Convulsão Febril – Um medo com nome

As convulsões febris são assustadoras para qualquer um. Pessoalmente, só o pensamento de que pudesse acontecer a um dos meus sempre foi assustador!  E se o é para mim, imagino que o seja também para os outros. Tenho amigos próximos que já tiveram a experiência e o pânico da família é tremendo, tal como o receio de outros cuidadores, como os educadores, quando têm uma criança com estes antecedentes a seu cargo.

Assim, desde já tenho de destacar que as convulsões febris são benignas, não causando habitualmente lesão cerebral ou atraso mental. No entanto, sabe-se que cerca de 2,5% das crianças com crises recorrentes vão desenvolver epilepsia no futuro, sendo estes casos mais frequentes quando há um atraso no desenvolvimento, história familiar de epilepsia, crises convulsivas prolongadas (mais de 15 minutos de duração) ou convulsões que afectam só um lado do corpo.



Mas afinal, o que é a convulsão febril?

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Bem, como o nome faz adivinhar, a convulsão febril ocorre numa criança saudável aquando da subida rápida da temperatura corporal no contexto de uma doença febril que se inicia. Por isso, ocorrem habitualmente no 1º dia de febre.

A convulsão febril é habitualmente generalizada, manifestando-se de várias formas: com movimentos bruscos/espasmódicos dos braços e pernas (sacudidelas ou tremores), rigidez ou flacidez do corpo, ausência total de movimentos, perda de consciência, “revirar” dos olhos e ausência de resposta a estímulos externos (como o toque ou resposta ao nome); pode ocorrer perda involuntária do controlo dos esfincteres com micção e/ou defecação involuntárias.

Após a crise, que dura habitualmente menos de 5 minutos, a criança ficará “mole” e com sono, que é próprio desta situação, pelo que se deve respeitar este período após a convulsão, denominado “estado pós-ictal”.

É importante dizer que a convulsão febril pode ocorrer sem que nos tenhamos apercebido que a criança está a começar a ter febre – o nosso organismo inicia processos que levam à subida da temperatura corporal mas estes não são imediatos, sendo frequente a convulsão ocorrer ainda com uma temperatura pouco elevada.

As convulsões febris relacionam-se com a idade, ou se quiserem, com a imaturidade do cérebro para lidar com algumas alterações que levam a que ocorra febre, tendendo a desaparecer com o crescimento/desenvolvimento da criança. No entanto, continuamos sem saber exactamente a causa que leva a que algumas crianças as desenvolvam.

Este “mal” atinge cerca de 4% de todas as crianças (1 em cada 20 crianças), sendo mais frequente emcrianças entre os 3 meses e os 5/6 anos de idade e em crianças com história familiar de convulsões febris – se o pai ou a mãe tiveram convulsões febris, o risco é 4 vezes superior ao da população em geral.

Como se previne?

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Não se previne… Nem a primeira convulsão febril nem a sua recorrência (excepto em casos extremos e muito particulares). Assim, não está indicada medicação preventiva de qualquer tipo. O mais importante é estarmos atentos aos primeiros sinais de doença e controlar a febre. Os pais devem ficar tranquilos já que as convulsões febris (como já foi dito) são beningas, e de um modo geral não causam problemas a longo prazo.

Então, o que fazer quando o nosso filho/a tem uma?

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As 3 regras de ouro são não entrar em pânico, não colocar nada na boca da criança e não tentar imobilizar a criança.

Com calma, devemos deitar a criança num local com espaço e sem objectos onde ela se possa magoar. Enquanto ela tiver a convulsão nem sempre é fácil colocá-la de lado, mas é esta a posição a adoptar pois facilita a respiração e minimiza o risco de aspiração em caso de vómito. Olhar para a criança é fundamental para que possam depois descrever os eventos ao médico e olhar para o relógio, para saber quanto tempo dura a crise.

Sendo uma convulsão febril, interessa baixar a temperatura pelo que despir a criança e usar paracetamol (vulgo Ben-u-ron®) em supositório e aplicar, se possível, toalhas molhadas em água tépida na testa, axilas e virilhas.

Nos casos em que já houve uma convulsão antes, os pais já estão prevenidos e costumam ter clísteres de diazepam (Stezolid®), um medicamento que se usa para parar a convulsão se esta durar 5 minutos ou mais, de aplicação rectal, sendo a dose variável com o peso da criança. Reforço, que não se coloca nada na boca da criança, nem medicação nem água!

Quando ir ao médico?

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Na primeira vez que há uma convulsão febril, a criança deve ser vista por um médico logo que possível, pois é importante confirmar o diagnostico e excluir situações mais graves; além disso, os pais vão estar mais ou menos em pânico e é preciso esclarecer dúvidas e informar como agir da próxima vez, porque pode voltar a acontecer.

No entanto, se não for a primeira crise da criança, se esta durar menos de 10 minutos e se após a mesma a criança ficar bem, como “ela própria”, então uma consulta com o médico assistente a curto prazo é habitualmente suficiente para avaliação da doença febril.

Não se preocupe se o médico não fizer exames.

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Como já dito anteriormente, a convulsão febril é na maioria dos casos benigna e muitas vezes, após a avaliação, o médico verifica que não há necessidade de cuidados especiais além das habituais medidas de controlo da febre e vigilância da doença em causa. Assim, não há lugar, por rotina, a exames mais elaborados como electroencefalograma ou a tomografia axial computorizada.

As convulsões voltam quando voltar a febre?

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Infelizmente, a recorrência da convulsão febril acontece em 1/3 das crianças saudáveis e não somos capazes de prevêr quando ou em quem isto vai acontecer. Sabemos apenas que o risco de recorrência é maior nos primeiros 12 meses após a primeira crise, quando a primeira convulsão ocorre antes dos 12 meses de idade, quando a convulsão surge com febre baixa e quando há história familiar de convulsões febris.

Sinais de alarme

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Há alguns sinais que nos devem fazer levar de imediato a criança a um serviço de urgência pediátrico:

Convulsão prolongada – mais de 10 minutos;

Convulsão com movimentos só de um lado do corpo ou se após a crise a criança só mexer um lado do corpo (paralisia) ou se os movimentos são diferentes da convulsão anterior;

Quando a criança não acorda completamente 30 minutos após a crise ou se fica muito prostrada (abatida, “mole”), com gemido e/ou sonolência excessiva;

Se a criança ficar com dificuldades em falar que não tinha antes;

Se houver mais de uma crise no mesmo dia;

Se a febre não baixar apesar das medidas tomadas;

Se tiver uma convulsão sem febre – porque não é uma convulsão febril.

Deixo-vos um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=sgucBed_kig) porque “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Espero que vos seja útil.

Até breve,

Brenda, mãe de dois Princípes e Médica de Família.

*Artigo de opinião de agosto de 2015 no Blog - The Cute Mommy.

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