Laringite

A inflamação da mucosa que reveste a laringe, uma doença que pode adoptar várias formas, agudas ou crónicas, provocando problemas na voz, dores de garganta e, por vezes, dificuldade em respirar.

Laringite aguda

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Esta forma de laringite corresponde a uma inflamação da mucosa laríngea de origem infecciosa, apresentando-se subitamente e com uma curta duração, pois tende a resolver-se de maneira espontânea ao fim de alguns dias ou pouco mais de uma semana. Os microrganismos responsáveis pela inflamação podem chegar à laringe directamente do exterior com o ar inspirado, mas muitas vezes são provenientes de uma infecção prévia nas fossas nasais ou na faringe, surgindo como uma complicação de uma rinite ou de uma faringite. Por outro lado, habitualmente, a laringite aguda pertence ao quadro clínico de doenças infecciosas, tais como a gripe, o sarampo ou a tosse convulsa, podendo igualmente surgir ao longo de um processo inflamatório generalizado das vias aéreas inferiores (laringotraqueobronquite).

Existem alguns factores que favorecem a infecção da faringe, na medida em que provocam uma redução nos seus mecanismos de defesa, como é o caso da exposição ao frio ou das alterações bruscas de temperatura - daí que a doença seja mais frequente no Inverno. Existem outros factores que, para além de originarem uma certa predisposição para a doença, podem provocar uma inflamação da mucosa que reveste o canal, incluindo as cordas vocais presentes no seu interior: o tabagismo, o consumo excessivo de álcool, respirar ar repleto de fumo, pó ou vapores irritantes, o abuso ou a má utilização da voz. É por isso que os fumadores, os alcoólicos, as pessoas que têm uma actividade laboral que os obriga a forçar a voz em excesso (como os professores ou os vendedores ambulantes) e os trabalhadores em atmosferas contaminadas sem a devida protecção têm uma certa predisposição para sofrerem de episódios repetidos de laringite aguda.

Manifestações e evolução. Inicialmente, a doença costuma manifestar-se com os sintomas típicos de uma infecção das vias aéreas superiores: dor de cabeça, cansaço, dores musculares e febre, por vezes associados a secreções nasais próprias de uma rinite ou a uma dor de garganta presente na faringite. A inflamação da laringe provoca uma súbita alteração da voz, com a típica rouquidão ou até com afonia, além de uma sensação de aspereza na garganta, que produz rouquidão e tosse seca.

Os sintomas descritos mantêm-se ou acentuam-se durante alguns dias, mas acabam rapidamente por ceder, enquanto a tosse seca transforma-se em tosse produtiva para desaparecer completamente ao fim de uma semana ou dez dias após o seu início.

Diagnóstico e tratamento. O médico não costuma ter dificuldade em diagnosticar uma laringite aguda, pois basta efectuar uma laringoscopia indirecta, através da introdução de um pequeno espelho na garganta do paciente, para visualizar o reflexo da tumefacção da mucosa laríngea no mesmo. Somente em alguns casos raros é necessário solicitar outros exames complementares, tais como um escuto radiológico ou um exame directo e cultural da expectoração para identificar o microrganismo responsável pela infecção.

O tratamento baseia-se em manter a voz em repouso durante alguns dias e na eliminação de qualquer factor irritante (tabaco, álcool, atmosferas contaminadas), aos quais se pode adicionar a administração de medicamentos anti-inflamatórios e anti-sépticos, se for necessário, através de aerossóis ou gargarejos, fármacos antitússicos (contra a tosse), antipiréticos (contra a febre) e antibióticos, embora estes últimos apenas sejam prescritos em caso de infecção bacteriana. Outras medidas muito úteis para reduzir os problemas ao longo do tratamento da doença são a prática de inalações de vapor de água e uma abundante ingestão de líquidos.

