Úlcera duodenal

A úlcera duodenal consiste na erosão da mucosa que cobre o interior do duodeno produzida pela acção corrosiva do suco gástrico. Trata-se de uma doença crónica que, embora cicatrize em poucas semanas, pode voltar a formar-se vezes sem conta.

Causas

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A formação da úlcera depende da acção corrosiva do suco gástrico que atravessa o duodeno. Em condições normais, o ácido produzido no estômago chega ao duodeno em quantidades moderadas, misturado com a comida, sendo neutralizado pelas secreções alcalinas presentes no interior do intestino. A úlcera duodenal deve-se principalmente ao aumento de produção de suco gástrico, que supera os factores defensivos e acaba por corroer a parede do duodeno. Entre os factores responsáveis, incluem-se todos aqueles que determinam uma maior produção de secreção estomacal, sobretudo o stress, o tabagismo e o consumo regular de medicamentos, como o ácido acetilsalicílico (aspirina) e outros anti-inflamatórios.

De qualquer forma, há casos em que estes factores não estão presentes e, mesmo assim, por outros motivos ou às vezes por razões desconhecidas, a actividade secretora do estômago é superior à habitual ou as defesas do duodeno reduzem-se, originando a doença.

Manifestações

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O principal sintoma é uma dor localizada na parte superior e média do abdómen, muitas vezes prolongada ao lado direito. A doença, como se trata de uma questão subjectiva, varia de pessoa para pessoa: há quem se queixe de uma grande dor, outros de um pequeno ardor e, em certas ocasiões, é descrita como uma sensação de fome dolorosa. A intensidade também varia de caso para caso, desde um incómodo moderado até uma dor que parece atravessar o abdómen até às costas. O mais constante é o seu ritmo de aparecimento, geralmente relacionado com as refeições: a dor só desaparece quando se ingere algum alimento ou quando se toma uma substância alcalina, para reaparecer após um determinado período de tempo e progressivamente aumentar de intensidade até à refeição seguinte. A dor aparece, com frequência, durante a noite e a sua violência é tal que desperta o paciente e só pode ser aliviada após ingerir alguma comida, um copo de leite ou outro produto alcalino.

Entre outras manifestações comuns encontram-se as náuseas, eventualmente acompanhadas de vómitos, assim como regurgitações ácidas. Estes sintomas aparecem em quase metade dos casos, embora com intensidade diferente. É muito comum ocorrerem pequenos vómitos de suco gástrico pela manhã, em jejum.

Evolução

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Normalmente, a úlcera duodenal caracteriza-se por ataques agudos, de 2 semanas a 2 meses de duração, intercalados com períodos livres de sintomas que podem durar vários meses e até alguns anos. Todavia, o mais frequente é um novo ataque ao fim de um período de 6 meses a 1 ano, após ter superado o anterior. Muitas vezes, estes ataques ocorrem segundo um ritmo sazonal, na Primavera e no Outono, mas noutros casos o seu aparecimento é imprevisível ou está relacionado com épocas de muito stress. Esta situação tende a repetir-se durante vários anos consecutivos, embora as recaídas se tornem, em muitos casos, menos frequentes 5 anos após o início da doença.

Complicações

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Geralmente, a úlcera apenas danifica a capa mais superficial da parede duodenal, originando os sintomas descritos até finalmente cicatrizar. Mas, nos casos em que a erosão é mais profunda, poderá provocar graves complicações. De facto, a erosão ao alcançar os vasos sanguíneos da parede do duodeno provoca uma hemorragia, por vezes ligeira, mas em grande parte das situações muito intensa. Trata-se frequentemente de pequenas hemorragias que, como cessam de forma espontânea, passam inadvertidas; no entanto, tendo em conta que estas se repetem com uma certa frequência, podem originar uma anemia. Também é possível que a hemorragia seja abundante e se manifeste através de vómitos sangrentos ou com a expulsão de fezes negras, com aspecto de alcatrão, pelo seu conteúdo em sangue digerido.

Também pode acontecer que a erosão se torne tão profunda que acabe por perfurar toda a parede do duodeno. Esta complicação é muito grave, porque deixa passar o conteúdo intestinal para cavidade abdominal, o que pode dar origem a uma peritonite, ou seja, a uma inflamação da membrana que cobre os órgãos abdominais. A perfuração manifesta-se através de uma dor abdominal aguda, por vezes descrita como uma punhalada, que não cessa com a ingestão de alimentos, como a típica dor ulcerosa. Caso não seja aplicado um tratamento imediato, pode conduzir a um estado de choque e provocar alterações com um resultado fatal.

Tratamento

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Com uma úlcera há que fazer todos os possíveis para favorecer a cicatrização da lesão: muito repouso, evitar as situações de stress, assim como o tabaco e o álcool, e comer em pequenas quantidades, mas com frequência, para neutralizar as secreções ácidas do estômago. Para aliviar o ardor ou a sintomatologia mais dolorosa são muito úteis os medicamentos antiácidos, como o hidróxido de alumínio ou de magnésio, que podem ser administrados após as refeições e antes de deitar. O médico pode prescrever medicamentos que inibam a secreção de suco gástrico, seleccionando entre os diferentes medicamentos desse grupo os que melhor se adaptem a cada paciente e ajustando as doses às necessidades de cada caso.

Nos casos rebeldes ao tratamento farmacológico e sempre que se apresentem complicações graves, não resta outra solução senão recorrer à cirurgia.

As técnicas cirúrgicas empregues são várias. Pode-se programar uma operação para extrair a lesão ulcerosa ou para seleccionar o nervo que rege a produção de suco gástrico (vagotomia), de forma a diminuir a agressão dos ácidos estomacais sobre a parede do duodeno, prevenindo eventuais recaídas.

Caso surjam complicações agudas, tais como hemorragias intensas ou uma perfuração duodenal, impõe-se um tratamento cirúrgico de urgência.

Informações adicionais

Estenose pilórica: uma complicação a longo prazo

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O piloro é o estreito canal que faz a comunicação entre o estômago e o duodeno, passagem obrigatória do conteúdo gástrico para o intestino. Caso sofra de uma úlcera localizada no duodeno, as repetidas activações e cicatrizações da úlcera podem levar à deformação deste canal e ao estreitamento do seu interior - a estenose pilórica. O estômago não poderá, assim, esvaziar o seu conteúdo no duodeno e, em consequência disso, após as refeições, provocará distensões abdominais, arrotos e, em última instância, quando o canal estiver muito estreito, vómitos. Temos sempre que associar uma possível estenose pilórica ao aparecimento de vómitos, após repetidos ataques de úlcera; inicialmente, entre trinta a noventa minutos após as refeições e com o resto dos alimentos ingeridos nas últimas horas; mais tarde, e à medida que o estômago se estende, me¬nos frequentes, mas com mau hálito, e mais volumosos, com restos de alimentos já decompostos. Caso o problema não seja solucionado, o apetite diminui, sente-se uma certa resistência à comida, dá-se uma importante perda de peso e estabelece-se um estado de má nutrição.

Para saber mais consulte o seu Cirurgião Geral ou o seu Gastroenterologista
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