As miocardiopatias e as miocardites são um grupo de doenças específicas do músculo cardíaco que, embora evoluam sem manifestarem qualquer sintoma, provocam normalmente insuficiências no funcionamento do coração.
Miocardiopatia dilatada
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Esta doença caracteriza-se pela grande dilatação das cavidades ventriculares e pela progressiva debilidade do músculo cardíaco, o que afecta, a longo prazo, o funcionamento global do coração.A doença é provocada pelo depósito de fibras de colagénio no próprio músculo cardíaco, o que diminui a sua força contráctil. Na maioria dos casos, não se conhece a causa, mas sabe-se que existem vários factores ou circunstâncias que poderão precipitar o seu aparecimento ou o seu desenvolvimento como, por exemplo, uma certa predisposição genética e situações especiais, tais como a gravidez, o puerpério (o período após o parto), entre outras.Normalmente, o processo evolui sem qualquer sintoma até que, ao fim de vários meses ou alguns anos, se começam a evidenciar os sintomas característicos da insuficiência cardíaca, ou seja, sensação de falta de ar, aumento de peso sem causa aparente, inchaço dos membros inferiores, dores na região superior do abdómen, palpitações e, nas fases mais avançadas, crises de angina de peito.O prognóstico é variável. Em cerca de metade dos casos, a evolução da doença pode ser travada através da terapêutica adequada como, por exemplo, repouso, alimentação sem sal, abstenção de tabaco, café e bebidas alcoólicas e administração de medicamentos para tratar a insuficiência cardíaca. Nos casos mais graves e sempre que a terapêutica farmacológica não for suficiente, a função cardíaca é afectada de tal forma que a única solução é o transplante de coração.
Miocardiopatia hipertrófica
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Esta doença caracteriza-se pela desorganização das células do músculo cardíaco, pelo seu irregular espessamento e pelo endurecimento das paredes dos ventrículos, o que provoca o aumento do tamanho do coração, daí resultando complicações como a insuficiência cardíaca.Na maioria dos casos, a doença deve-se a uma alteração genética que, por vezes, se transmite de pais para filhos. Nestes casos, a doença costuma apresentar-se entre os 20 e os 40 anos de idade. A miocardiopatia hipertrófica também se pode desenvolver, embora em situações raras, em consequência de outras doenças que indirectamente afectam o tecido miocárdico, como é o caso da insuficiência renal e de determinadas doenças neurológicas pouco comuns, como a ataxia de Friedreich e a neurofibromatose.Por vezes, a doença não manifesta grandes sintomas. De qualquer forma, o mais comum é que mais cedo ou mais tarde surjam as manifestações características da insuficiência cardíaca, como a sensação de falta de ar, a debilidade muscular, as náuseas e até episódios passageiros de perda de consciência. Em fases mais avançadas, caso a insuficiência cardíaca progrida, são igualmente frequentes outros sintomas e algumas complicações, como arritmias, palpitações, angina de peito, enfarte agudo do miocárdio, edema pulmonar agudo, choque e paragem cardíaca.O tratamento, que tem como objectivo aliviar os sintomas, travar a evolução da insuficiência cardíaca e prevenir as complicações, consiste basicamente em repouso, alimentação sem sal e na administração de medicamentos que melhorem a função cardíaca (digitálicos) e antiarrítmicos. Quando estas medidas não são suficientes para proporcionar um alívio sintomático, pode-se ainda recorrer a uma intervenção cirúrgica, que consiste na extracção de parte do miocárdio hipertrofiado, manobra com uma taxa de sucesso na ordem dos 90%.
Miocardiopatia restritiva
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Nesta doença, a menos frequente das miocardiopatias, as paredes dos ventrículos perdem a sua elasticidade e a sua capacidade de dilatação devido ao depósito de certas substâncias que endurecem o tecido muscular.A miocardiopatia restritiva afecta normalmente pessoas que, ao sofrerem de certas doenças auto-imunes - como o lúpus eritematoso disseminado e a artrite reumatóide -, desenvolvem uma complicação conhecida como amiloidose, a qual consiste no depósito de uma substância denominada "amilóide" no miocárdio e noutros tecidos. A doença pode igualmente ser provocada, ainda que com menor frequência, pelo depósito de outro tipo de substâncias, como acontece em casos de hemossiderose (depósitos de hemossiderina, um pigmento que contém ferro) e de sarcoidose (uma doença caracterizada pela proliferação de tecido granulomatoso em vários órgãos).A doença costuma manifestar-se através de uma insuficiência cardíaca progressiva e, muitas vezes, evolui para uma embolia pulmonar, edema pulmonar ou choque.O tratamento tem como objectivo aliviar os sintomas e travar a evolução da insuficiência cardíaca. De qualquer forma, quando as lesões se concentram numa zona circunscrita do miocárdio, é possível reparar o tecido danificado através da cirurgia. Normalmente, o oportuno tratamento da causa melhora significativamente o prognóstico.
Informações adicionais
O médico responde
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O médico disse a um vizinho meu que tem o coração inflamado e que por isso deveria deixar de tomar bebidas alcoólicas, tendo em conta que, se não o fizer, existem grandes possibilidades de a doença se agravar e de ser necessário um transplante de coração. Será possível que apenas com o deixar de beber se possa evitar um transplante cardíaco?
O mais provável é que o seu vizinho sofra de uma miocardiopatia dilatada, uma doença em que as cavidades cardíacas estão muito mais dilatadas do que o normal. Esta doença apresenta-se em pessoas com amplos antecedentes de alcoolismo e pode provocar lesões graves e irreversíveis no músculo cardíaco, as quais, por vezes, apenas podem ser solucionadas através de um transplante de coração. De facto, uma das indicações mais frequentes do transplante deste órgão é a miocardiopatia dilatada. Felizmente, o prognóstico melhora consideravelmente quando deixam de beber, por isso o seu vizinho devia seguir o conselho do médico
Miocardite
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A miocardite é uma inflamação do miocárdio que pode surgir como consequência de uma infecção.
Os microorganismos que com maior frequência provocam esta doença são alguns vírus e determinados parasitas, em especial o Trypanosoma cruzi, agente causador de uma doença comum na América do Sul, conhecida como doença de Chagas. Todavia, a miocardite também pode aparecer como consequência de várias doenças auto-imunes, como o lúpus eritematoso disseminado e a artrite reumatóide.
A miocardite viral é uma doença relativamente frequente, que muitas vezes não gera manifestações importantes e diminui espontaneamente de intensidade. De qualquer forma, nos casos mais graves, sempre que se evidenciem manifestações próprias de uma insuficiência cardíaca incipiente, como sensação de falta de ar e dificuldade respiratória, recomenda-se repouso e administração de medicamentos anti-inflamatórios.
No caso da doença de Chagas e nas doenças auto-imunes, a doença pode permanecer assintomática durante algum tempo, mas normalmente o processo inflamatório persiste e evolui ao longo de muitos anos até provocar uma miocardiopatia dilatada.
Incidência
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As miocardiopatias costumam afectar pessoas com antecedentes familiares neste tipo de doenças, em alcoólicos e em indivíduos que sofram de outras doenças auto-imunes ou metabólicas.