A imersão num meio aquático durante um período de tempo mais ou menos prolongado provoca uma situação de asfixia e uma eventual passagem de água para os pulmões, o que pode colocar a própria vida em perigo.
Mecanismos do afogamento
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Quando uma pessoa consciente submerge num meio líquido, contém a respiração voluntariamente, apesar de este recurso apenas ser conveniente durante um breve período de tempo, tendo em conta que é preciso regressar imediatamente a superfície para respirar. Pode acontecer que a vítima, por não saber nadar ou ao sentir que não consegue flutuar, entre em pânico, o que acaba por impedi-la de agir racionalmente e, através dos seus movimentos descoordenados, faz com que comece a engolir água. De qualquer forma, inicialmente, não se produz uma inalação de água, porque perante a entrada de líquido nas vias aéreas desencadeia-se um mecanismo reflexo que provoca o encerramento da glote (laringospasmo), o que impede a passagem do líquido para os pulmões, acabando o líquido por ser deglutido e acumulado no estômago. No entanto, este mecanismo reflexo provoca a interrupção da troca gasosa a nível pulmonar. Caso a situação persista, a consequente descida da oxigenação sanguínea origina uma progressiva alteração do funcionamento cerebral, o que vai provocar, por um lado, perda de consciência e, por outro lado, uma insuficiência do reflexo laríngeo destinado a impedir a passagem do ar para os pulmões. A prolongada falta de oxigenação determina uma paragem respiratória e, consequentemente, uma paragem cardíaca, enquanto que a insuficiência do reflexo laríngeo implica a entrada de líquido nos pulmões. Ambas as situações são extremamente graves, visto que a paragem respiratória pressupõe um risco de morte iminente na ausência do oportuno salvamento e tratamento e a aspiração de água, mesmo quando o salvamento é eficaz, desencadeia uma série de alterações que provocam, a curto ou médio prazo, uma situação considerada crítica.
Tipos e consequências
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Independentemente das circunstâncias específicas ou do local em que ocorra (no mar, num rio, numa piscina ou numa banheira), uma imersão excessivamente prolongada provoca sempre um evidente risco mortal, pois ao fim de alguns minutos de interrupção da troca gasosa a nível pulmonar geram-se lesões cerebrais que, caso não provoquem a morte, podem gerar problemas neurológicos irreversíveis, mesmo quando se procede ao salvamento e tratamento imediatos da vítima. De facto, embora o afogamento não seja um dos acidentes mais frequentes, um dos que apresenta maiores índices de mortalidade. Contudo, o prognóstico depende, para além da rapidez com que se efectua o salvamento, do mecanismo fisiopatológico envolvido e da natureza do meio aquático em que se produz o acidente, o que permite distinguir dois tipos de afogamento.
Afogamento seco. Representando um em cada dez casos, o laringospasmo é tão intenso que praticamente não permite a passagem de liquido para os pulmões, pois a principal causa de morte é a falta de oxigenação e a consequente paragem respiratória, seguindo-se a paragem cardíaca. Caso o salvamento seja imediato, talvez se consiga recuperar a respiração, espontânea ou através dos primeiros socorros – embora inicialmente a vitima apresente sinais de insuficiência respiratória (dispneia, cianose), os sintomas começam a ceder, sem grandes complicações, com a recuperação da função respiratória. Caso o salvamento seja tardio, o prognóstico depende do tempo decorrido e as consequências serão as resultantes de uma paragem cardiorespiratória prolongada, com risco mortal.
Afogamento húmido. Neste caso, a causa da paragem respiratória alia-se às consequências da passagem da água para os pulmões, de diferente tipo, conforme a natureza do liquido.Tratando-se de água do mar, com uma concentração de sais muito superior à sanguínea, verifica-se uma passagem da água dos capilares para o interior dos alvéolos – desta forma, os pulmões inundam-se ainda mais. Contudo, esta não é a principal consequência negativa, pois a brusca redução do volume de sangue circulante pode provocar uma paragem cardíaca, com resultados fatais.Se se tratar de água doce, com uma concentração de sais muito inferior à sanguínea, acontecerá o contrário da água do mar, ou seja, o líquido passa dos alvéolos para o interior dos capilares. Para além disso, a absorção de uma grande quantidade de água doce produz uma evidente diluição do sangue e a destruição maciça dos glóbulos vermelhos, o que origina uma série de alterações físico-químicas do meio sanguíneo.Caso a vitima sobreviva, a aspiração de água pode provocar complicações tardias, como a atelectasia e o colapso pulmonar, o desenvolvimento de infecções pulmonares (pneumonia) e, consequentemente, uma eventual insuficiência respiratória que deve ser imediatamente tratada.
Informações adicionais
Primeiros socorros
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O salvamento de uma pessoa vítima de afogamento compreende dois passos: o eventual salvamento e as medidas imediatas após o salvamento.
O salvamento. Quando se pretende auxiliar uma pessoa numa situação tão critica, deve-se ter em conta uma norma básica: o salvamento da vítima não deve colocar em perigo a vida do socorrista. Se for possível, é preferível lançar-lhe algum meio para que se possa manter a flutuar por si própria, como um salva vidas, ou algo a que se agarre, de modo a ser arrastada para a costa através de uma corda ou vara. Caso seja necessário ir em seu auxílio, o ideal é fazê-lo com um barco. Apenas quando não resta outra solução, é que o socorrista deve tentar o salvamento directo, mas tendo sempre presente que a vitima está muito assustada e possivelmente tentará agarrar-se ao salvador de tal modo que poderá impedir os seus movimentos e colocá-lo igualmente em perigo. Por isso, convém precaver-se, tentando acalmá-la com palavras tranquilizadoras durante a aproximação. Quando se aproximar, convém mergulhar e colocar-se por trás da vítima; depois, deverá segurar a cabeça desta, de modo a que não caia dos seus braços. O socorrista deve nadar de costas para a costa, preocupando-se unicamente em manter a cara da vitima fora de água. Caso se aperceba que não respira, deve procede à respiração boca a boca antes mesmo de chegar a terra.
Acção de urgência. Em primeiro lugar, deve-se avaliar a função respiratória. Caso a vitima respire, deve ser deitada de lado para prevenir uma eventual aspiração do vómito; Caso vomite água previamente deglutida e acumulada no estômago, deve ser imediatamente transportada para um centro médico, mesmo quando reage favoravelmente, pois podem manifestar-se complicações tardias. Se a vitima não respirar, deve-se iniciar de imediato as manobras de respiração artificial através do método boca a boca, complementadas com a massagem cardíaca, caso também se detecte uma paragem cardíaca. Não é preciso efectuar nenhuma manobra para esvaziar o líquido dos pulmões: por um lado, não existe a certeza de que se tenha produzido uma aspiração de água; por outro lado, não existe nenhum método eficaz para conseguir a sua evacuação, se esta tiver acontecido realmente. Deve-se continuar com reanimação até que a vítima recupere de forma espontânea as funções vitais ou até que chegue a ajuda médica profissional.