicos que tendem a evidenciar-se, mesmo antes do ataque, tais como alterações de humor, irritabilidade ou insónias. Além deste, podem ocorrer outros sinais e sintomas variados, mas específicos para cada paciente, os quais constituem a denominada aura epiléptica, antecedente da manifestação da crise.Quando um episódio de grande mal do tipo tónicoclónico se inicia, verifica-se uma perda do tónus muscular, o que provoca a queda imediata do paciente, seguindo-se alguns segundos de contracções musculares tónicas, ou seja, o paciente contrai involuntariamente os músculos, não se conseguindo deslocar - também pode acontecer que o paciente perca a consciência. Por fim, durante vários segundos ou minutos costumam ocorrer contracções clónicas, devido a uma sucessão de contracções e relaxamentos dos músculos do corpo - estas contracções correspondem ao que popularmente é conhecido como convulsões.Após a paragem das convulsões, surge uma fase de relaxamento muscular generalizada, a qual pode provocar uma insuficiência nos esfíncteres e, por conseguinte, a emissão involuntária de urina. Embora o paciente vá recuperando a consciência de forma progressiva, é muito provável que este se encontre muito confuso e sonolento, ocasionalmente com dores de cabeça, sem se recordar do que lhe aconteceu. Esta fase pode durar alguns minutos ou até várias horas, mas após este período a recuperação costuma ser total.
Crises de pequeno mal
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Estes ataques, mais frequentes entre as crianças, caracterizam-se por não haver perda de consciência e pela curta duração (em média meio minuto), com início e fim bruscos. Estes ataques podem igualmente ser designados ausências, porque o indivíduo afectado fica "em branco" durante o mesmo, ou seja, não se apercebe de nada, como se estivesse distraído e desligado da realidade que o rodeia. Na grande maioria dos casos, o indivíduo afectado, de início, fica imóvel, com olhar fixo e pestanejar rápido, até que, por fim, prossegue com as suas actividades normais sem se recordar do que lhe aconteceu. Por vezes, pode haver diminuição momentânea do tónus muscular, que não chega a provocar a queda do paciente, ou discretas contracções musculares que provocam, por exemplo, desvio do olhar, subida de um dos ombros ou balancear da cabeça. Embora as crises possam ser isoladas e sempre de curta duração, costumam repetir-se com uma frequência variável, chegando a manifestar-se, em algumas situações, mais de centenas de vezes ao longo do dia. Em princípio, apesar de não representarem grande perigo, as suas consequências estão dependentes da actividade que a vítima está a realizar aquando do ataque. Para além disso, quando se repetem com frequência, acabam por ter repercussões negativas no rendimento escolar da criança afectada - este pode ser o primeiro sinal de alerta para a família.
Crises parciais
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Nas crises parciais, como os efeitos da descarga anómala nos neurónios limitam-se a uma determinada área do cérebro, as manifestações estão intimamente relacionadas com a actividade dos neurónios na zona em questão, sendo por isso que não se chega a produzir a total perda de consciência. Como as distintas zonas do cérebro têm diferentes funções, susceptíveis de serem alteradas de acordo com a localização do foco da descarga anómala, é possível produzirem-se vários tipos de crises epilépticas parciais.As mais comuns são as
crises parciais motoras, provocadas por descargas nos neurónios do lobo frontal, dando origem a alterações dos movimentos musculares. O tipo mais frequente é a denominada
progressão jacksoniana, que afecta essencialmente a área motora do lobo frontal do cérebro e se caracteriza pelo brusco aparecimento de uma série de contracções musculares que começam numa parte do corpo e se vão estendendo progressivamente às zonas adjacentes, por exemplo de um dedo a todo o braço ou desde a boca a toda à cara e pescoço. A crise dura pouco tempo, cerca de alguns minutos, e não costuma ser acompanhada por perda de consciência, embora o paciente possa ficar atordoado, tendo posteriormente a perfeita noção do que ocorreu.Por outro lado, as