Epiglotite aguda

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A epiglotite aguda corresponde a uma inflamação súbita da mucosa que reveste a epiglote, a cartilagem encarregue de cobrir a entrada do canal durante a deglutição. Trata-se de uma doença potencialmente grave, pois a inflamação da epiglote pode obstruir mecanicamente a via aérea e provocar grande dificuldade em respirar, ou seja, um quadro de insuficiência respiratória aguda que pode determinar uma asfixia fatal, caso não se proceda ao seu tratamento adequado. A doença costuma afectar as crianças entre os 2 e os 5 anos, sendo rara após os 10 anos de idade. Geralmente, é provocada por uma infecção bacteriana iniciada noutra parte do tracto respiratório (rinite, faringite), sendo o Haemophilus influenzae o microorganismo responsável pela maioria dos casos.

Manifestações. Embora a epiglotite aguda seja, maioritariamente, uma complicação de uma rinite ou de uma faringite, o seu início costuma ser súbito e fulminante, antes de se evidenciarem os sintomas da doença nasal ou faríngea. A criança que até esse momento se encontrava bem é subitamente afectada por dores de garganta, febre elevada, rouquidão e, sobretudo, por uma intensa dificuldade respiratória. A criança não consegue engolir, pois a saliva acumula-se na boca, mostra-se muito nervosa e apresenta sinais evidentes de grande dificuldade na inspiração, com um notório esforço da musculatura respiratória, fácil de detectar pela retracção dos músculos intercostais e supraclaviculares. Caso não se efectue o seu tratamento de urgência, pode-se estabelecer rapidamente uma insuficiência respiratória fatal.

Tratamento. O tratamento deve ser imediatamente iniciado e requer o internamento hospitalar da criança: embora passe pela administração de antibióticos, com vista a combater o microrganismo causador, o mais importante é assegurar a permeabilidade da via aérea até que a inflamação ceda. Regra geral, procede-se a uma intubação nasotraqueal, mediante a introdução de um fino tubo flexível pelo nariz até à traqueia, ainda que também se possa efectuar uma traqueotomia, como alternativa, numa situação de emergência. A inflamação tende a ceder rapidamente e a intubação pode ser retirada ao fim de um ou dois dias; porém, a recuperação completa leva alguns dias, durante os quais é recomendável que a criança permaneça hospitalizada sob vigilância.

Laringite aguda subglótica: crupe

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Esta forma de laringite, que afecta as crianças mais pequenas, especialmente entre os 6 meses e os  3 anos de  idade, costuma ser provocada por uma infecção viral. Caracteriza-se por uma inflamação aguda da mucosa laríngea, predominantemente por baixo das cordas vocais, podendo ocasionalmente alastrar para a traqueia e para os brônquios (laringotraqueobronquite).

Tendo em conta que nas crianças pequenas a laringe é um canal muito mais estreito do que nos adultos, uma inflamação das suas paredes provoca grandes dificuldades à passagem do ar até aos pulmões, podendo obstruí-lo por completo. Trata-se de uma situação muito grave, porque pode originar um quadro de asfixia.

Manifestações. A doença costuma manifestar-se subitamente através de uma intensa dificuldade respiratória nas crianças afectadas por uma infecção das vias respiratórias superiores, sendo normalmente banal. Na maioria dos casos, costuma surgir durante a noite, provocando o despertar da criança, com o aparecimento de uma tosse típica semelhante a um latido, de rouquidão e de uma evidente dificuldade respiratória, que se intensifica durante a inspiração. As inspirações são longas, sendo acompanhadas por um ruído rude e agudo, denominado "estridor laríngeo", com um notório esforço da musculatura respiratória fácil de detectar, sobretudo pelo adejo nasal e pela retracção dos músculos intercostais e supraclaviculares. A doença, que pode ser mais ligeira ou mais grave conforme os casos, persiste entre três a cinco dias, durante os quais parece melhorar durante as manhãs e piorar ao longo das noites. Por vezes, o esforço para respirar esgota a criança, que mostra sinais inequívocos de sofrimento, e a sua respiração torna-se cada vez mais superficial. Caso a inflamação laríngea seja muito intensa, pode impedir a chegada de ar suficiente aos pulmões, o que provoca um défice de oxigenação do sangue, traduzido numa coloração azulada da pele e das mucosas, sobretudo nos lábios e extremidades. Nestes casos, se a situação não for rapidamente solucionada, a criança pode sofrer uma alteração do estado de consciência e entrar em coma, podendo morrer em consequência da asfixia.

