A entrada e a consequente multiplicação de microorganismos no aparelho urinário é um problema muito comum, constituindo uma das causas mais frequentes de consulta médica.
Vias de infecção
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Embora qualquer pane do aparelho urinário possa ser afectada por uma infecção, é possível distinguir três tipos de doenças, com manifestaçöes clínicas e repercussões patológicas diferentes, em função do segmento afectado: a pielonefrite, quando se trata do bacinete e do tecido intersticial do rim; a cistite, caso o processo infeccioso resida na bexiga; a uretrite, quando apenas afectada a uretra. De qualquer forma, em alguns casos, a infecção pode estender-se a um outro segmento das vias urinárias, pois trata-se de canais intimamente ligados.Os micróbios podem chegar as vias urinárias através de duas vias de infecção: desde o exterior, por via ascendente, ou de outros pontos do organismo, por via hematogénica.A via ascendente é claramente a forma de entrada mais frequente, na qual os microorganismos entram, em primeiro Lugar, na uretra através do meato urinário, onde podem permanecer ou subir ao longo das vias urinárias até alcançarem sucessivamente a bexiga, os uréteres, os bacinetes e o tecido intersticial do rim. Como a maioria dos microorganismos que chegam ao meato urinário são provenientes do recto, que expulsa o seu conteúdo para o exterior através do ânus, muitos destes microorganismos, como é o caso da Escherichia coli, bactéria responsável por cerca de 65 a 80% das infecçôes urinárias, pertencem a flora bacteriana intestinal normal. Esta é uma forma de contaminação das vias urinárias que afecta essencialmente as mulheres, pois no sexo feminino a distância que separa o meato urinário (situado na vulva) e o ânus é muito reduzida. Algumas das infecções urinárias mais frequentes por contágio de microorganismos, em ambos os sexos, são originadas por relações sexuais, sobretudo algumas formas de uretrite, sendo consideradas doenças sexualmente transmissíveis. Noutros casos, os microorganismos costumam penetrar no aparelho urinário no decorrer de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos na zona em questão, que são efectuados em insuficientes condições de assepsia - este problema surge, por vezes, na realização de uma algaliação.Apenas num pequeno número de casos, os microorganismos podem chegar as vias urinárias por via hematogénica, ou seja, através da circulação sanguínea, provenientes de um foco situado noutro sector do organismo. Para além disso, o desenvolvimento de uma infecção urinária por via hematogénica apenas costuma ocorrer quando existe um obstáculo a normal eliminação da urina.
Mecanismos defensivos
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As vias urinárias contam com uma série de mecanismos de defesa que, em condições normais, impedem o desenvolvimento de microorganismos e o consequente aparecimento de processos infecciosos. Um dos mais importantes corresponde presença de inúmeras células imunitárias distribuídas ao longo das Paredes das vias urinárias ç do tecido intersticial do rim, as quais rapidamente detectam microorganismos que eventualmente penetrem nestes tecidos, procedendo a sua destruição. Um outro mecanismo essencial é a composição da própria urina, cujas características físico-químicas impossibilitam o desenvolvimento de grande parte dos microorganismos. Por outro lado, o próprio fluxo da urina costuma arrastar para o exterior micróbios que eventualmente penetrem nas vias urinárias. Por fern, as vias urinárias são constituídas por vários esfíncteres ou válvulas que impedem, ou pelo menos dificultam, a passagem dos microorganismos para o interior dessas estruturas. Em suma, a produção de uma infecção apenas se realiza quando a chegada de microorganismos as vias urinárias é acompanhada por uma insuficiência dos mecanismos de defesa ou quando os mesmos são superados pela quantidade ou agressividade dos microorganismos - por isso, existem várias circunstâncias, consideradas factores predisponentes, que favorecem o padecimento de infecções urinárias.
Factores predisponentes
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Existem factores que favorecem a entrada e desenvolvimento de microorganismos nas vias urinárias. Um dos mais relevantes corresponde a estagnação da urina num determinado segmento das vias urinárias, o que provoca alterações nas características químicas da urina, a qual constitui, desta forma, um meio um pouco mais vulnerável para os microorganismos que eventualmente penetrem no interior das vias urinárias, podendo até favorecer o seu desenvolvimento. Além disso, em caso de obstrução urinária, o fluxo de urina não consegue arrastar os microorganismos para fora do organismo através das micções. Este processo pode ocorrer, por exemplo, em caso de litíase urinária (cálculos), quando a insuficiência de uma válvula impede a eliminação de urina, perante a estenose de um canal ou em caso de retenção urinária, devido a ausência de micções. A gravidez também costuma aumentar a probabilidade de infecções, devido a compressão que o útero exerce sobre as vias urinárias. A escassa ingestão de líquidos é também considerada um factor predisponente, pois provoca uma menor produção de urina e fluxo insuficiente para arrastar os microorganismos para o exterior. Por fim, a deficiente higiene da zona e as relações sexuais sem protecção também favorecem as infecções urinárias.
Informações adicionais
Microorganismos na urina
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Um dos exames mais específicos para detectar a existência de processos infecciosos nas vias urinárias é a análise da urina. A amostra de urina deve ser obtida na primeira micção matinal e depositada num recipiente estéril. Antes de proceder a micção, o paciente deve lavar a área genital com sabão e água abundante, de modo a limpar completamente a zona. 0 primeiro e o último jactos devem ser eliminados - para a análise microbiológica apenas interessa o jacto médio da micção.
Em condições normais, a urina praticamente transparente. Todavia, em alguns casos de infecção urinária, sobretudo quando os últimos canais são afectados, como acontece em caso de cistite e uretrite, a urina pode ser turva devido a presença de abundantes restos de células e microorganismos. No entanto, como em muitos casos os microorganismos não são directamente detectados, deve-se fazer uma urocultura, ou seja, o depósito de gotas da amostra de urina num recipiente com um meio que favoreça o desenvolvimento dos microorganismos e aguardar um determinado período de tempo, normalmente cerca de dois dias, pela formação de colónias de microorganismos, devendo-se proceder, então, a sua contagem. São considerados valores normais, quando inferiores a 10 000 colónias por milímetro de urina, normalmente provocados por uma contaminação no processo de recolha da amostra de urina. Por outro lado, caso se observe que existem mais de 100 000 colónias por milímetro, estabelece-se o diagnóstico de uma infecção urinária. Se os valores se situarem entre as 10 000 e as 100 000 colónias/ml, o resultado é considerado duvidoso e, em muitos casos, deve-se solicitar a repetição do exame.