crises parciais sensitivas são originadas na área sensitiva do lobo parietal do cérebro e caracterizam-se pelo súbito aparecimento de formigueiros, insensibilidade ou dor nas zonas localizadas do corpo, com maior frequência nas mãos ou nos lábios.As
crises parciais simples são provocadas por uma activação anómala das áreas do cérebro que interpretam, ao nível dos neurónios, os estímulos auditivos, visuais, olfactivos ou gustativos. Numa destas crises, o paciente é afectado por uma distorção do correspondente sentido ou por uma alucinação, ou seja, uma percepção na ausência de estímulos externos reais. Por exemplo, a activação de um foco no lobo occipital pode provocar a visão de figuras luminosas inexistentes ou uma momentânea perda da visão; a activação de um foco na área auditiva, situada na parte superior do lobo temporal, pode provocar a percepção de ruídos estranhos ou uma diminuição transitória da audição; a activação de um foco na área olfactiva, situada na parte posterior do lobo temporal, pode originar a percepção de odores estranhos, por vezes muito desagradáveis.Para além disso, também podem surgir
crises parciais complexas, quando os focos epilépticos se situam nas estruturas profundas do lobo temporal que estão ligadas aos núcleos cinzentos da base do cérebro e às formações do tronco cerebral. Nestes casos, para além de alterações motoras, sensitivas e sensoriais, costumam surgir problemas nas funções psíquicas superiores. Por exemplo, podem ocorrer alterações da memória, como o esquecimento temporário de dados biográficos básicos (nome, data de nascimento, pessoas conhecidas), recordações inexistentes ou a sensação de já ter vivido uma situação (déjá vu). As
crises psicossensoriais correspondem a alucinações sofisticadas, como a representação visual de uma cena que não existe na realidade ou a percepção de um fragmento de uma peça musical. As
crises psicomotoras consistem na execução automática de actos relativamente complexos, como mastigar, movimentar a língua, esfregar as mãos ou pronunciar as palavras, sem ter consciência disso. Após este tipo de crises, cuja duração não costuma ser superior a alguns minutos, o paciente normalmente apenas tem pequenas recordações do que aconteceu.
Tratamento
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Apenas se pode curar definitivamente a epilepsia quando a doença é provocada por uma alteração orgânica passível de ser curada - por exemplo, um tumor intracraniano que pode ser removido, embora esta situação seja pouco comum. Em condições normais, apenas é possível efectuar um tratamento que vise a prevenção do aparecimento da crise, cada vez mais eficaz graças à utilização de modernos medicamentos. Actualmente, existem inúmeros medicamentos anti-epilépticos, de entre os quais o médico deverá seleccionar o mais adequado para cada caso e a sua dosagem correcta. É um tratamento prolongado que necessita de controlos periódicos para ajustar as doses, de modo a que os medicamentos utilizados sejam suficientemente eficazes para prevenir as crises e para que ao mesmo tempo não se produzam efeitos secundários desagradáveis, como sonolência e diminuição da atenção. Muitas vezes, a medicação deve ser tomada ininterruptamente durante toda a vida; noutros casos, ao constatar-se que já não existem crises durante um período de dois ou três anos, pode ser ponderada a suspensão do tratamento.
Informações adicionais
Factores desencadeadores
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Embora as crises epilépticas se i manifestem de maneira imprevisível e sem que se consiga identificar qualquer circunstância desencadeadora, existe uma pequena percentagem de casos em que é provocada por vários factores já identificados. De facto, existem situações em que as crises afectam pessoas particularmente sensíveis a estímulos visuais intermitentes, tais como as luzes das discotecas, as iluminações fortes, ver televisão de muito perto ou com a imagem não devidamente sintonizada, o reflexo do sol na praia ou na neve, os faróis dos automóveis na estrada, etc. No entanto, existem ainda outros factores precipitantes: fadiga, insónia, jejum prolongado e, sobretudo, o consumo de bebidas alcoólicas. Tendo em conta que nem todos estes factores acabam por desencadear ataques nos pacientes, cada indivíduo deve aprender a reconhecer os que lhe são especificamente prejudiciais, de forma a tentar evitá-los.