Tratamento. Como não se pode prever a evolução da doença, impõe-se uma actuação terapêutica imediata, sempre que a situação necessitar de uma pronta intervenção. É, portanto, necessário levar a criança a um serviço de urgência. Enquanto se aguarda pela ajuda profissional, é fundamental manter um ambiente tranquilo e evitar que a criança chore, pois estará muito assustada e tanto o choro como o nervosismo podem agravar a dificuldade respiratória. Também é conveniente que a criança respire num ambiente húmido (por exemplo, no banho, ao deixar correr a água do duche).

Quando a criança já estiver sob vigilância médica, deve-se recorrer administração de potentes anti-inflamatórios corticosteróides, de modo a diminuir a inflamação laríngea e solucionar a obstrução da passagem de ar para os pulmões. Nos casos ligeiros ou moderados, o tratamento pode efectuar-se na própria casa; contudo, nos casos mais graves, é necessário o internamento hospitalar. Por vezes, a administração de fármacos não é suficiente para assegurar a passagem de ar para os pulmões, o que implica a realização de uma intubação traqueal, ou seja, a introdução através da boca ou do nariz da criança de um tubo plástico flexível que atravessa a laringe até a traqueia. Em alguns casos, a inflamação laríngea é tão grande que é necessário proceder-se a uma traqueostomia, ou seja, a uma incisão na traqueia, através do pescoço, de modo a introduzir directamente uma cânula no seu interior e permitir que o ar aceda aos pulmões. A criança deve permanecer internada, sob constante vigilância, até que a inflamação ceda e se possa retirar o tubo, o que pode levar dois ou três dias.

Laringite crónica

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A laringite crónica corresponde a uma inflamação persistente da mucosa laríngea, às vezes com muitos anos de evolução, normalmente provocada por infecções agudas repetidas. Afecta essencialmente as pessoas que estão em constante exposição a factores irritantes: tabaco, álcool, ambientes repletos de fumo, pó e vapores irritantes, abuso ou má utilização da voz... A inflamação provoca, além de uma tumefacção da mucosa laríngea, uma abundante produção de secreções, factores responsáveis pelas manifestações.

Tipos. Na maioria dos casos, trata-se de uma laringite crónica, na qual o problema apenas se evidencia, sem gerar alterações no epitélio da sucosa laríngea. Todavia, noutros casos, a inflamação crónica provoca uma modificação do dito epitélio, originando outros tipos de doença. De facto, é possível que o epitélio sofra um desenvolvimento exagerado e anómalo, o que caracteriza a laringite crónica hiperplásica. Por vezes, transforma-se num epitélio queratinizado, no qual as suas células produzem queratina, uma proteína dura própria da superfície cutânea ou das unhas; nestas circunstâncias, a doença denomina-se laringite crónica hiperqueratósica. Esta distinção é muito importante, pois considera-se que tanto a laringite crónica hiperplásica como a hiperqueratósica apresentam uma predisposição para o desenvolvimento de um cancro da laringe, enquanto que a laringite crónica raramente sofre malignização.

Manifestações. Seja qual for o seu tipo, a doença provoca sintomas típicos que se manifestam de maneira mais ou menos progressiva: rouquidão persistente, sensação de incómodo na garganta que incita a expectoração e uma tosse seca duradoura. A evolução depende bastante da origem da doença, tendo em conta que o problema se pode prolongar ao longo de  meses  ou anos sem que  o factor  causador seja eliminado, chegando a manter-se de maneira contínua durante toda a vida, caso não se actue de forma eficaz. O principal perigo corresponde ao eventual desenvolvimento de um cancro da laringe.

