Quem já não ouviu alguém dizer frases como estas:
- “Deixa o bebé dormir, comer é meio sustento”;
- “Não se pode dar banho depois de o bebé comer”;
- “O bebé tem as mãos geladas, está mal agasalhado”;
- “Não podes estar sempre com ele ao colo que fica com manha”.
Apesar de todo o amor e carinho que as nossas mães, sogras/avós, tias, amigas e outras mulheres (sim, são sobretudo as mulheres) possam ter por nós e pelos nossos rebentos, mesmo tendo sido mães e depois de terem criado uma “equipa de futebol”, os conselhos que muitas vezes insistem em dar, podem levar uma recém-mamã à loucura, sobretudo no primeiro mês e em especial nas mães de “primeira viagem” – o primeiro filho põe-nos aterrorizadas com o “universo de novas coisas” que envolve ter um bebé. Entre fraldas, roupas, banhos, mamadas e biberões, não é preciso reforçar a sensação muitas vezes já interiorizada de incompetência total para cuidar do filho. Sim, é isto que muitas sentem (erradamente) quando chegam a casa pela primeira vez com o bebé nos braços e se vêm sem a ajuda preciosa e reconfortante dos profissionais de saúde. Temos imensas dúvidas e duvidamos das nossas capacidades a todo o momento, mas se é o bem-estar do nosso filho que está acima de tudo, então não há comportamentos errados. Há pormenores que se vão melhorando, mas acreditem sempre que estão a fazer um bom trabalho a tratar da vossa criança.
Hoje partilho convosco algumas das orientações que gosto de dar às futuras mamãs e papás.
Ora aqui há normalmente um dilema enorme. Toda a gente quer conhecer o rebento e às vezes a excitação faz com que se “perca” algum bom senso, e as visitas aparecem no hospital ou em casa de forma inesperada.
Costumo aconselhar os pais a estabelecer algumas regras em relação às visitas ainda durante a gravidez para que depois não haja percalços, informando familiares e amigos do que desejam.
Ao local de nascimento basta a visita dos familiares mais próximos – o Pai (claro e pelo máximo de tempo possível), os irmãos do bebé, os avós e eventualmente os irmãos dos pais; e não devem ir todos ao mesmo tempo – 2 visitas de cada vez já são suficientes (excluindo-se desta contagem o pai e irmãos da criança, por motivos óbvios).
A mãe vai estar exausta da gravidez e do parto (ainda mais se for uma cesariana), precisando de paz e sossego para “namorar” o seu rebento, para dar de mamar sem perturbações e para descansar quando quiser. Por isso, no local de nascimento só visitas que permitam à recém-mamã sentir-se confortável; todos os outros são “ruído” e não são necessários no imediato – podem ir visitar o bebé a casa e de preferência após o primeiro mês de vida, sempre com “marcação” prévia para que não perturbem o sossego da mãe e do bebé. Ter a casa cheia de gente, mesmo que com amigos, pode ser um fator de enorme stresse para a mãe e para a criança. E não esquecer de lavar sempre as mãos antes de pegar no bebé, especialmente em recém-nascidos. Outra ideia a passar às visitas é que se o bebé dorme, não se deve pegar nem tocar nele, e muito menos acorda-lo (a não ser que esteja na hora de comer, claro).
Este é talvez o único ponto em que sou algo fundamentalista, não na “loucura” do aleitamento materno a todo o custo – ele é desejável mas nem sempre se consegue e é sempre uma opção da mãe que todos têm de respeitar não condenando quando não se atinge, seja porque motivo for; sou fundamentalista no aleitamento a tempo e horas.
Não é raro no início, os bebés fazerem “baixas de açúcar” (hipoglicemias) que podem ser graves e potencialmente fatais. Por isso, é essencial um cumprimento rigoroso do intervalo das mamadas – e no primeiro mês de vida o bébé deve comer no máximo a cada 3h, seja dia ou noite. Pode mamar de hora a hora ou a cada duas horas, mas nunca para lá das 3h. Se for aleitamento materno começamos a contagem das 3h no início da mamada (o que é terrível porque às vezes estão quase 1h a mamar pois são pequenos e adormecem muitas vezes e a sucção ainda precisa de treino); se for leite adaptado (“da lata”), então contamos 3h do fim do biberão. Mas se em algum momento temos dúvidas se o bebé já está com fome, mesmo não tendo feito as 3h, há que lhe dar de mamar. E quando bebé está a dormir? Fácil, acorda-se ou dá-se de mamar com ele a dormir (muitos bebés mamam mesmo a dormir). Isto garante não só o bom desenvolvimento do bebé, como previne as hipoglicemias e ainda ajuda muito no estabelecimento de uma boa lactação materna se for o caso. Mas é duro, quase desumano para a mulher, pois provoca uma privação de sono imensa. Daí que se diga que “quando o bebé dorme, a mãe também dorme” e não esquecer que os maiores estímulos para a lactação são estar com o bebé e cuidar dele e, claro, amamentar (a sucção pelo bebé é um enorme estímulo, especialmente de noite).
