Transplante cardíaco

A substituição de um coração doente por outro saudável, proveniente de um dador recém-falecido, é um recurso terapêutico excepcional que permite salvar a vida de pacientes com cardiopatias avançadas que, de outro modo, estariam condenados à morte.

Aplicações

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A possibilidade de se fazer um transplante cardíaco surge como alternativa terapêutica em pacientes que sofrem de doenças cardíacas graves, progressivas e irremediáveis, desde que não padeçam simultaneamente de outras doenças, agudas ou crónicas, que limitem a sua esperança média de vida. Geralmente, apenas é proposto aos pacientes que sofrem de doenças do coração de prognóstico muito grave, numa fase evolutiva muito avançada e quando se determina que de outra forma a sua morte será inevitável num curto período de tempo, no máximo poucos meses.

Na verdade, os critérios para seleccionar os candidatos são muito rigorosos, tanto pelas limitaçôes existentes no que se refere à existência de órgãos para transplantar, mas também porque se trata de uma operação muito comprometedora, pois um eventual fracasso (por exemplo, resultante de uma reacção de rejeição do órgão por parte do organismo receptor) deixaria o paciente numa situação muito delicada que apenas poderia ser solucionada com um novo transplante. Por tudo isto, os médicos, após constatarem se o paciente cumpre todos os requisitos para a sua inclusão num programa de transplante cardíaco, limitam-se a apresentar essa possibilidade, pois a decisão final pertence ao próprio paciente ou aos pais quando se trata de uma criança.

Procedimento

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Em primeiro lugar, é preciso contar com um coração saudável para transplantar, uma questão que coloca várias limitações à prática de transplantes. De facto, em primeiro lugar, o órgão deve proceder de um dador em estado de "morte cerebral", ou seja, em coma irreversível e após se certificar que apresenta lesões cerebrais irrecuperáveis, que esteja ligado a um ventilador artificial e que os seus batimentos cardíacos apenas sejam mantidos através de meios artificiais. Existem, naturalmente, normas legais estritas que regulam estas questões, determinando as regras que devem ser consideradas para se determinar que já não há hipóteses de recuperação da actividade cerebral do dador, mesmo que ainda seja possível manter temporária e artificialmente as suas funções respiratória e cardíaca. Além disso, deve-se comprovar, através dos devidos exames, o grau de compatibilidade dos tecidos orgânicos do potencial dador e do possível receptor, um requisito essencial para prevenir uma grave reacção de rejeição ao órgão transplantado. Por último, o tempo que decorre entre a extracção do órgão do dador e a sua implantação no receptor deve ser limitado, já que o tecido miocárdico é muito sensível à falta de irrigação sanguínea e pode deteriorar-se com rapidez. A operação, propriamente dita, é tão complexa como qualquer outra grande intervenção cirúrgica cardíaca. Antes da intervenção cirúrgica, deve-se ligar ao receptor um aparelho de circulação extracorporal que permita, enquanto se procede à remoção do coração doente e à implantação do saudável, manter o adequado fornecimento de oxigénio aos tecidos. De acordo com a técnica cirúrgica mais utilizada, deve-se remover o coração do receptor deixando intacta a parte superior das aurículas, para que estas permaneçam ligadas aos vasos que nelas desaguam, as veias cavas e as veias pulmonares. A seguir, insere-se o novo coração, complementando a parte das aurículas do coração doente, ligando-o à aorta e à artéria pulmonar. Após as suturas, pára-se a transmissão de sangue para a máquina e aplicam-se estímulos eléctricos ao coração transplantado para que comece a funcionar com normalidade. No total, não considerando a preparação e o posterior encerramento da parede torácica, o transplante dura no máximo pouco mais de uma hora. Posteriormente, procede-se a um tratamento intensivo com imunossupressores, ou seja, medicamentos que inibem o sistema imunitário, limitando assim a possibilidade de rejeição, isto é, o ataque das defesas do organismo contra o órgão estranho, principal factor que provoca o fracasso deste tipo de transplante.

Informações adicionais

Coração artificial

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Denomina-se de "coração artificial" o dispositivo mecânico que se implanta no ser humano para se encarregar de bombear o sangue para o aparelho circulatório, substituindo o coração. Em finais de 1982, após diversas experiências em animais, realizou-se a primeira tentativa num ser humano. Barney Clark, um dentista de 61 anos afectado por uma doença cardíaca mortal, recebeu o implante de uma prótese de plástico e metal baptizada de "Jarvik 7", cujo criador, Robert Jarvik, já tinha construído previamente outros seis protótipos. O coração artificial permitiu a Clark sobreviver 112 dias, abrindo as portas à esperança de uma nova fórmula para o tratamento de graves problemas cardíacos. De qualquer forma, embora desde essa data se utilizem modelos muito mais avançados, a utilização destas próteses apresenta inconvenientes que não devem ser menosprezados. Mesmo assim, actualmente, considera-se que a implantação de um coração artificial deve ser utilizada apenas como recurso temporário, de modo a manter com vida o paciente enquanto espera por um órgão para efectuar o transplante.

Breve história do transplante cardíaco

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O primeiro transplante de coração humano realizou-se a 3 de Dezembro de 1967, na Cidade do Cabo, na África do Sul, efectuado pela equipa do Dr. Christian Barnard a um comerciante de 54 anos, Louis Washkansky, que recebeu o coração de uma mulher de 25 anos mortalmente ferida, horas antes, num acidente de viação. Este transplante provocou uma verdadeira revolução, não só no meio científico, já que a notícia propagou-se em poucos dias por todo o mundo... O transplante foi considerado um êxito em toda a linha, apesar de Washkansky ter falecido ao fim de três semanas devido a uma complicação infecciosa pulmonar. No entanto, tinha-se dado o grande passo, pois nos doze meses seguintes efectuaram-se cerca de cem novos transplantes cardíacos; embora a grande maioria apenas permitisse a curta sobrevivência dos receptores, alguns obtiveram excelentes resultados, como foi o caso de Betty Annick, transplantada em Outubro de 1968, que faleceu em Março de 1977, quase nove anos depois, e Emmanuel Vitria, transplantado em Novembro de 1968, que faleceu em Maio de 1987, após sobreviver nada menos que dezoito anos e meio. Um recorde que, apesar da curta história do transplante, já foi actualmente superado...

O coração do babuíno

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Denomina-se de "xenotransplante” a substituição de um órgão de um indivíduo de uma espécie por outro de outra espécie. Foram várias as tentativas para se implantar num ser humano um coração extraído de um animal, tendo em conta que, hoje em dia, o "xenotransplante" é visto como uma fórmula possível para solucionar a escassez de órgãos para transplante. Ao longo da década de 70, realizaram-se várias tentativas deste tipo com corações de porcos e chimpanzés, mas a que alcançou mais notoriedade foi a efectuada, em Outubro de 1984, numa criança nascida com uma cardiopatia congénita de evolução mortal, conhecida por todo o mundo como "Baby Fae", que recebeu um coração de babuíno. Esta intervenção causou grande polémica, não só do ponto de vista científico, mas também no que diz respeito a questões de índole ética. No entanto, do ponto de vista estri-tamente científico, e ignorando determinados problemas (como a rejeição aguda), o facto de se poder recorrer a órgãos provenientes de animais dá a possibilidade de se obter uma fonte praticamente inesgotável de órgãos para transplante...

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