Tratamento. A medida terapêutica básica corresponde a eliminação do factor causador: deixar de fumar, reduzir o consumo de álcool, evitar o abuso da voz, aprender a controlá-la com a ajuda de um terapeuta da fala e tomar as medidas apropriadas para evitar a exposição a substâncias irritantes presentes na atmosfera do ambiente laboral. Esta é a única forma de solucionar o problema e evitar complicações a longo prazo. O médico pode receitar medicamentos para atenuar os sintomas, mas apenas como medida complementar à eliminação do factor causador.

Informações adicionais

Edema agudo da laringe

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Este tipo de laringite aguda caracteriza-se por uma grande tumefacção da mucosa laríngea, a qual é provocada pelo extravasamento do líquido proveniente dos vasos sanguíneos da submucosa.

Normalmente, está na sua origem uma reacção alérgica, que pode estar associada a outras manifestações alérgicas como, por exemplo, as lesões cutâneas avermelhadas da urticária. Trata-se de uma reacção anómala do sistema imunitário, que produz uma resposta inflamatória exagerada após o contacto com determinadas substâncias inócuas para a população em geral, mas consideradas potencialmente  nocivas nas pessoas  com uma maior sensibilidade. A doença apresenta-se uma a quatro horas após o contacto com o alergénio e provoca uma dificuldade respiratória mais ou menos intensa, assim como dor de garganta. Ainda que a obstrução respiratória seja habitualmente leve e ceda com naturalidade ao fim de algumas horas ou dias, na maioria dos casos, costuma provocar uma insuficiência respiratória aguda que requer um tratamento imediato. A terapêutica baseia-se na administração de medicamentos que bloqueiam a acção dos mediadores químicos da reacção alérgica (anti-histamínicos) e em fármacos anti-inflamatórios potentes (corticosteróides). Além disso, quando a obstrução respiratória é intensa, pode ser necessário proceder-se a uma intubação traqueal, com o objectivo de assegurar a permeabilidade da via aérea até o edema ceder.

Alerta

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Caso um lactente ou criança com menos de 3 anos apresente sinais de dificuldade respiratória  numa  constipação...

(...)  deve-se procurar rapidamente assistência médica. Pode-se tratar de crupe laríngeo, problema grave que exige tratamento imediato

Laringite aguda espasmódica

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Esta forma de laringite, que se caracteriza por uma inflamação difusa da mucosa e uma contracção espasmódica dos músculos da laringe, afecta as crianças entre 1 e 3 anos de idade.

A sua origem ainda não é perfeitamente clara, embora se considere que a inflamação possa ser desencadeada por uma infecção viral e a contracção espasmódica da musculatura laríngea possa ser consequência de uma doença alérgica. Além disso, é possível que também exista uma certa predisposição de factores psicológicos, pois afecta em particular crianças muito inquietas e excitáveis. A doença manifesta-se através de uma súbita crise de dificuldade respiratória, geralmente durante a noite, acordando a criança. A dificuldade respiratória, acompanhada de rouquidão, tosse e ruídos ao respirar, não costuma ser tão intensa como em outras formas de laringite aguda próprias da infância - de qualquer forma, provoca uma grande angústia à criança. A crise costuma ceder espontaneamente ao fim de alguns minutos ou de meia hora, sem originar complicações, mas a rouquidão e a tosse podem persistir durante mais algumas horas. É possível que surjam vários acessos deste tipo durante a mesma noite, podendo igualmente repetir-se, cada vez com menor intensidade, durante três ou quatro dias, para desaparecer de imediato sem deixar grandes sequelas. A sua evolução só é mais grave em alguns casos excepcionais, nos quais é necessário o internamento hospitalar da criança.

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