Costumo recomendar após o primeiro mês e até às 6 semanas, passar as mamadas à noite para cada 4h mantendo sempre o intervalo de 3h entre as mamadas durante o dia. A partir das 6 semanas, passamos para as 5h e aos 2 meses para as 6h (isto desde que o bebé não acorde antes para mamar). A partir dos 3 meses o bebé habitualmente já aguenta bem as 8h de sono noturno sem acordar para mamar, mas cada bebé é único e isto não é lei. Relembro, que como para os adultos, de dia a criança deve comer a cada 3h. Isto permite “acumular” energia para que depois aguente a noite sem comer.
Este é um mito. Nada impede que se leve a criança a dar um belo passeio, seja verão ou inverno, desde que ela esteja agasalhada de forma adequada ao tempo na rua. Aliás, é altamente benéfico para mãe sair de casa, desde que assim o deseje.
Esta é uma capacidade com a qual eles não nascem. Os bebés passam cerca de 40 semanas num local quentinho, macio, confortável e onde não há um minuto de silêncio. De repente, entram num mundo de luz brilhante, mais barulhento e onde se sentem demasiado à vontade, e eles só conhecem um espaço apertadinho. Portanto, nos primeiros 3-4 meses é natural que eles acalmem ao colo, sobretudo da mãe ou do pai. O toque é para eles calmante e reconfortante, transmite-lhes segurança. Nos primeiros 3 meses gostam de se sentir mais aconchegados estando mais confortáveis se “amparados” – daí o sucesso do swaddle e dos slings que mimetizam essa sensação. Algo que pode ajudar os bébés a terem também um sono mais tranquilo no início, é manter algum barulho de fundo no quarto – o som do mar ou simuladores do ruído intrauterino, já que para eles o silencio é estranho.
É quando o pai e a mãe quiserem. Não tem de ter horário fixo. Pode ser de manhã, à tarde ou à noite. A hora em que for mais conveniente para os pais, é a hora certa. O importante é que o bébé não vá na hora de mamar para o banho pois vai chorar porque tem fome. Cerca de 30 minutos depois de comer não há problema nenhum em dar banho ao bébé – desde que não apanhe frio nem que a água esteja demasiado quente, não há riscos – única exceção poderão ser os “bolsadores frequentes” onde a manipulação do banho pode facilitar a regurgitação do leite. Costumo recomendar banhos rápidos em água tépida (≈37ºC) para que o bébé se habitue a que o banho não é recreio pois a água seca e danifica a pele facilitando algumas irritações cutâneas; nem é preciso dar banho todos os dias – dar em dias alternados é mais do que suficientes até ao ano de idade.
Há sempre dúvidas na quantidade de roupa que devemos vestir a um bebé. As avós acham sempre que os netos têm pouca roupa e gostam de juntar “mais uma mantinha”.
Colocar mais uma camada de roupa ao bebé do que aquela que mãe tem, é suficiente. Na dúvida, podemos colocar a mão atrás do pescoço do bebé, logo abaixo do “colarinho” e sentir se ele está demasiado quente ou não – se estiver a suar por exemplo é sinal de que está demasiado quente. As mãos e os pés frios são uma característica própria dos recém-nascidos e não servem para monitorizar se eles têm frio mas o contrário pode ser indicativo de febre. Não esquecer que os “ovos” e cadeirinhas de transporte tanto dos carrinhos de passeio quanto dos automóveis, são autênticos “fornos” e fazem as crianças transpirarem muito facilmente.
Toda a gente quer ajudar com o bebé, o que é óptimo. Mas na realidade, tomar conta dele deve ser tarefa da mãe (e do pai). Assim, se querem ajudar há um sem número de tarefas que podem fazer para aliviar a mãe – levar refeições, pôr uma máquina de roupa a lavar, dar um “jeito” na casa ou brincar com o irmão ou irmã do bebé. Tudo isto é uma ajuda enorme e liberta a mãe para o que realmente é mais importante no momento – tratar do bebé e descansar no entretanto.
Espero que estas dicas vos possam ajudar, e sobretudo lembrem-se que no início tudo é confuso e a quantidade de informação com que tentamos lidar é avassaladora, mas a pouco e pouco, tudo melhora, percebemos qual o ritmo do nosso bebé e o nosso e ajustamo-nos. Com amor e carinho, eles não só crescem como florescem aos nossos olhos.
Até breve,
Brenda, Mãe de dois Príncipes e Médica de Família
*Artigo de opinião de setembro de 2015 publicado no Blog - The Cute Mommy.