Primeiros socorros
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Em termos práticos, caso se presencie uma crise tónico-clónica, a atitude deve ser essencialmente de vigilância. Para além de se estabelecer um perímetro de segurança em redor do paciente, afastando móveis ou objectos perigosos que o possam magoar, deve-se desapertar a roupa para facilitar a ventilação. É também útil afastar os "curiosos" que não só impedem a boa oxigenação do local, como quase sempre têm a tentação de intervir, de forma errada, junto da vítima.
É absolutamente proibido tentar dar alimentos sólidos ou líquidos ao paciente, bebidas alcoólicas, medicamentos não indicados e colocar lenços ou outros objectos na boca da vítima. Tais objectos não só não evitam a mordedura da língua como podem provocar asfixia.
Em relação à medicação, deve ser exclusivamente administrada por profissionais de saúde devidamente habilitados para o efeito. Quando a convulsão terminar, o paciente deve ser colocado na posição lateral de segurança a fim de evitar a aspiração do vómito, facto que também pode provocar asfixia.
Assim que for detectado o início da convulsão, deve ser chamada de imediato a assistência médica, a qual tomará as medidas adequadas no local e transportará o paciente em segurança até ao hospital mais próximo.
Basicamente, as medidas de primeiros socorros são:
• Caso seja possível, atenuar a queda da vítima para evitar que se magoe.
• Afastar os objectos próximos da vítima, que lhe possam provocar lesões, tais como móveis, de modo a proporcionar uma zona de segurança à volta da mesma.
• Caso seja possível, soltar o cinto e as peças de roupa que possam apertar o pescoço (lenços, gravatas), tórax e cintura.
• Não deixar a vítima sozinha e evitar a acção intempestiva de testemunhas que pretendam auxiliar a vítima de forma inadequada.
• Após as convulsões, colocar com cuidado a vítima na posição lateral de segurança, ou seja, de lado e com a cara virada para baixo, para o caso de surgirem vómitos, e controlar o seu estado até à total recuperação.
O médico responde
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O meu primo é epiléptico e pode prever quando vai sofrer um ataque pois detecta uma sensação especial Do que se trata?
É bastante comum que nos momentos precedentes a um ataque epiléptico a pessoa afectada detecte uma sensação específica, denominada "aura". Embora esta sensação seja especifica para cada paciente, pode adoptar inúmeras formas. De facto, apesar de se tratar, por vezes, de um estranho sentimento de medo ou cólera, pode-se tratar de uma sensação de prazer, bem-estar e alegria. Noutros casos, corresponde a uma falsa percepção sensorial, como uma alucinação visual, auditiva ou olfactiva. É muito importante que cada paciente aprenda a reconhecer tal sensação, porque como prenuncia um ataque eminente, permite a adopção das medidas oportunas para prevenir lesões provocadas pela súbita queda ou traumatismos durante o período convulsivo.
Electroencefalograma
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A realização de um electroencefaograma (EEG), um exame que se baseia no registo da actividade cerebral através de uma série de eléctrodos aplicados sobre vários pontos do couro cabeludo, é extremamente importante para o diagnóstico da epilepsia. O registo realizado ao longo de urna crise epiléptica reflecte uma série de alterações típicas, através de um traçado anómalo que evidencia descargas eléctricas bizarras ao nível dos neurónios, de diverso tipo segundo a localização do foco. Contudo, é preciso destacar que o resultado do exame pode ser normal se realizado entre duas crises, razão pela qual se efectua um registo durante o sono ou através de um aparelho portátil que recolhe a actividade cerebral ao longo do dia. Como em muitos casos não se consegue, apesar destas estratégias, obter um electroencefalograma durante uma crise, o diagnóstico costuma ser realizado tendo em conta, sobretudo, os sinais e sintomas referidos pelo próprio paciente ou pelos seus familiares.